Urariano Mota: A morte e a vida de Gabriel García Márquez
Em sua coluna semanal, Prosa, Poesia e Política, o jornalista e escritor pernambucano, Urariano Mota faz uma crônica sobre a vida de um dos principais ícones da literatura latina e mundial que faleceu no último dia 17 de abril. “Da morte da García Márquez prefiro falar da sua vida, digo melhor, prefiro falar das lições de Gabriel García Márquez”, disse.
Por Ramon de Castro, para Rádio Vermelho
Publicado 25/04/2014 16:02
“As palavras, a frase, a narração, o modo de contar dele nos ensinaram a ler, escrever e contar o mundo. Já havíamos visto isso, de modo fundamental, em Cervantes, no Padre Vieira, em Machado de Assis. “Isso” quer dizer, amigos: narrar, contar uma história, não é dizer, não é o mesmo que falar. Narrar é retirar da realidade a mesma frase que encarna, que concretiza, que torna imorredoura a sombra, que antes era vaga ou apenas entrevista. Narrar é dar a forma ao que antes não tinha forma, somente pistas ou traços na intuição. E nos deu a seguinte certeza: Gabriel García Márquez é o Cervantes do século XX. Um criador absoluto. O cara que devolveu a autoestima dos latino-americanos.”, falou Urariano.
“Nos últimos dias, na imprensa, o geral dos obituários e ‘críticos literários’ foi reduzir o valor imenso, diria até, quase insuperável de Gabriel García Márquez. A bola já foi lançada, o sino já tocou e as trombetas já soaram: García Márquez era ‘esquerdista’, ou ‘amigo do Fidel Castro’”, disse Mota. “Na sua adesão ao socialismo estava um humanismo luminoso, aquele que o fez amar as pessoas do povo, o seu lugar, a sua terra, o seu barro fundador.”, completou.
“Com a sua morte, o consolo que temos é saber que os seus livros venderam bem mais depois do seu falecimento. Os seus livros, que andavam meio parados, se esgotam. Isso é claro, depois daquela explosão de estrelas no espaço do universo, daquele big bang chamado ‘Cem anos de solidão’. Isso nos consola e nos conforta: a sua morte fez nascerem pessoas para o gozo da literatura. Essa é a glória que ele não quis. Mas as circunstâncias do mercado lhe dão, talvez sem saberem que a literatura é um protesto, revolta e grito contra o mercado.”, contou o escritor.
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