Israel cancela reunião com palestinos e bombardeia Faixa de Gaza
Logo após o anúncio de um acordo de reconciliação entre os palestinos, na manhã desta terça-feira (23), o governo israelense reagiu: cancelou uma reunião marcada para o mesmo dia, entre a sua delegação diplomática e a da Autoridade Palestina. Nos últimos dias, a tentativa de Israel de barrar a reconciliação palestina incluiu advertências e ataques aéreos à Faixa de Gaza, também registrados nesta terça, quando foram relatados cerca de 10 feridos.
Publicado 23/04/2014 16:41
A suspensão das negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), órgão de autogoverno dos palestinos, tem dado repercussões certamente inesperadas para o governo israelense do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cujo posicionamento frente à diplomacia é exponencialmente negativo.
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Nesta terça, em reação ao acordo assinado entre os partidos políticos palestinos confrontados há sete anos (com o islâmico Hamas governando a Faixa de Gaza e a frente na Organização para a Libertação da Palestina no governo da Cisjordânia), Israel decidiu cancelar a reunião prevista para a retomada das negociações, que já chegam ao prazo final, 29 de abril.
Sua resposta também se coloca contra as declarações veiculadas pela mídia local, nas últimas semanas, sobre a disposição da ANP em renovar o processo de diálogos com Israel, cumpridos alguns pontos centrais, como o compromisso com as discussões para a demarcação das fronteiras e a libertação de um último grupo de prisioneiros, conforme acordado anteriormente, mas não cumprido pelas autoridades israelenses.
Embora a extensão do prazo das negociações com Israel pareça incompreensível para alguns observadores, que enxergam no chamado “processo de paz” uma estratégia israelense e estadunidense para o prolongamento da ocupação militar de Israel sobre a Palestina, uma pesquisa de opinião divulgada pela Palestinian News Network conclui que 41,8% dos palestinos entrevistados apoia a opção.
A ANP já divulgou suas condições para a extensão das conversações, retomadas em julho do ano passado, mas que ainda não resultaram em qualquer avanço significativo. Ao contrário, o período foi marcado pelo aumento da construção de casas nas colônias israelenses em território palestino, a escalada da violência, os meses de bloqueio completo – inclusive para o trânsito de civis e de ajuda humanitária – na Faixa de Gaza, entre outros pontos de expressão de uma ocupação militar prolongada.
O presidente da ANP, Mahmoud Abbas, disse à imprensa internacional que a reconciliação não tem como objetivo prejudicar as negociações com Israel, mas fortalecer a habilidade dos palestinos de formar um Estado independente.
Resposta de Israel é a violência
Depois do anúncio feito pela OLP e pelo Hamas, na Faixa de Gaza, a Força Aérea israelense voltou a bombardear o território, deixando sete feridos, inclusive crianças, de acordo com a agência palestina de notícias Ma’an. Um porta-voz das Forças Armadas israelenses foi citado pela agência dizendo que o Exército e o serviço de inteligência doméstica de Israel, o Shin Bet, “realizaram uma operação conjunta de contraterrorismo”, mas que “um acerto não foi identificado”.
Já sobre o cancelamento da reunião entre as equipes diplomáticas, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, foi citado pelo portal israelense de notícias Ynet, dizendo que a AP "preferiu o Hamas à paz". Os EUA também emitiram uma declaração em que afirmavam que seria difícil para Israel "negociar com um governo que não reconhece o seu direito à existência", referindo-se à reintegração do Hamas, que se negava a reconhecer Israel, mas já se afirmou disposto a fazê-lo.
O jornal israelense Jerusalem Post citou o ministro da Economia, Naftali Bennett, do partido colonialista e de extrema-direita Lar Judeu, dizendo: “A Autoridade Palestina tornou-se a maior organização terrorista do mundo; entramos em uma nova era política no Oriente Médio”, e que Israel não deveria negociar com a autoridade.
O ministro, que é uma liderança no movimento dos colonos judeus, frequentemente citado pela mídia israelense com declarações racistas e agressivas contra os palestinos, também ameaça repetidamente a coalizão de governo de Netanyahu, pressionando contra um acordo hipotético com os palestinos; seu partido ortodoxo defende ativamente a colonização da Palestina, com a anexação dos territórios ocupados por Israel posta como ponto central por diversos representantes.
Os Estados Unidos, como aliados de Israel, manifestam-se com apelos para que os palestinos cumpram seus compromissos com a diplomacia e advertências sobre o novo governo de unidade nacional a ser anunciado. Já os alertas contra a expansão da ocupação israelense sobre a Palestina, entretanto, ficam soltos como retóricas, uma vez que a prática continua a mesma: negligência e tendenciosidade de um ator parte no conflito, e não de um mediador.
Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações das agências palestinas de notícias e do Jerusalem Post