Cumplicidade: Vice-presidente dos EUA visita Ucrânia em crise
O vice-presidente dos EUA, Joseph Biden, chegou nesta segunda-feira (21) à Ucrânia para uma visita de dois dias. Nesta terça (22), Biden encontrou o presidente interino, Oleksander Turchynov, posto no cargo após o golpe contra o governo de Viktor Ianukovych, respaldado pelas potências ocidentais. No mesmo dia, a subsecretária de Estado norte-americana Victoria Nuland dizia que os EUA aportaram US$ 5 bilhões para “construir a sociedade civil”, no ensejo dos protestos que assolaram a Ucrânia.
Publicado 22/04/2014 11:16
Ainda nesta terça, o vice-presidente estadunidense reúne-se com o primeiro-ministro interino Arseniy Yatseniuk e alguns membros de diversos partidos da Ucrânia. Yatseniuk foi um dos líderes dos protestos que eclodiram no fim do ano passado e tomaram proporções violentas, com expressões fascistas e neonazistas, que resultaram no golpe contra o governo.
Tanto o premiê quanto o presidente interinos são do partido de extrema-direita Pátria, que recebe respaldo aberto dos EUA e da União Europeia (UE) em seu clamor irresponsável pela adesão ao bloco. A suspensão deste processo pelo governo anterior teria sido a ignição dos protestos contra o presidente Viktor Ianukovych, o que garantiu o seu reconhecimento imediato, após o golpe, pelas potências ocidentais.
Leia também:
Rússia rechaça ameaça dos EUA e destaca violência na Ucrânia
Ataque de paramilitares deixa cinco mortos no leste da Ucrânia
Confrontar duas potências é erro dos EUA, diz analista político
Governo ucraniano busca adiar eleições em cidades rebeldes
A visita de Biden é vista como provocatória. Os EUA impõem sanções contra as autoridades russas alegando a “ingerência” e a presença militar na crise do leste ucraniano, em que grande parte da população tem protestado contra o governo interino, invalidando a sua legitimidade, já que instalado inconstitucionalmente e sem consulta ao povo.
Apesar dos apelos e avanços diplomáticos impulsionados pela Rússia – dos quais um recente acordo entre o país, os EUA, a UE e forças políticas ucranianas contra a violência e pelo diálogo foi resultado – uma operação militar foi mantida pelo governo interino contra os manifestantes no leste, majoritariamente descendentes de russos, e as autoridades em Kiev mostraram-se incapazes de conter a agressão provocada por paramilitares de extrema-direita. No fim de semana, cinco pessoas morreram em um ataque na cidade de Slovyansk.
Nesta segunda, o chanceler russo, Sergei Lavrov, conversou por telefone com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, para discutir uma solução à crise ucraniana. Segundo Lavrov, o governo interino não tem capacidade ou vontade de reprimir os atos violentos ocorridos no leste. Para ele, os EUA devem exercer mais pressão sobre Kiev para evitar o agravamento dos conflitos.
Legitimar a violência
A subsecretária de Estado norte-americana Victoria Nuland, que representa o país na Europa, recusou a comparação entre os protestos atuais, no leste da Ucrânia, e a ocupação de prédios governamentais, com a situação homóloga em fevereiro, quando manifestantes de extrema-direita fizeram o mesmo em Kiev, na capital. “Não se pode comparar a situação em Kiev, onde agora tudo o que ainda está ocupado por manifestantes está tomado com a licença e o acordo com governo da Ucrânia,” disse a diplomata estadunidense à emissora CNN.
Alexandre Antonov, em artigo para o portal de notícias da emissora Russia Today, ironiza: “Claro, quando aquelas milícias estavam tomando prédios e construindo barricadas em Kiev e outros lugares da Ucrânia, não o faziam com qualquer licença. Foi apenas quando derrubaram o governo ucraniano que as novas autoridades moveram-se para legitimar essas ocupações”.
São “as mesmas autoridades cuja legitimidade está sendo agora contestada pelos manifestantes no leste do país”, continua Antonov, no artigo desta terça-feira (22). Entretanto, ressalta, a subsecretária estadunidense ainda faz outra distinção falha entre os protestos, sugerindo que os do leste, atualmente, são os violentos. “Mas não foi assim que aqueles supostamente no governo, agora, tomaram o poder?,” indaga Antonov.
O acordo assinado na semana passada prevê o desarmamento das milícias como forma de mitigar a violências nas ruas. Entre elas, estaria a ala paramilitar do Setor de Direita, partido fascista ultranacionalista, mas o governo interino parece ter interpretado o compromisso para aplicá-lo apenas àqueles que contestam a sua autoridade, no leste.
“Naturalmente, Washington culpa a Rússia por tornar as coisas piores na Ucrânia, e recusa-se a enxergar a impotência do atual governo”, ressalta Antonov. Durante a operação militar lançada contra os protestos no leste, que as autoridades interinas tacharam de “terroristas”, até mesmo alguns soldados enviados baixaram as armas e recusaram-se a combater seus compatriotas.
“Continuamos preocupados porque não se pode vestir como um bombeiro e comportar-se como um incendiário”, disse Nuland, ao que o articulista rebate: “Só podemos imaginar como ela se vestia enquanto tratava os ativistas de Maidan com biscoitos e discutia a composição do governo agora no poder em Kiev com os embaixadores dos EUA na Ucrânia. Ou como os US$ 5 bilhões que os EUA serviram à ‘construição da sociedade civil’ na Ucrânia ajudaram o país a superar suas divisões inerentes e construíram uma nação estável que possa mudar o seu governo sem violência nas ruas,” concluiu Antov.
Da Redação do Vermelho,
Com informações da Russia Today e agências de notícias