UJS entrevista futuro presidente da entidade, Renan Alencar
A UJS inicia um novo ciclo a partir do próximo congresso, a ser realizado em maio, em Brasília. A direção nacional da entidade já indicou quem será o novo presidente, o militante Renan Alencar.
Publicado 17/04/2014 15:26
Em entrevista, ele fala sobre as eleições presidenciais de 2014, as reformas democráticas, a conjuntura política da América Latina, e claro, sobre a expectativa de ser o presidente da maior juventude política do Brasil, a UJS.
Confira a entrevista:
UJS – Qual o papel das eleições de 2014 e o que a organização espera para o próximo período em relação à juventude?
Renan – Acredito que estejamos em uma encruzilhada política com a eleição de 2014. Precisamos aprofundar as mudanças iniciadas com o Lula em 2002 e da Dilma em 2010. Nesse sentido, é essencial a reeleição da Dilma em 2014, e que essa recondução traga consigo um projeto mais avançado. Acreditamos que mudanças importantes aconteceram de 2002 até aqui. O padrão de vida da família brasileira melhorou, mais de dois milhões de jovens entraram na Universidade com o Prouni e com o Fies, a quantidade de vagas nas Universidades Públicas brasileiras mais que dobraram, mais de 24 milhões de empregos formais foram gerados. A descoberta de petróleo na camada de Pré-Sal, a retomada na construção de escolas técnicas federais, um período de crescimento econômico e de grande mobilidade social, com uma grande faixa dessa mesma população ingressando na dita classe média. Um período em que o Brasil cresceu, recuperou seu prestígio internacional, liquidou sua divida externa e o povo brasileiro recuperou não só seu poder aquisitivo, como também sua autoestima.
O Brasil necessita continuar transformando a vida dos jovens e da população, que foram atingidos por essas melhorias. Queremos viver em cidades melhores e mais humanas e para isso temos, por exemplo, como obstáculo, o problema do transporte coletivo nas grandes cidades, que é de péssima qualidade e de preço elevado, que diminui o tempo de convivência entre as famílias, diminui o tempo de lazer e mesmo de trabalho das pessoas. Devemos lembrar que existem brasileiros que passam de 4 a 6 horas dentro do transporte coletivo para chegar e regressar dos seus locais de emprego e estudo.
Quais as reformas necessárias para que possamos avançar e aprofundar o processo em curso no Brasil atualmente, e como isso retoma um processo interrompido em 1964 com o golpe militar?
O golpe militar de 64 interrompeu o processo de mobilização social e política, que propunha as Reformas de Base, encabeçadas pelo então presidente João Goulart, o Jango. Reformas na saúde, na educação, agrária, no sistema tributário e no sistema eleitoral, todas elas visavam ampliar a democracia e tornar o nosso país menos desigual. A ditadura militar veio pra frear esse processo de avanços democráticos. Uma ditadura que durou 21 anos e que durante esse período cerceou a liberdade, torturou assassinou, além de ter aumentado exponencialmente a desigualdade social no Brasil. Além da grilagem de terras correr solta.
Foi durante a ditadura, que prosperou o modelo que temos hoje, onde grandes meios de comunicação concentrados nas mãos de algumas famílias. Por serem altamente financiados, deram suporte editorial e político a ditadura. Enquanto isso, os veículos que divergiam da linha dos militares, eram perseguidos, fechados ou sofriam censuras cotidianas.
O segundo momento a ser ressaltado é o da redemocratização iniciado em 1984. Aí nasce a UJS! Num período, onde o povo foi às ruas derrubou a ditadura e conquistou uma nova Constituição Federal. A redemocratização trouxe conquistas importantes, como foi o Voto aos 16 anos, bandeira levantada pela UJS. Outra conquista desse período é o Sistema Único de Saúde, o SUS. É um dos marcos legais mais avançados de saúde pública universal do mundo, em que pese o fato desse sistema não ser implementado na sua plenitude. A nova Constituição também trouxe de volta, diversos diretos civis e políticos suprimidos pela ditadura.
Devemos resgatar a condição histórica vivida anterior ao golpe de 64, onde ocorreram amplas mobilizações em torno de avanços estruturantes e democráticos. Uma reforma no sistema político e eleitoral que aproxime a juventude e as classes menos favorecidas das principais decisões políticas e diminua o peso do poder econômico das grandes corporações no financiamento das campanhas. Uma revolução educacional, que valorize os profissionais de educação e dote de maior infraestrutura as instituições de ensino em todos os níveis. Democratizar a mídia também é muito importante, a juventude quer mais espaços para ser expressar.
A reforma tributária onde o trabalhador, mais pobre pague menos imposto do que os mais ricos. O Eike Batista, por exemplo, paga a mesma quantidade de imposto que eu para tomar uma garrafa de água, um absurdo! Essa lógica precisa ser invertida. É premente uma reforma agrária que democratize não somente o acesso a terra, mas que de suporte financeiro, tecnológico e logístico aos pequenos e médios produtores rurais.
Fale um pouco sobre o momento atual da América Latina.
O triunfo eleitoral de vários governos progressistas no continente estabeleceu a quebra de uma série de paradigmas. Inaugura-se um novo ciclo democrático e de desenvolvimento social e econômico no com base na cooperação regional que tem aberto um caminho para, entre outras coisas, a tão sonhada integração latino americana, que nos possibilite de maneira conjunta superar deficiências históricas, que nos submetem a séculos de subdesenvolvimento. Antes disso, estávamos focados numa integração voltada para a Europa e/ou para os Estados Unidos, de costas para nossos vizinhos e semelhantes como a Argentina, o Uruguai, a Bolívia, o Paraguai, a Venezuela ou do continente africano.
Para a ampliação desse ciclo progressista e de integração, é importante que possamos reconhecer o papel do Brasil nesse cenário. Na articulação de organismos como o Mercosul, a Unasule a Celac, assim como no golpe em Honduras, no Paraguai, a Crise do Petróleo na Venezuela e do Gás Natural da Bolívia. São fatores importantes que reforçam a necessidade de aprofundarmos esse ciclo progressista no Brasil.
Estamos a 36 dias para o 17º Congresso Nacional da UJS, qual a importância de nesse momento levarmos pra nossa militância e para juventude brasileira as pautas que acabamos de discutir?
Entre os dias 22 e 25 de maio em Brasília, com o tema “Amar e Mudar as Coisas”, cerca de 3 mil jovens estarão presentes no 17º Congresso Nacional da UJS. Para que possamos aprofundar ainda mais esses e outros debates, que vem sendo amplamente realizados por todo o país, durante o processo de mobilização do nosso Congresso: em reuniões de núcleos, em escolas e universidades e em Congressos municipais, que já acontecem.
O mesmo ocorreu durante as Jornadas de Lutas da Juventude, que levou milhares de jovens às ruas e que articulou uma gama importante de organizações de juventude brasileira. Foram realizadas diversas passeatas, greves e outras manifestações contra o aumento de passagens em dezenas de cidades. Tudo isso tem contribuído para construirmos o Congresso da UJS no curso da luta política concreta e cotidiana do nosso país.
Esperamos contar em nosso Congresso com a presença da presidenta da república Dilma Rousseff, para que possamos apresentar para ela um programa elaborado e debatido por nossa militância. Além do presidente Uruguaio Jose “Pepe” Mujica, e das jovens parlamentares chilenas Camila Vallejo e Karol Cariola. Realizaremos diversos debates de interesse da juventude. Nos mesmos dias terá lugar o 2º Festival Nacional de Cultura da UJS, com diversas apresentações culturais, oficinas e intervenções protagonizadas pela militância da UJS. Além de um torneio esportivo, com mais de 10 modalidades, premiações, rodas de capoeira aulas de judô com o bi-campeão mundial, João Derly, entre outras atividades, que farão do Congresso da UJS, um rico espaço para a juventude brasileira. Em breve divulgaremos a programação completa.
Nessa reta final rumo ao Congresso, é nosso dever intensificar o ritmo de mobilizações e apresentar a juventude as nossas idéias de maneira alegre, altiva e firme. Para que o maior número de jovens possível saiba e conheçam, que no Brasil existe uma organização de juventude progressista, socialista, revolucionária, que defende os ideais de superação do sistema capitalista e que o nome dela é União da Juventude Socialista. Apresentar a UJS para a geração de jovens que foi às ruas em junho de 2013. É importante também que tenhamos a capacidade de canalizar esse sentimento transformador da juventude, no rumo das mudanças que o Brasil tanto precisa.
Fonte: UJS