Mossoró: entre as eleições e a perspectiva da velha política*
Mossoró vivencia uma séria instabilidade política há cerca de quase sete meses. Fruto de um processo eleitoral viciado, eivado de problemas jurídicos, éticos e políticos. As eleições de 2012 foram marcadas pela continuidade de velhas práticas que perduram ainda no cenário eleitoral brasileiro e, notadamente potiguar.
Publicado 11/04/2014 14:05 | Editado 04/03/2020 17:06
O resultado foi a intervenção do judiciário sobre o pleito, afastando a prefeita Cláudia Regina, sobre cuja campanha figuraram as mais graves acusações e condenações em primeira e segunda instâncias eleitorais. Assumiu o presidente da Câmara Municipal de Mossoró, Francisco José Júnior. A administração permaneceu quase a mesma, mostrando que nada mudou efetivamente nessa dança de cadeiras. Onde está então a propalada instabilidade? Ela não é administrativa, mas sim, política.
Mossoró vem sendo governada por aquilo que chamarei aqui de "elite urbana do sertão", notadamente a família Rosado. Seja diretamente ou mesmo, por meio de seus aliados locais, como é o caso de Cláudia ou de Francisco José Jr., a cidade vem tendo seus prefeitos e lideranças saindo sempre do mesmo escopo. Essa elite urbana tem um pé fincado em estruturas econômicas comerciais e industriais, notadamente urbanas. Por isso as denominei como elites urbanas do sertão. Seus negócios estão espalhados pela cidade, onde o loteamento territorial também faz parte. Assim, seus interesses, diferentemente da velha elite de antanho, são majoritariamente urbanos e não mais rurais.
Isso aponta para o crescimento de Mossoró nas últimas décadas e para as apostas econômicas que as elites locais (no poder ou não) terminaram por fazer. Investimentos comerciais, de serviço e industriais se multiplicam, no sonho do Eldorado do Sertão. A questão é que esse modelo é eivado de contradições, principalmente, por trazer crescimento econômico com extrema concentração de renda e muita desigualdade social. A Mossoró dos arranha-céus e dos carros importados de luxo contrasta com a Mossoró das favelas, das carroças, das milhares de motos populares e da violência extremada.
E é exatamente essa Mossoró, excluída, silenciosa, trabalhadora que está ausente das políticas públicas e do planejamento futuro dessas elites do poder. No início de uma nova eleição, marcada para 04 de maio, o que se põe a discutir sobre a cidade? NADA. Uma guerra de intrigas e fofocas, entre comissionados, ex-comissionados e futuros comissionados mostra que os principais candidatos ao pleito patinam entre a guerra jurídica e a difamação e boataria. Faltam propostas sérias que pensem a cidade para os próximos vinte anos. Sobram pequenez e esperteza, na luta pelo cargo e pelo ganho breve.
Mossoró precisa de propostas. Não de paliativos pueris e sem sustentabilidade. Precisa pensar alternativas para sair do gargalo da desigualdade, da violência e da insustentabilidade ambiental que a sufoca. Por exemplo: como permitir a continuidade do crescimento de uma cidade onde seus terrenos são, em sua maioria, irregulares? E a questão da água? Ou a mobilidade, que não existe em termos de transporte público?
Todas essas questões precisam ser discutidas e enfrentadas. O que se apresenta neste instante é a continuidade do velho e carcomido discurso do imediatismo. Mossoró precisa do novo. Seu povo merece uma cidade para si de fato.