"Feira da Morte" põe em foco militarização e ocupação israelense

Acontece nesta terça (8) e quarta-feira (9) a Feira Internacional de Segurança Pública e Corporativa (Laad Security 2014), no Rio de Janeiro. O foco da denúncia contra o evento são as nove empresas israelenses ligadas à repressão dos palestinos, sujeitos aos experimentos de novos armamentos. O apelo aos governos participantes no evento é pelo boicote à “indústria da repressão e da ocupação”, promovida nesta que ficou denominada “Feira da Morte.”

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho

Rafale França caça - Laad Security 2014

A organização da feira está a cargo da Clarion Events, dedicada a eventos de defesa e segurança, para o encontro entre governos e a indústria do setor, com a promoção de grandes corporações do complexo industrial-militar internacional.

A Clarion também realiza a Laad Defence & Security, que reúne companhias internacionais especializadas no fornecimento de equipamentos, serviços e tecnologia às Forças Armadas, Polícia e Forças Especiais, Serviços de Segurança, consultores e agências governamentais. Esta feira também acontecerá no Rio de Janeiro, em 14 e 15 de abril de 2015, de acordo com a página oficial da organização.

As duas feiras são objeto do protesto internacional pelo seu escopo abrangente dos negócios obscuros, antidemocráticos e de guerra entre os governos e as grandes corporações. O chamado complexo industrial-militar encontra nestes eventos a sua expressão institucional e propagandística, fortalecendo a influência das grandes corporações dedicadas ao setor sobre os governos e as suas decisões relativas à guerra e à segurança – aqui entendida apenas em termos militares –, nacional e internacional.

O movimento palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), que ganhou expressão internacional, foi um dos grandes responsáveis por colocar as feiras Laad no mapa dos movimentos anti-imperialistas em todo o mundo, com protestos contrários aos negócios efetuados entre diversos governos e as grandes empresas militares israelenses participantes do evento.

No caso do Brasil, recentes acordos de Defesa com Israel levaram os movimentos solidários à causa palestina a exigirem uma posição diferente, que resguarde o povo palestino da repressão israelense e responsabilize o governo colonialista de Israel pelas violações massivas dos direitos humanos e do direito internacional humanitário – relativo à condição dos civis em tempos de conflito armado – em uma frequência diária.

Testando novos armamentos

Neste sentido, evidenciam-se as várias denúncias, inclusive entre ex-combatentes israelenses, sobre o teste de novos armamentos sobre os palestinos. Os exemplos são diversos, mas chegaram a ser documentados pela Organização das Nações Unidas no caso da Operação Chumbo Fundido, que as Forças Armadas israelenses impuseram contra a Faixa de Gaza, entre o fim de 2008 e o início de 2009, onde mais de 1.400 palestinos foram mortos.

De acordo com testemunhos coletados pela organização de soldados israelense Breaking the Silence (“Quebrando o Silêncio”), ficava claro, para os combatentes que recebiam pouquíssima informação sobre a sua missão, que o principal objetivo da operação era o teste dos novos armamentos, fornecidos ao Exército sobretudo pela grande empresa israelense Rafael, que se apresenta como “líder no desenvolvimento de armas e outras tecnologias relacionadas.”

Na feira deste ano, a empresa apresenta sistemas integrados de segurança para a proteção de infraestruturas, fronteiras e cidades; um sistema de estacionamento de armamentos e de comunicação; sistemas de detecção de ataques e outros relacionados. Entretanto, seu grande show costuma ser realizado na Laad Defence & Security, quando apresenta equipamentos militares mais pesados.

A Rafael é responsável pelo desenvolvimento do sistema de mísseis Iron Dome (“Cúpula de Ferro”), coproduzido com os Estados Unidos. Em 2013, a empresa somou US$ 4,1 bilhões em encomendas para as atividades de dois anos de vendas, de acordo com o seu balanço oficial. Destes pedidos, 65% serão destinados à exportação para muitos países na América Latina, para os Estados Unidos e a Ásia.

Contra a militarização e a opressão

Outras empresas presentes no evento, e responsáveis por negócios bilionários com governos, no setor militar e de segurança, incluem a FAB Defense, que fabrica equipamentos e produz armas para as Forças Armadas e para a polícia israelense, e o Israel Export Institute, instituto governamental para as exportações, para a facilitação dos negócios internacionais no setor.

Além disso, também participam a AEL Sistemas e a Ares, subsidiárias brasileiras da Elbit Systems, uma das 12 empresas israelenses envolvidas na construção de um muro de segregação – projetado para ter 800 quilômetros, dos quais cerca de 700km já estão prontos – fornecendo o que denomina "sistema de detecção de invasores", e que produz os VANT (veículos aéreos não tripulados), usados em diversos ataques contra a Faixa de Gaza e o Líbano.


   Divulgação: Laad Security & Defence 2015 – Feira Internacional de Segurança e Defesa, a ser realizada no Rio de
  Janeiro, em abril de 2015

O boicote às empresas militares e à política do governo israelense de ocupação dos territórios palestinos, através da repressão violenta, da construção do muro, dos ataques e das políticas de “segurança” estabelecidas pela segregação institucionalizada – que impõe um regime militar sobre palestinos e um civil sobre os israelenses que vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, territórios palestinos – é uma reivindicação que ganha cada vez mais força, não só entre os movimentos de solidariedade ao povo palestino, mas também entre governos.

Neste sentido, a denúncia aos eventos e acordos que promovem as grandes companhias militares, em sua relação estreita com os governos – e, assim, seu papel na promoção das agressões e dos regimes repressivos – é essencial na campanha internacional contra a militarização, contra a falta de transparência dos setores de Defesa e contra a sua ligação com a opressão de povos inteiros, como o palestino.