Rubens Paiva foi maior homenageado nos 50 anos do golpe militar 

Na programação da comemoração de 50 anos da resistência ao golpe militar de 1964 na Câmara dos Deputados, o ex-deputado Rubens Paiva – cassado, preso e morto pela Ditadura Militar – foi o grande homenageado. A Câmara inaugurou um busto do ex-deputado no Hall da Taquigrafia e lançou a biografia do parlamentar.
 

Rubens Paiva foi maior homenageado nos 50 anos do golpe militar - Agência Câmara

O presidente da Câmara, deputado Henrique Alves (PMDB-RN), ressaltou a importância desses atos para lembrar os que foram cassados, torturados e mortos pela ditadura. “Estamos honrando suas historias, suas ideias e suas famílias”, disse Alves durante a cerimônia que contou com familiares de Rubens Paiva.

Ele disse também que é importante para que os jovens conheçam o passado recente da nossa historia. “Ele defendeu com vigor os ideais da democracia, mas todo esse processo deixou marcas. Eu sei o que nós sofremos. Que fique como lição do orgulho do trabalho que ele desenvolveu.”

A filha de Rubens Paiva, Maria Beatriz Paiva, afirmou que a família ainda espera ouvir um pedido de perdão pela injustiça cometida contra seu pai e tantos outros que lutaram contra a ditadura militar. "Acredito que sociedade brasileira só conseguirá fazer as pazes com esse passado sombrio e por fim se libertar dele quando puder dizer de peito aberto que no seu país, no nosso país a dignidade humana está sendo resgatada e o respeito aos direitos humanos está sendo cumprido."

A iniciativa de homenagem ao ex-deputado Rubens Paiva foi do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que não escondeu a emoção durante o seu pronunciamento e ressaltou “a enorme contribuição para a democracia brasileira” dada por Rubens Paiva e, posteriormente, pela sua família, que se engajou na luta pela redemocratização.

“Rubens Paiva orientou sua trajetória política na luta pela democracia, e esse é o grande legado que ele deixará para as futuras gerações. Quando veio o golpe civil-militar, apoiado por parte do empresariado e da grande imprensa, ele resistiu e denunciou a articulação para desestabilizar e derrubar o governo João Goulart. Sua reação combativa em defesa da democracia o colocou na primeira lista de parlamentares cassados”, lembrou Teixeira.

Perfil parlamentar

“Rubens Paiva é um mártir da liberdade e da democracia no Brasil”. Essa é a história contada no livro sobre o parlamentar que, na condição de militante do PTB, partido do então presidente João Goulart, foi eleito deputado federal nas últimas eleições democráticas realizadas antes do golpe militar de 1964. Era engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie, foi presidente do Centro Acadêmico de sua faculdade e vice-presidente da UEE (União Estadual dos Estudantes).

Na condição de militante do movimento estudantil da época, Paiva participou das grandes mobilizações populares da campanha o “Petróleo é Nosso”, que comoveram a nação e criaram as condições para o estabelecimento do monopólio estatal da exploração do petróleo e para a criação da Petrobras.

Como deputado, participou das investigações levadas a efeito pela CPI destinada a investigar as atividades do Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), duas instituições financiadas pela CIA, e que estiveram na raiz da preparação e do financiamento do golpe de estado que seria desfechado em 31 de março de 1964.

Foi por este passado democrático que o deputado Rubens Paiva tornou-se objeto da ira dos golpistas desde o primeiro momento do estabelecimento do regime. Não foi, portanto, uma surpresa que seu nome aparecesse na primeira lista de parlamentares cassados pelo regime de exceção, divulgada em 10 de abril de 1964. Logo depois do golpe, compelido pelo ambiente de caça às bruxas instalado no país, ficou exilado na antiga Iugoslávia e na França.

Em menos de um ano voltou ao Brasil e se reintegrou na resistência pacífica ao regime de exceção. Em 20 de janeiro de 1971, quando retornava do Chile, então governado pelo presidente Salvador Allende, socialista que liderava o governo de Unidade Popular, Paiva teve sua casa invadida e foi sequestrado, desde então é considerado desaparecido, mas existem testemunhos de sobreviventes das masmorras do regime que dão conta de que ele foi barbaramente torturado e assassinado.

O livro “Rubens Paiva”, de Jason Tércio, traz informações importantes e inéditas daquele período conturbado da história brasileira e, principalmente, a participação do Congresso na destituição de João Goulart da Presidência da República.

De Brasília
Márcia Xavier
Com agências