“Ele sempre foi comunista”, defende filho de Aristeu Nogueira

Nessa semana, em memória dos 50 anos do golpe militar (1964-2014), a Assembleia Legislativa do Estado (AL-BA) devolveu, simbolicamente, os mandatos de 13 deputados cassados arbitrariamente durante a ditadura militar. Os legisladores que não estão mais vivos foram representados por familiares, na sessão de devolução realizada pela Comissão da Verdade da Casa, na última segunda-feira (31/3).

Em nome do pai, o deputado comunista Ariusteu Nogueira, recebeu o reconhecimento o filho, o paleontólogo Diógenes Campos. Durante o discurso, Campos se emocionou e emocionou o público presente, ao contar o drama vivido pela família, por conta da perseguição a Aristeu, que viveu 11 anos na ilegalidade, até ser preso. “A nossa vida foi transtornada”, contou.

Após a cerimônia, o Vermelho conversou com Diógenes Campos, que falou sobre a iniciativa da Assembleia e a perseguição ao deputado, que, segundo ele, sofreu mais por ser comunista. Confira.

– O que dizer sobre essa iniciativa da Assembleia?

A gente agradece isso. Primeiro que é um erro que não devia ter sido cometido. Eu entendo que a Assembleia [Legislativa do Estado] não devia ter compactuado com a cassação dos mandatos, mas a gente compreende a atitude dos deputados que estavam com a “faca no pescoço”. A rigor, ou cassa todo mundo ou não cassa ninguém. A atitude correta deveria ter sido essa, mas isso é muito desejo meu de que isso, de fato, tivesse acontecido.


– O que significa para a família ter de volta o diploma de Aristeu Nogueira? 

A Assembleia, que é dona dos mandatos, volta agora e devolve. Isso aqui significa: “Erramos e pedimos desculpas”. Isso não tem um significado maior além do que isso. E também é uma tentativa de restaurar os caminhos da democracia e Verdade, que é o ideal, que todo político luta. A família está preparada, mas existem dívidas do Estado brasileiro para com a gente, que a gente espera que sejam pagas também.

– Dos 13, ele era o único comunista…

Ele entrou em [19]37 ou 38 no Partido Comunista do Brasil do Astrogildo Pereira. Quando ele caiu na ilegalidade, conseguiu trabalhar por 11 anos ilegal no Partido, organizando greves nos sindicatos. A atividade partidária era grande até [19]75, quando houve uma infiltração no Comitê Central. Um dos companheiros traiu o negócio e os outros todos foram caindo, um a um.

– O fato de ele ser comunista tornou, de alguma forma, pior e mais dura a repressão?

Antes do golpe de 64 ele já estava sendo perseguido de várias maneiras. Um atentado a bomba foi um deles. Como aquilo aterrorizou os vizinhos, a vizinhança ficou contra ele. Tentaram inventar crimes postais para ele, no sentido de que ele estivesse enviando algo ilegal pelo Correio. Houve várias tentativas. E “O Momento”, o jornal que ele dirigia, foi várias vezes empastelado. Eu me lembro na infância, meu pai trabalhava à noite e voltava de manhã com as notícias. Um dia, a polícia entrou e empastelou o jornal. O fato de ele ser comunista foi tal porque ele perdeu o emprego logo de saída e teve que fugir. Ele sabia que poderia ser preso e não se podia prever o que poderia acontecer, em nível de tortura e em nível da própria vida dele.


– Como foi esse episódio da destruição do jornal?

Aqui na Bahia era “O Momento”. Arrebentaram as máquinas e criaram uma situação tão desagradável, que ficava impossível de se trabalhar, mas mesmo assim era ponto de honra dos comunistas tirar, em gráficas menores, nem que fosse composto à mão um tabloidezinho menor, de quatro páginas, para denunciar a arbitrariedade policial e, depois, as lutas que estavam defendendo.

– Após a ditadura, ele deixou o Partido Comunista…

Ele sempre foi comunista. Quando na escola perguntaram à minha irmã, a mais velha, a profissão do pai, ela disse: “Comunista”. As freiras chamaram minha mãe e contaram. Minha mãe, que tem uma presença de espírito muito grande, disse: “Não, é economista”. [Risos].

De Salvador,
Erikson Walla