Vítimas da ditadura se encontram em antigo centro de tortura
Em memória dos 50 anos do golpe militar (1964-2014), o Comitê Baiano pela Verdade (CBV) reuniu, nesta terça-feira (1/4), ex-presos políticos, perseguidos, familiares de mortos e desaparecidos na ditadura, no Forte do Barbalho, o maior centro de tortura da Bahia. A atividade marcou o início das atividades do Memorial de Resistência do Povo da Bahia, que vai funcionar nas dependências do forte.
Publicado 01/04/2014 17:58 | Editado 04/03/2020 16:15
O encontro dos ex-presos no ato foi um dos pontos altos da cerimônia. Cerca de 20 deles foram
Convidado para falar em nome dos que sofreram arbitrariamente a restrição de liberdade,Paulo Pontes, o baiano que ficou mais tempo preso – ao todo, foram nove anos -, chorou muito ao lembrar dos episódios que vivenciou, durante os anos de repressão. Pontes revelou que uma ferida foi feita nesse período que até hoje não foi cicatrizada.
“O golpe foi uma agressão a todos que defendiam a liberdade. Não nos deixavam falar, cantar, sentir. Toda expressão era reprimida. [Tudo que passei resultou em] Uma dor que permanece. Nós, que conseguimos sobreviver, temos uma razão para continuar a denunciar as torturas física e psicológica”, defendeu Paulo Pontes, que foi aplaudido de pé.
Assim como Paulo Pontes, Diva também falou da existência de feridas, que também foram feitas nas famílias, que ainda convivem com a falta de notícias sobre o sumiço dos entes. O remédio ela já conhece: “O fechamento dessas feridas terá início com a punição dos frios e macabros torturadores, que confessam terem matado e a Justiça nada faz”.
Ao pedir punição para os torturadores, Diva Santana criticou a interpretação que se tem feito da
O Comitê Baiano pela Verdade produziu um manifesto pedindo a reinterpretação da Lei da Anistia, que foi lido no encontro pelo presidente da seção Bahia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), Luiz Viana Filho. O documento foi assinado pelos participantes do ato.
Uma homenagem também foi feita aos advogados que atuaram na defesa dos presos políticos, entre eles, Ronilda Noblat e Inácio Gomes. Em nome deles, falou o também preso e advogado Carlos Marighella, filho do revolucionário baiano de mesmo nome, morto pelos militares, em São Paulo. “Os advogados enfrentaram a inexistência da legalidade”, contou Marighella Filho.
Nas dependências do Forte do Barbalho, os presentes também puderam ter acesso a uma exposição de fotos históricas que ajudam a contar os movimentos de resistência no período ditatorial.
De Salvador,
Erikson Walla