Uma luta em curso: Fim do genocídio da juventude nas periferias
Com o objetivo de debater o genocídio da juventude negra e o papel da mídia, o Barão de Itararé São Paulo reuniu, no último dia 20 de março, lideranças sociais, estudantes e sociedade. Além do apimentado debate, foi lançada a biografia do rapper Sabotage, de autoria do escritor e jornalista Toni C.
Da Rádio Vermelho, em São Paulo
Publicado 26/03/2014 11:05
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, Toni C. falou da biografia, de como Sabotage se sentia bem no lugar onde nasceu, o que chamou de quebrada. "O lugar onde ele nasceu era onde se sentia livre e seguro. A comunidade nossa, a favela."
Bob Controversista, presidente da Associação Cultural e Educacional Movimento Hip Hop Revolucionário de Guarulhos, também comentou suas impressões sobre a biografia. "Só de olhar para a capa já me vejo. O livro dá uma contribuição importante, pois ele retrata uma realidade que é a nossa realidade", afirmou ele.
Mapa da Violência
O Mapa da Violência 2013: Mortes Matadas por Armas de Fogo, pesquisa feita pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, apontou que foram registradas 75.553 mortes de jovens de 15 a 29 anos de idade, sendo que um terço (22.694) foi decorrente do uso de arma de fogo.
A pesquisa mostrou que a maior parte dos homicídios resulta da chamada “cultura da violência”. Os dados contrariam a “visão amplamente difundida, principalmente nos meios ligados à Segurança Pública, de que a violência homicida do país se encontra imediatamente relacionada às estruturas do crime e mais especificamente à droga”.
De acordo com a pesquisa, as mortes por arma de fogo aumentaram 346%, em 30 anos. Nesse período, as vítimas passam de 8.710, no ano de 1980, para 38.892, em 2010. No mesmo intervalo de tempo, a população do país cresceu 60,3%.
Autos de resistência
O debate também refletiu sobre os chamados "autos de resistência", uma herança deixada pelo regime militar no Brasil. A deputada Leci Brandão (PCdoB/SP) trava a luta na Assembleia para pôr fim aos autos de resistência.
A parlamentar comunista explica que esse tipo de recurso tem permitido que o policial que comete um assassinato em serviço não seja preso em flagrante, assim como autoriza que o ato não seja investigado. Ou seja, na prática, os policiais afirmam que deram voz de prisão, mas as pessoas se recusaram a obedecer, “obrigando” o agente a usar toda a sua força, inclusive para matar.
Leci Brandão destaca que “a aprovação do PL não é um ataque à corporação policial, mas uma defesa da vida, dos bons profissionais, da cidadania, da justiça e da correta apuração de crimes cujas vítimas têm sido, em grande maioria, a juventude negra e pobre”.
Em entrevista ao Vermelho, o ex-vereador e presidente do PCdoB na capital paulista, Jamil Murad, explicou que este cenário reflete o caos e a adoção de uma política de segurança equivocada. “Hoje, a insegurança é total. Isso é fruto de uma política absolutamente errada, herdada ainda do regime militar, mantida pelas gestões que não olham para a questão de um ponto de vista macro”, criticou o dirigente comunista.
Ele cita como exemplo o avanço da violência em São Paulo e reafirma que o governo estadual potencializou a violência ao querer resolver esse problema com mais violência. “O que assistimos em nossa capital é a implantação da política do olho por olho, dente por dente. Assistimos o Estado implementar ações contra o crime organizado que só atingem o povo. Ou seja, a estratégia adotada pelo governo tucano condenou à morte diversos cidadãos.”
Para o comunista, “é chegada a hora de exigir uma política de humanização para cidades, que ataque os problemas com reformas estruturais profundas. Tais reformas devem estar amparadas pelo crivo da sociedade, esta que é a mais afetada pela atual situação de caos e medo. É preciso se antecipar aos problemas. É assim que se governa”, externou Jamil.
Ouça mais na Rádio Vermelho: