Militantes querem transformar Dops em local de memória histórica
Militantes de movimentos sociais fizeram um ato, na noite de desta sexta-feira (21), em frente ao prédio onde funcionou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Rua da Relação, no centro do Rio de Janeiro. Eles reivindicam que o imóvel, atualmente em reforma para ser transformado em Museu da Polícia Civil, seja destinado a um espaço de memória das vítimas da ditadura, da resistência e das lutas sociais.
Publicado 22/03/2014 09:56
O local foi palco, durante décadas, de repressão e tortura contra presos políticos, desde o governo de Getúlio Vargas até a ditadura militar instaurada com o golpe de 1964. O ato intitulado #OcupaDops teve a participação de artistas de rua em pernas de pau, que fizeram performances e batucada, lembrando a resistência negra durante a ditadura.
O evento continua amanhã (22), a partir das 11h, em frente ao antigo Dops, com uma exposição de fotografias e uma mesa de debates, que terá a participação da historiadora Jessie Jane, que foi torturada pelos militares e ficou nove anos presa, por ter tentado sequestrar um avião, em 1970. O programa completo pode ser acessado numa página oficial no Facebook.
"A ocupação cultural do Dops faz parte da luta de décadas para conseguir conquistar este prédio. É um símbolo da repressão, durante todo o século passado. Nele foram reprimidos vários movimentos sociais, inclusive dos negros do candomblé”, disse Ana Bursztyn-Miranda, do Coletivo RJ – Memória, Verdade e Justiça. Ela mesma foi presa durante a ditadura militar e ficou nove meses encarcerada no prédio do Dops.
Ana acredita ser difícil conciliar o projeto do memorial com o do museu da Polícia Civil. “Se nós tivéssemos uma polícia que não fosse tão violenta, que ao menos reconhecesse o que foi esse golpe de Estado e o quanto ela fez sofrer a população, a gente poderia até discutir essa questão. Mas, neste momento em que pessoas são arrastadas, que Amarildos se proliferam, é difícil. No momento histórico que a gente vive, são iniciativas antagônicas. Será possível quando ela [polícia] e as Forças Armadas reconhecerem o que aconteceu e como foram violentas.”
O prédio tem 6 mil metros quadrados, e foi construído em 1910 para ser sede da Polícia Central do Brasil, quando o Rio era a capital do país. Por suas dependências passaram gerações de ativistas políticos, quase todos vítimas de maus-tratos e torturas.
A Polícia Civil informou, por meio da assessoria de comunicação, que parte do terceiro andar do
Palácio da Polícia será destinado à Comissão da Verdade, e destacou que nenhum movimento social entrou em contato com a instituição durante a atual gestão.
Fonte: Agência Brasil