EUA: Forças de Operações Especiais, pilares da subversão
A política subversiva e intervencionista dos Estados Unidos tem como pilar fundamental o emprego das Forças de Operações Especiais (FOE), em estreita coordenação com os serviços de espionagem, em particular a CIA.
Por Roberto García Hernández *
Publicado 15/03/2014 09:17
Um relatório recente da Corporação Rand, um dos chamados centros de elaboração norte-americanos, aponta que as FOE têm hoje mais missões que nunca e seu financiamento quintuplicou desde 2001, tendência que continua seu curso atualmente.
Neste sentido, o orçamento do Pentágono para o ano fiscal de 2015 revela a intenção de elevar a níveis sem precedentes os fundos para as FOE, que mantêm uma presença aberta ou encoberta em cerca de 120 países.
O secretário de Defesa, Charles Hagel, solicitou ao Congresso, em 5 de março passado, mais de sete bilhões e 700 milhões de dólares para essas unidades de elite, o que representa cerca de 10 por cento acima do alocado em 2014, além de um aumento da equipe de 66 mil para 69 mil efetivos.
O chefe do Pentágono argumentou que as FOE desempenham um papel chave na suposta luta contra o terrorismo, a resposta imediata a qualquer crise no cenário internacional e no desenvolvimento de relações com seus similares em outros países.
As FOE estão integradas por unidades do exército, a infantaria da marinha, a armada e a força aérea norte-americanas, a maioria das quais se subordinam ao Comando de Operações Especiais do Pentágono (USSCOM), cujo quartel-general está em MacDill, estado da Flórida.
O chefe do USSCOM, almirante William McRaven, disse recentemente ao Congresso que as unidades que ele dirige aumentarão sua presença nos próximos anos em todo o mundo.
Ao esboçar o plano denominado Visão 2020, McRaven destacou que esses grupos cumprirão suas tarefas com efetividade graças aos vínculos estreitos com a CIA, a Agência de Segurança Nacional, o Birô Federal de Investigações e a Agência Antidrogas dos Estados Unidos.
Por sua parte, o Pentágono solicitou ao Congresso estadunidense uma quantia sem precedentes para o Ano Fiscal de 2015, destinadas às ações subversivas e de espionagem de seu Programa de Inteligência Militar (PIM).
Ao todo, o Departamento de Defesa planifica gastar mais de 58 bilhões e 700 milhões de dólares em missões secretas, um aumento de quase dois por cento com relação a 2013 deste financiamento conhecido nos meios acadêmicos e de imprensa como "orçamento negro".
Segundo o site estadunidense The Daily Beast, uma boa parte desse dinheiro será empregado no desenvolvimento de satélites espiões, aviões teledirigidos (drones) de última geração e sistemas de escuta ultrassensíveis, tecnologias chave para a subversão.
O PIM receberá mais de 13 bilhões e 300 milhões de dólares, a maior parte em atividades de apoio às forças armadas norte-americanas em ultramar.
As diretorias do Departamento de Defesa para estas ações desestabilizadoras baseiam-se na Estratégia de Segurança Nacional e na Estratégia Militar Nacional, entre outros instrumentos diretivos da política de Washington quanto a seus apetites globais como potência.
Mas o tema também é abordado na Circular de Treinamento TC-1801 das FOE, publicada em novembro de 2010 sob o título "A Guerra não Convencional".
A diretora afirma que as FOE são as únicas especificamente designadas a esse tipo de contenda, por suas capacidades únicas de se infiltrar em território inimigo, treinar os grupos subversivos e coordenar as ações destes.
Uma pesquisa sobre a política de segurança de Washington no Hemisfério Ocidental realizada em 2013 pelo Grupo de Trabalho para Assuntos Latino-americanos, o Centro para Políticas Internacionais e o Escritório em Washington para Assuntos Latino-americanos, elucida o tema.
De acordo com o relatório, os Estados Unidos aumentam a presença das FOE na região em missões de treinamento e inteligência, sob o pretexto da luta antidrogas.
A avaliação anterior retrata o possível envolvimento, de forma direta ou indireta, destas unidades e dos serviços de inteligência de Washington na atividade subversiva que desenvolvem setores da ultradireita venezuelana.
O presidente Nicolás Maduro tem denunciado de forma reiterada a responsabilidade estadunidense nessas ações violentas em seu país. No caso da Ucrânia, os acontecimentos nesse país europeu reafirmam a participação ativa dos serviços de espionagem de Washington e seus parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra o presidente Viktor Yanukóvich.
O próprio secretário de Estado, John Kerry, reconheceu a participação norte-americana nas ações desestabilizadoras ao afirmar que sua política está dirigida a que as ex-repúblicas soviéticas se integrem ao Ocidente "pelo desejo de ver esses povos especificar suas aspirações de liberdade".
No caso ucraniano, alguns analistas apontam que os Estados Unidos cederam aos serviços de inteligência e subversão aliados à tarefa principal no manejo da situação, em particular Polônia, Lituânia e Suécia, cujos aparelhos subversivos manejam mais de perto o apoio à insurgência pró-Ocidente.
A ingerência ocidental na crise ucraniana adquiriu novos matizes após o anúncio de que o Pentágono aumentaria a presença bélica na Europa Oriental, bem como a realização de exercícios e treinamentos com seus aliados no Velho Continente.
Nesse sentido, Washington enviou seis caça F-15 e um avião de reabastecimento KC-135 à Lituânia, 12 F-16 à Polônia e confirmou que aviões de reconhecimento e direção da aviação de combate, conhecidos pelas siglas AWACS, participarão em tarefas de espionagem na região.
Também, o destróier USS Truxtun (DDG-103) passou a princípios de março do mar Mediterrâneo ao Negro, e está agora em águas territoriais da România, ainda que porta-vozes da Marinha de Guerra estadunidense asseguram que seu translado não está relacionado com a situação na Ucrânia.
O DDG-103 faz parte dos navios escolta do grupo de ataque do porta-aviões George H.W. Bush, que está atualmente no porto turco da Anatólia, com seus mais de 80 aviões de combate a bordo.
Por sua parte, em suas atividades conspirativas, Washington utiliza a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) como um dos tentáculos dos serviços de inteligência para obter informação e influir na política de outros países.
Diretores da Usaid reconhecem que através desse organismo a Casa Branca mantém uma estreita relação e entrega fundos aos setores opositores em Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
O Pentágono dispõe de representantes nas estruturas locais da Usaid e o Escritório do Coordenador para a Reconstrução e a Estabilização do Departamento de Estado, em países onde existem conflitos armados com o fim de melhorar a qualidade das operações civil-militares.
Desde 2002 funcionários dessa agência estão incorporados às unidades das FOE no Afeganistão, e junto com os chamados especialistas em assuntos civis, contribuem para neutralizar o comportamento da população e conformar estados de opinião favoráveis às forças de intervenção.
*Jornalista da redação América do Norte da Prensa Latina.