Comunistas russos apoiam a resistência do povo ucraniano
O presidente do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), Gunadin Ziuganov, emitiu uma declaração em que analisa os dramáticos acontecimentos na Ucrânia, condena o governo golpista instaurado em Kíev, apoia a resistência popular e os anseios de independência da Crimeia. Leia a íntegra.
Publicado 12/03/2014 04:43
No desenvolvimento dos acontecimentos na Ucrânia aconteceu uma decisiva mudança. O Soviete Supremo da Crimeia decidiu o ingresso da República Autônoma na Rússia. Estamos convencidos de que no curso do referendo de 16 de março a população da Crimeia sustentará esta decisão histórica.
Não passou muito tempo desde que as forças neofascistas, que sequestraram os órgãos do poder durante o golpe de Estado, celebraram o seu triunfo. Hoje, ao contrário, estão na defensiva, em face da resistência das massas populares do sudeste do país e de uma profunda crise econômica, agravada ainda mais pelos acontecimentos de Maidan.
Imersa em suas dificuldades, a camarilha no poder deve culpar a si própria, não a “sinistra mão” de Moscou. Este grupo deu provas da sua russofobia nazista, começando a destruir os monumentos a Lênin e aos soldados libertadores soviéticos, revogando a lei sobre o status da língua russa, enviando bandos de criminosos aos centros industriais do leste, onde a população fala predominantemente a língua russa.
Encontrando a forte resistência do povo na Crimeia, em Kharkov, Donetsk, Odessa, Dnepropetrovsk e em outras cidades, o vértice do poder em Kíev procedeu à introdução da ditadura sob a direção do grande capital. Como governadores de várias regiões, foram eleitos os oligarcas, que primeiramente se escondiam à sombra dos politiqueiros dos diversos agrupamentos: “Pátria”, “Golpe” e “Partido das Regiões”.
Sobre o evidente caráter de classe do novo poder testemunha em particular o fato de que o presidente do Congresso Hebraico Europeu, I. Kolomoyski, nomeado governador da região de Dnepropetrovsk, tenha sido financiado, segundo a imprensa, pelo grupo filofascista e antissemita “Svoboda” (Liberdade). Isto confirma que a oligarquia mundial está pronta a confiar na pior escória, para sufocar a aspiração do povo à justiça social e à restauração da histórica união dos povos irmãos da Rússia, Ucrânia e Bielorússia.
A principal característica dos discursos revolucionários do povo no sudeste da Ucrânia e sobretudo na Crimeia consiste no fato de que se endereçam contra os usurpadores do poder neofascista em Kíev, estreitamente ligados ao capital transnacional mundial, e contra o clã oligárquico do “Donetsk” que impôs a sua política e uma ditadura econômica nessa região.
O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) rechaça as tentativas de grande interferência do Ocidente nos assuntos internos da Ucrânia. Estamos convencidos de que a atual crise que levou este país à beira da guerra civil fratricida, foi provocada em particular pelos Estados Unidos e por seus aliados, que há muito tempo aspiram a afastar a Ucrânia da Rússia e anexá-la à Otan, transformando-a em uma colônia e em uma plataforma para a agressão militar contra o nosso país.
A hipocrisia do Ocidente está contida no fato de que, por um lado, separa com a violência a terra sérvia do Kosovo e Metohija através da agressão direta e da limpeza étnica. Por outro lado, cinicamente não reconhece a expressão da vontade do povo da Crimeia e de outras regiões que aspiram a unir-se à Rússia. Não se atrevendo a usar a força militar, o Ocidente busca atar as mãos das forças antioligárquicas, filorussas do sudeste da Ucrânia, enviando destacamentos de “intermediários”, “emissários especiais” e outros “construtores da paz”.
O PCFR sustenta as ações das autoridades russas, apoiando as forças filorussas do sudeste da Ucrânia e da Crimeia. Nós acreditamos que as medidas adotadas por Moscou contribuem para a defesa da população destas regiões. Contudo, fazemos notar que a política do governo da Federação Russa em relação à Ucrânia e à população que fala russo foi pouco sistemática, casual, ou se voltou unicamente voltada para o objetivo de garantir o trânsito de nosso gás para a Europa. É necessário revisar profundamente essa política. Em particular, é indispensável atribuir aos nossos laços com o povo irmão da Ucrânia um caráter mais completo. É necessário ativar a colaboração nos setores da indústria, da ciência, da cultura, da educação.
O PCFR exprime a sua solidariedade a todos os participantes na resistência popular – russos, ucranianos, pessoas de todas as nacionalidades, que se lançaram às ruas em defesa de sua cidade dos sequazes neonazistas de Bandera*. Exprimimos a nossa solidariedade aos comunistas da Ucrânia, que sofreram a violência por parte dos extremistas de Maidan. Destacamos com preocupação a crescente pressão sobre os participantes na resistência popular, sobre a população russa e de fala russa, e a violência exercida contra ela. Pedimos que cesse a arbitrariedade das autoridades ilegítimas de Kíev e a perseguição dos que defendem a amizade com a Rússia!
Estamos certos de que as forças sadias da sociedade ucraniana prevalecerão e rechaçarão os herdeiros de Bandera.
Fonte: www.marx21.it; traduzido do russo por Mauro Gemma e do italiano por José Reinaldo Carvalho
* Stepan Bandera Nasceu em 1º de janeiro de 1909, ucraniano nacionalista, de pai sacerdote da Igreja Ortodoxa e mãe filha de sacerdote da mesma religião. Foi chefe executivo regional da organização de extrema-direita Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e comandante da organização militar ucraniana Exército da Insurreição Ucraniana (UPA), que operava na clandestinidade na região da segunda República Polonesa, que ocupava grande parte do território ucraniano. O movimento que liderava era racista, propunha a instalação de um Estado ucraniano "puro", sem lugar para outras etnias. As bandeiras rubronegras do Exército da Insurreição Ucraniana (UPA) são visíveis nas atuais manifestações transmitidas pelas emissoras de televisão. Quando os nazistas invadiram a União Soviética, foi um ativo colaboracionista. Foi naquele momento que as suas "limpezas" deram mais resultado. Estima-se que cerca de 70.000 poloneses foram exterminados, além de ter colaborado com o "desaparecimento" de cerca de 200.000 judeus.