A mulher que mudou a própria vida e a de muita gente
Naquela tarde procurávamos por uma casa marrom, quase da mesma cor da poeira que cobria o chão batido da Salvador Mendonça. Não encontramos o número 538, apenas a placa indicando o nome da rua, buscamos pelo muro marrom e em poucos minutos fomos recebidos por Elisangela Eidam Milan, moradora da Vila Hilgenberg.
Por Aliel Machado*, em seu blog
Publicado 10/03/2014 02:38
Escrever sobre algo ou alguém pressupõe que aquilo é importante e foi com essa ideia que nos aproximamos de Elisangela, no início o lado da história que queríamos mostrar era exatamente o de uma mulher que tem forte atuação na comunidade em que vive, mas aos poucos percebemos que a história de vida de uma pessoa, na maioria das vezes, não se resume a grandes atos, ideias ou a sorte, mas sim ao que ela carrega na sua essência.
A mulher nos convida a sentar e em poucos minutos conversamos como se fôssemos amigos de longa data. Elisangela tem 41 anos, é casada, e, além de cuidar dos dois filhos atende mais 163 famílias, há sete anos mudou-se para Hilgenberg trabalhar como Agente Comunitária de Saúde. “Muitos dizem isso, o Agente Comunitário é o elo entre a comunidade e os Serviços de Saúde”.
E realmente é isso que Elisangela representa no lugar onde mora. Além de atuar como Agente Comunitária se envolve em outros projetos e ações sociais da comunidade. “Sempre procuramos fazer algo pela população, sempre estamos querendo ajudar”, se refere Elisangela às demais Agentes Comunitárias.
Enquanto conversamos, ela explica alguns dos planos que tem: “Queremos reabrir a Associação de Moradores do bairro que está interditada”. A Vila Hilgenberg é um bairro que, geograficamente, é próximo ao Centro de Ponta Grossa, mas a realidade de quem vive ali, em geral, é muito distante e diferente dos moradores da região central da cidade.
Elisangela pode falar com propriedade disso, afinal diariamente faz visitas aos moradores da Hilgenberg, e mais do que visitar, conhece a história de vida de cada um. Questionada sobre histórias que a marcaram, ela logo relembra do menino Fábio Junior e de Dona Tereza, pessoas com as quais compartilhou momentos que ficaram marcados em sua memória, e afirma: “É gratificante quando você consegue resolver algum problema para alguém”. Elisangela faz ainda uma analogia, “para mim é mais importante dar um presente do que receber. O gratificante em fazer algo por uma pessoa é receber um muito obrigado”.
Questionada sobre como avalia seu próprio trabalho, prontamente responde: “Ah, eu vejo que talvez minha contribuição seja mínima. Às vezes acho que poderia ser um pouco menos egoísta e me doar mais. Considero meu trabalho positivo, porque aprendi a ter outra visão da vida”, explica a Agente Comunitária.
A partir desse momento nossa conversa toma um novo rumo e Elisangela conta um pouco sobre as histórias que ouviu. Talvez ela seja muito mais do que uma Agente Comunitária, para alguns ela é uma amiga, para outros quase uma psicóloga, é mãe, mas principalmente mulher.
A Agente Comunitária que faz serviços de ação social não é o tipo de perfil raro de encontrar, muito menos impactante. Talvez todas as palavras que aqui foram apresentadas não tenham alterado o mínimo do curso de sua vida. Não precisamos falar em grandes líderes para demonstrar o quanto fazer o bem pode impactar a vida das pessoas, talvez você só tenha que começar a agir no local onde mora, enfrentando os perigos de seu próprio mundo, e assim, será reconhecidamente uma grande mulher. A personagem e a história são simples, mas talvez façam mais diferença que muitos que julgam ser importantes.
*Aliel Machado é presidente da Câmara Municipal de Ponta Grossa (PR)