Quinze perguntas sobre a violência política na Venezuela
O sacerdote jesuíta panamenho Jorge Sarsaneda Del Cid formula na rede 15 perguntas ignoradas pela grande imprensa que colocam em evidência diversos aspectos e permitem analisar as motivações da violência desatada pela direita fascista na Venezuela.
Publicado 07/03/2014 05:58
1. Por que dizem que na Venezuela se sofre com uma grave falta de alimentos, justificando assim destruição e incêndios, se foi um dos quatro países da América Latina com menos fome em 2012 (de acordo com a FAO e a OMS), inferior a 5%, e um dos países com maior índice de crianças e jovens obesos?
Seguindo a lógica dominante, por que não há protestos piores em um país vizinho como a Colômbia, no qual a fome foi sentida por 12,6% da população, isto é, quase o triplo da Venezuela?
2. Se as causas dos ataques, incêndios e manifestações é a escassez de produtos básicos, por que se observam ações de tipo político e não roubo de lojas e armazéns, o que seria de se esperar quando se trata de carência generalizada? Por que um dos dirigentes opositores, Henrique Capriles, afirma que se deve à "falta de remédios" se os avanços em saúde na Venezuela estão entre os mais destacados da região?
3. Por que tanta violência pela suposta "ausência" ou falta de acesso à comida se a revista “The Economist” publicava esta semana que a escassez só afetou cerca de 28% dos produtos? Por que os mesmos analistas não preveem algo parecido na República Dominicana, país no qual o “Latinobarômetro” detectou que cerca de 70% da população não tem dinheiro suficiente para comprar a comida do mês?
4. Por que o epicentro dos protestos pela "escassez" é a Praça Altamira, no meio de bairros de classe alta e habitantes com pele tão branca? Não seria mais lógico em bairros pobres e população mestiça, já que a Venezuela é o segundo país com maior proporção de afrodescendentes da América do Sul, depois do Brasil?
5. Por que a Unesco reconhece a Venezuela como o quinto país com maior matrícula universitária do mundo, que cresceu mais de 800%, sendo que em torno de 75% da educação superior é pública, e no entanto não se conhece nenhuma luta do "movimento estudantil" atual, enquanto há "estudantes" marchando contra "torturas" e por "comida"?
6. Se os estudantes da educação superior na Venezuela já superam 2,6 milhões (isto é, ao redor de 20 vezes a população estudantil do Panamá), por que as manifestações são mais em forma de focos ou grupos de dezenas ou, no máximo, centenas de pessoas?
7. Se o comum e corrente é que os estudantes ou sindicatos marchem por mais benefícios e serviços públicos, assim como leis mais democráticas e equitativas, por que os "estudantes" que marcham na Venezuela o fazem por papel higiênico, defendendo a propriedade privada da imprensa ou do comércio para bens de consumo?
8. Por que não se sabe ainda o nome de nenhuma entidade ou organização estudantil, nenhuma pauta de reivindicações, nem o nome de nenhum de seus mais importantes dirigentes ou membros de diretoria, mas sim os nomes de notórios e antigos líderes da oposição partidária e eleitoral, envolvidos nas ações golpistas de 2002 e 2013?
9. Por que e quem produz as imagens falsas de torturas, assassinatos e humilhações posteriores aos confusos fatos de 12 de fevereiro de 2014, manipulando fotos do Chile, da Europa ou da Síria para que apareçam nas redes sociais e até em meios de comunicação como a CNN como se fossem na Venezuela? Que liderança democrática e civil já usou manobras como essa na história universal?
10. Se os bolivarianos e seus aliados ganharam as eleições de 2012 e 2013, incluídas as municipais mais recentes de dezembro passado, quando obtiveram 55% dos votos e 76% das prefeituras, por que se fala que o oficialismo é hoje "minoria"? Por que sua renúncia ou um referendo revogatório é proposta como saída para "a crise", fora de todos os prazos e procedimentos legalmente estabelecidos para isso na Constituição feita com a própria liderança bolivariana?
11. Por que se invoca a falta de diálogo se há apenas dois meses foi realizado na Venezuela um encontro histórico entre o Executivo nacional e todos os prefeitos recém-eleitos, incluindo opositores, contando assim com a participação de todos os partidos e posições? Com quem se dialoga, quem dirige ou lidera "a crise"?
12. Por que o principal – e praticamente único – porta-voz das manifestações, supostamente pacíficas e alentadas pela "ineficiência" do governo, é Leopoldo Lopez, pessoa que não conta com nenhuma representatividade, salvo a de seu minúsculo partido, e seu chamado mais importante é há meses "tirar aqueles que governam"? O que o Tea Party (ultradireita dos EUA) tem a ver com tudo isso, já que a relação extremamente próxima com Lopez é muito conhecida?
13. Por que não usam os governos dos estados, as prefeituras e os assentos nas assembleias nacional e estaduais para propor um programa de ações pacífico e político, e por que não canalizam através de sua enorme incidência midiática as denúncias de "corrupção", "fraude", "totalitarismo", "fome" e "repressão" com provas contundentes e inegáveis – não por twits, nem cápsulas de Youtube – como faziam as oposições a Trujillo, Balaguer, Pinochet ou Videla?
14. Por que se protesta, se na Venezuela mais de 42% do orçamento do Estado é destinado aos investimentos sociais? Segundo dados internacionais, cinco milhões de pessoas saíram da pobreza, então quem está protestando? Por que se protesta se o analfabetismo foi erradicado? Do que reclamam os estudantes se o número de professores nas escolas públicas se multiplicou por cinco (de 65 mil a 350 mil) e foram criadas 11 novas universidades?
15. Por que…?
Poderíamos seguir acrescentando perguntas. A verdade é que, como latino-americanos, enquanto nos insultamos, acusamos e desqualificamos, os "grandes do mundo" fazem seus cálculos para nos tirar o petróleo, o cobre, o lítio, a água e tantas outras riquezas que temos. Aí é onde temos que colocar nossa atenção…
Prensa Latina, sucursal no Panamá