Elite de São Paulo é "pobre de espírito", diz Fernando Haddad
Em entrevista à BBC Brasil, o prefeito da capital paulista, Fernando Haddad falou sobre os desafios de sua gestão. Segundo a reportagem, em quase uma hora de conversa, o prefeito mostrou entusiasmo com o novo Plano Diretor da cidade, que considera "revolucionário", e fez duras críticas à elite paulistana, a quem chamou de "pobre de espírito".
Publicado 11/02/2014 19:11
"(Hoje temos) uma elite míope, fazendo carga no Congresso para não votar a renegociação da dívida. (Temos) dezenas de editoriais nos jornais contra a renegociação da dívida", disse.
Questionado pela reportagem se São Paulo não teria entrado em um ciclo de "decadência" nos últimos anos, ao ver limitado o seu poder de investimento em um momento que o país e outras regiões, como o Rio de Janeiro, tiveram crescimento expressivo, Haddad disse que, se quisesse, "São Paulo poderia ser uma Xangai".
A referência à segunda maior cidade da China se explica pelo fato de Xangai ter se reinventado e se tornado uma cidade rica e globalizada nas últimas três décadas.
"Não há cidade no mundo, em um país continental como o Brasil, que responda a 12% do PIB" como São Paulo, disse.
Mais uma vez, Haddad criticou a "falta de comprometimento" da elite econômica da cidade e disse que é preciso evitar que São Paulo se torne uma arena entre "PT e PSDB".
"Nós não temos em São Paulo um (Michael) Bloomberg (magnata e ex-prefeito de Nova York) que botou do bolso US$ 650 milhões em Nova York. Aqui não tem um empresário que tenha esse desprendimento", criticou.
Para Haddad, a elite ilustrada, que tomava iniciativas como construir um museu como o Masp para deixar de legado à cidade, é coisa do passado.
"Hoje infelizmente temos um poder econômico amesquinhado e empobrecido do ponto de vista espiritual, mas muito rico do ponto de vista material", disse.
Plano Diretor
Sobre o Plano Diretor, atualmente em discussão na Câmara Municipal, Haddad diz que a cidade vai ganhar "um desenho urbano que não se tem desde os anos 1930", quando o então prefeito Prestes Maia construiu o sistema de avenidas que hoje dá forma à região central.
Mas como garantir o sucesso do Plano Diretor com recursos públicos limitados para investimento?
"A grande vantagem do Plano Diretor é que ele organiza o investimento privado. Hoje o investimento privado faz o que quer na cidade. Constroi onde quer. Destrói bairros e cria verdadeiros paliteiros de prédios enormes. Sobrecarrega a infraestrutura da cidade. Nós estamos ordenando a ocupação territorial de maneira revolucionária", diz Haddad.
As diretrizes do novo Plano Diretor prevem o adensamento de regiões próximas de estações de metrô e corredores de ônibus, limitando a construção no centro dos bairros.
O plano também prevê o adensamento do entorno das marginais Pinheiros e Tietê, o chamado "Arco do Futuro", que prevê a instalação de empresas e criação de trabalho em regiões hoje predominantemente residenciais, como a zona leste paulistana.
Haddad defendeu ainda os corredores de ônibus e o bilhete único mensal (por meio do qual os paulistanos poderão, pagando uma quantia fixa por mês, fazer uso ilimitado do transporte coletivo).
Haddad destacou ainda o que vê como realizações de seu governo: exaltou a criação da Corregedoria Municipal, de uma política para usuários de drogas na Cracolândia, citou a construção de calçadas na periferia, dos avanços na educação e na saúde, citando uma série de dados de cabeça.
Mas, se por um lado, tais feitos não foram capazes de garantir mais apoio ao prefeito entre os paulistanos, por outro Haddad disse "não se importar" com a popularidade.
"Quero fazer as coisas para o médio e longo prazo", disse.
Fonte: BBC Brasil