Alice Portugal declara apoio a candidatura do PT na Bahia
Conhecida pela fidelidade ao projeto encabeçado pelo PT no Estado, desistindo, inclusive, de disputar a prefeitura de Salvador em 2012 para ceder à aliança partidária com Nelson Pelegrino (PT), a deputada federal Alice Portugal, uma das grandes lideranças do PCdoB no Estado, destaca o apoio à candidatura de Rui Costa (PT) ao governo baiano.
Publicado 04/02/2014 15:00
Segundo a comunista (foto), Rui está preparado para o enfrentamento. “É um candidato bom, um jovem político já testado nas urnas, que tem uma facilidade enorme para a ação administrativa”. Ela também faz elogios à gestão Wagner ao dizer que “foi o melhor governo da história da Bahia” e destaca, com naturalidade, a possibilidade de seu nome surgir para o posto de vice. “O meu nome acaba surgindo como um elo de ligação com as mulheres…”
Tribuna da Bahia: A polêmica em torno da escolha do vice na chapa encabeçada pelo petista Rui Costa continua. Nos bastidores fala-se que o impasse maior agora é o desejo de que a escolhida seja uma mulher. Como a senhora vê esse movimento da política?
Alice Portugal: De fato, é um momento decisivo para a afirmação do projeto que trouxe Jaques Wagner a ocupar duas vezes a cadeira de governador do Estado. Esse projeto, que em minha opinião vem mudando a Bahia, é um projeto conectado com a presidente Dilma Rousseff e que nós do PCdoB vamos continuar participando porque o que nos guia é essa política nacional. Essa discussão do vice apareceu na cena política, inicialmente, com os partidos em ordem cronológica da sua força, quantidade de prefeitos, de deputados. Matemática essa, da política, que é superlegítima. E o meu nome acaba surgindo como um elo de ligação com o seguimento da sociedade que, de certa maneira, precisa que esse segmento político dialogue com o movimento social, com as mulheres, que precisam ser conectados com uma chapa que tenha, sem dúvida, uma expectativa de vitória muito grande na eleição vindoura.
A senhora está no páreo, o PCdoB já demonstrou interesse em brigar pela vice, até na tentativa de pacificar o PP e o PDT? O nome da senhora agrega nessa chapa, já que o candidato Rui Costa não é tão conhecido da população?
Primeiro quero dizer que o nome surgiu espontaneamente na imprensa. O presidente do meu partido tomou, diante da circunstância, uma posição de colocar o nome à disposição, evidentemente, com meu aval. Isso não significou um convite. Colocamos à disposição, compreendemos a necessidade de uma chapa que dialogue com esses segmentos, mas não houve convite. Portanto, até o momento eu sou pré-candidata a deputada federal, função que exerço com muito orgulho, com muita vontade de acertar a cada momento. Evidentemente, é necessário, a partir daí, analisar a natureza da chapa. Se você me perguntar eu vou dizer que estamos em uma quadra da política, especialmente quando as ruas vão com as cartolinas nas mãos dizer que querem mais avanços. É fundamental que a classe média, que os setores da luta social sejam ouvidos e tenham um elo de ligação com essa chapa.
A senhora acredita que a antecipação do processo pelo PT e até essa disputa é prejudicial, já que deveriam estar sendo discutidas, justamente, as políticas públicas que devem ser feitas para que o Estado possa avançar?
Finalmente, essa semana foi realizada uma discussão sobre o programa. Não pude estar presente, mas estou conectada com a discussão de um programa de governo para o candidato Rui Costa, que é um candidato bom, um jovem político já testado nas urnas, que tem uma facilidade enorme para a ação administrativa. Então, Rui está preparado para o enfrentamento. É claro que ele terá que ser visto pela grande massa baiana, mas a chapa não pode ser apenas pragmática. O pragmatismo, em excesso, pode ser o causador de um dano em relação à fisionomia, a identidade desse projeto que trouxe o governador Jaques Wagner. O governador Jaques Wagner, quando foi eleito pela primeira vez, não tinha um prefeito, não tinha nenhum secretário de estado apoiando, não tinha uma quantidade expressiva de deputados. Portanto, não é apenas essa a matemática que faz a vitória. É necessário que não de perca a identidade, que se corrijam eventuais equívocos na relação com os movimentos sociais, especialmente sobre os professores que não estavam armados. E eu tive uma ação de quase súplica pela negociação preliminar, mas, infelizmente, os danos ocorreram e, para que não ocorra novamente o que ocorreu em Salvador, eu espero que tomemos as vacinas necessárias. Essas vacinas passam por um diálogo com os movimentos sociais.
O que a senhora acredita que deve ser feito para viabilizar a candidatura de Rui Costa, já que ele não é um nome conhecido e vai ter que fazer um esforço muito grande pelo tempo ser curto?
Garantidamente, o êxito virá com a conexão da força política, que é o somatório desses partidos que montam a base de apoio ao governador Jaques Wagner com a representatividade e a pluralidade. E o diálogo, que é fundamental que se realize antes de colocar o bloco na rua.
A senadora Lídice da Mata, que era aliada até muito pouco tempo, é candidata ao governo. A senhora acredita que ela vai tirar votos do PT?
Primeiro eu quero dizer que a senadora Lídice da Mata é aliada. Ela, nesse momento, está no palanque do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mas nós, possivelmente, teremos segundo turno como tem acontecido nas últimas eleições. Obviamente, tenho certeza que estaremos no mesmo campo e a senadora tem legitimidade para se colocar diante desse momento eleitoral. É claro que, para mim, deveríamos sair juntos desde o primeiro turno, até porque o governador Eduardo Campos poderia ter garantida uma candidatura para presidente da República daqui a quatro anos. A presidente Dilma precisa terminar as suas obras, precisa terminar o pique de governo. Eu tenho muita segurança em falar da presidente Dilma. Tenho o exercício da liderança do PCdoB, sou vice-líder, mas tenho exercitado a liderança diversas vezes, tenho tido contato permanente. Ela é uma mulher que trabalha muito, sabe o que diz e, sem dúvida, representa o país de maneira absolutamente altiva, como no caso da espionagem americana contra o Brasil e contra ela própria. Então, o palanque de Dilma sofre um abalo, sim, com a candidatura de Eduardo Campos e, na Bahia, com a ida de Lídice no primeiro turno para fora do palanque dela. Isso é um risco e eu gostaria que todos estivéssemos unidos desde a primeira hora.
Algumas pessoas argumentam que há fadiga do PT no poder e a forma do PT governar começa a ser questionada. A senhora acredita que essa vai ser uma discussão importante, que vai ser colocada no processo eleitoral?
A fadiga é um diagnóstico da oposição. O “carlismo” ficou 40 anos e eles não se julgavam fadigados, que já era uma fadiga crônica dos direitos do povo. Nesses últimos 10 anos nós tivemos avanços enormes. Acabamos de ter a maior seca da história da Bahia, dos últimos 60 anos, seguramente. Você não viu uma criança morrer de gastroenterite. Nós tivemos danos animais, danos patrimoniais, na lavoura, mas não tivemos danos humanos. O governador Jaques Wagner reformou e construiu estradas, avançou nos hospitais e tem problemas também. Problemas, especialmente, no setor público, que é o setor que eu represento e acho que são necessários novos avanços e passos em direção a uma ação mais harmônica. Mas foi o melhor governo da história da Bahia, portanto eu acredito que essa coalizão é importante para manter as políticas da presidente Dilma. E aqui na Bahia, as políticas públicas que ela tem feito levaram o Estado a mudar de figura nesses últimos anos.
Como a senhora avalia o cenário da oposição? Geddel ou Paulo Souto?
É uma escolha dura, hein! Eu espero que a Bahia possa manter essa coalizão, que tem mudado, inclusive, a forma de fazer política. Talvez, até, essa mudança de forma seja responsável por algumas dificuldades da própria chapa. Inclusive, o governador tem dado a mão para o prefeito de Salvador. Deu a mão com a via expressa, está dando a mão com o metrô, que os governos de Paulo Souto, de Imbassahy, os governos “carlistas” deixaram essa circunstância crônica e essa chacota nacional que Salvador sofre em função do metrô calça curta. Então, o governador Jaques Wagner está dando a mão em duplicação de vias, criação de novas vias para desafogar o trânsito em Salvador. Ele tem sido bastante republicano, inclusive com o prefeito, que está levando a fama sozinho. Sozinho, ele não faria, e então, para nós está muito claro que temos que continuar sendo republicanos, mas não ter retrocessos.
Paulo Souto ou Geddel, qual dos dois candidatos a senhora acha que vai dar mais trabalho à chapa do PT?
Sem dúvida Paulo Souto, que já foi governador do Estado e é uma pessoa austera. Possivelmente é o candidato mais duro, mais conhecido e que, também, tem o temperamento diferenciado na forma de fazer política, mas isso é papel da oposição. Em minha opinião, qualquer um dos dois será derrotado por nossa coalizão.
Qual vai ser a principal discussão no período eleitoral? Qual será o tema mais importante do processo?
Para mim vai ser o processo de avanço social. Essa juventude que foi à rua em junho de 2013 e quando Lula foi eleito presidente da República pela primeira vez, quem tem 16 anos, hoje, tinha seis anos. Então não viram máquinas remarcadoras da inflação, não viram overnight, não viram a Bahia com crianças subnutridas e hidrocefálicas em Monte Santo, não viram a Bahia com o pior índice social do Brasil. Nós éramos pole positions das piores condições sociais do país. Obviamente, hoje, querem mais e não têm paradigma. É necessário fazer a comparação, como disse a presidente Dilma em seu pronunciamento recente: “dar as fotografias”. Isso, para mim é fundamental e definir, a partir de agora, quais avanços? Depois que saímos de uma Universidade Federal para seis, o que vamos fazer? Aprimorar o trabalho nessas Universidades. O que fazer com as Universidades Estaduais? Dar-lhes autonomia completa e, efetivamente, ampliar o orçamento do Estado. São propostas concretas de mais avanços, de mais direitos e de mais conquistas. Esse é o núcleo da pauta que nós vamos ter que trabalhar nesse processo eleitoral.
A gestão do prefeito ACM Neto está sendo colocada como das melhores avaliadas do País e a senhora colocou que esse resultado é muito em questão de ele estar também capitalizando pelas obras que o governo começa a fazer pela cidade. Como a senhora avalia esse momento da política municipal?
Primeiro é dizer que o ex-prefeito, lamentavelmente, deixou Salvador como se tivesse sido vítima de um bombardeio. Salvador foi desconstruída nesses últimos oito anos e isso gerou uma circunstância de desestímulo e vergonha da população pela nossa cidade, um vazio político. Eu gostaria muito de ter ido a esse debate sobre a sucessão municipal. Qualquer meio-fio que ACM Neto pinte é um advento e, evidentemente, não será uma situação política simples, até porque ele tem uma carga genética na política. Ele traz um grupo organizado nacionalmente para que a sua presença possa ser transformada em uma construção política nacional. Isso é óbvio, está aí posto, mas nós vamos ter que diferenciar o que é ação da prefeitura e o que é apoio do governo do Estado para que a população saiba que o governo do Estado tem apoiado muito. Eu, particularmente, tenho clareza. A forma de governar está no DNA da política, não é para todos. Quando ele teve que recuar no corte de linhas de ônibus de Cajazeiras para a Barra, de São Caetano/Liberdade para a Barra em uma visão higienista para tirar os pobres e os negros da área nobre da cidade, isso mostra a digital das elites. Eu não tenho dúvida disso, o conheço politicamente. O enfrentei ideologicamente em conceitos na Câmara dos Deputados quando ele foi contra as cotas sociais. Ou seja, não podia ter no curso de medicina “dos Santos”, “Anunciação” e “da Silva”. Por que teria que continuar sendo os sobrenomes importantes? Apenas os que tinham recursos para pagar os melhores colégios de segundo grau no Brasil e na Bahia? Então, o DNA da política está posto na forma de administrar. Poderá até fazer uma boa gerência na cidade, mas governará para qual segmento? Isso, para mim, é um divisor de águas que não me coloca no palanque do atual prefeito e em qualquer momento. Dizem que “desta água não beberei”, mas, efetivamente, o que eu tenho a dizer é que essa água tira a visão da perspectiva…
A senhora falou sobre a questão da forma do prefeito ACM Neto gerir a mobilidade. Não acredita que tem que ser feito, realmente, um movimento grande para reestruturar as linhas de ônibus para dar mais possibilidade para as pessoas da cidade irem e virem?
Mas é claro! E temos que apoiar isso, mas não com medidas de segregação. Nós temos que fazer novas vias. O governo do Estado está apoiando a prefeitura municipal de Salvador de maneira intensa para que isso aconteça e a Via Expressa, por exemplo, tem desafogado e a população precisa saber usar aquela área.
Tem que resolver esse problema de sinalização para que a população possa sair do Comércio e ir direto para a BR-324. É, de fato, algo muito interessante sair do Barbalho direto para a BR. Não precisa voltar para a Bonocô. Acredito que essas outras vias que estão sendo planejadas sem pedágio urbano, a duplicação de outras vias, também, vão colaborar. O prefeito contará com o nosso apoio, inclusive com o meu apoio para esses projetos. Mas, projetos que não passem por segregar o direito de ir e vir da população que vive nos bairros periféricos da cidade.
Voltando novamente ao tema eleição, a disputa pelo Senado, este ano promete ser muito grande. Como a senhora avalia Eliana Calmon, a possibilidade de Otto Alencar, Geddel, Paulo Souto? Vai ser realmente, uma disputa dura?
Eu espero que cada vez mais as disputas políticas se deem em torno de conceitos, de propostas, de opiniões, de história. Todos eles são legítimos e eu espero que tenhamos um debate de alto nível a cerca de propostas para a Bahia. O Senado representa os estados, a Câmara dos Deputados representa o povo, organizada em partes através dos seus partidos. Essa diferenciação de natureza é muito importante para que a população, no amadurecimento democrático, saiba por que vota, em quem vota e para que. O senador tem a obrigatoriedade de cuidar do estado de maneira permanente. Tem que conhecer o estado, conhecer os projetos estruturantes. Isso é fundamental. Um deputado é o apelo social das comunidades, dos municípios, do cotidiano, das regras de vivência que são as leis desse grande condomínio chamado Brasil, onde você não pode levantar ou abaixar a mão para perguntar se é possível fazer propaganda de remédio ou de bebida, que eu acho que não deveria ter. No entanto, é necessário você eleger pessoas para que levantem a mão para você e por isso as eleições são muito importantes. A reforma política traria um incremento importante a esse debate conceitual das ideias do Brasil porque, hoje, as representações são muito em cima do que o prefeito pensa, da proximidade do candidato. São necessários programas para que a gente possa qualificar e reconstruir a política como ferramenta de mudanças, como arte de convencer para transformar porque, hoje, as primeiras páginas não falam da vitória do aumento das verbas para a educação, não falam da vitória de você ter creche como obrigação, do avanço da educação integral no Brasil, do espalhamento das universidades.
Fonte: Tribuna da Bahia