Premiê diz que Israel "não é obrigado" a aceitar plano dos EUA

Nesta quarta-feira (29), jornais palestinos voltaram denunciar declarações do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Na terça (28), ele disse que seu governo “não é obrigado” a aceitar as propostas feitas pelo secretário de Estado dos EUA John Kerry para um acordo. No mesmo dia, o Ministério palestino das Relações Exteriores havia instado a sociedade internacional a exercer pressão para que Israel cumpra o direito internacional e cesse a ocupação.

Kerry e Netanyahu - Foreign Policy

Antes das novas declarações que evidenciam o total descompromisso do governo opressor de Netanyahu, no domingo (26), a ministra da Justiça e chefe da equipe israelense nas negociações, Tzipi Livni, havia acusado o presidente palestino, Mahmud Abbas, da responsabilidade pela falta de progresso diplomático.

De acordo com o jornal israelense Ha'aretz, em uma conferência no Instituto de Estudos sobre Segurança Nacional – um centro de elaboração de políticas dirigido pelo antigo chefe da inteligência militar, Amos Yadlin – o primeiro-ministro disse: “Israel não será obrigado a concordar com tudo o que os americanos apresentam no quadro de acordo”, e enfatizou o que considera serem os principais desafios israelenses nas negociações.

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Para começar, o reconhecimento de Israel como Estado judeu pelos palestinos e as medidas securitárias “robustas”, entre as quais o seu governo tem exigido a manutenção de tropas e outras formas de controle militar sobre porções importantes do Estado da Palestina. Segundo ele, entretanto, “a recusa dos árabes em reconhecer o Estado sionista sempre foi a raiz do conflito”.

Sobre a presença militar israelense na Palestina, Netanyahu disse: “Nós não queremos governar os palestinos, mas o significado das medidas de segurança necessárias é que alguma da soberania deles terá de ser limitada.” Ele resumiu: “A solução é um Estado palestino desmilitarizado que reconheça Israel como um Estado judeu. Esta é a única solução que funcionará.”

As autoridades palestinas já rechaçaram completamente esta questão, já que a sua libertação e a sua independência devem ser completas, e não uma aceitação de “parte” da ocupação hoje vigente, e de “parte” da soberania pela qual lutam há mais de seis décadas.

Pressão internacional a favor do direito

A chancelaria palestina, em sua declaração emitida na terça (28), pediu medidas práticas da sociedade internacional, principalmente do chamado Quarteto para o Oriente Médio (Organização das Nações Unidas, EUA, União Europeia e Rússia), para que Israel cumpra o direito internacional e as resoluções da ONU sobre o conflito.

A declaração foi motivada pela campanha de demolições de residências pelas autoridades israelenses na Cisjordânia, na região próxima a Jerusalém, sob o pretexto da falta de “permissão” da Administração Civil israelense para a construção dessas casas.

O ministério enfatizou que as demolições constituem graves violações das normas de direito internacional, especialmente da Quarta Convenção de Genebra, e descreveu-as como crimes de guerra previstos no direito internacional humanitário em que a convenção se enquadra.

Além disso, o porta-voz presidencial Nabil Abu Rudeineh criticou as declarações da ministra israelense Tzipi Livni contra o presidente Abbas, quando ela disse que ele “pagará um preço enorme por não aceitar as condições israelenses para um acordo.”

Abu Rudeineh disse à agência palestina de notícias Wafa que o objetivo, por trás desta declaração, é "evadir os requisitos do processo de paz e sabotar as negociações" há meses estagnadas. Para o porta-voz, a postura da ministra mostra que ela “não serve para ser uma negociadora.”

“Livni decidiu juntar-se aos círculos oficiais do governo israelense, que estão trabalhando para destruir a oportunidade que ainda existe hoje.” O que a ministra pede, disse Abu Rudeineh, “não está absolutamente de acordo com as bases das negociações ou com as regras e referências do direito internacional sobre o qual as negociações foram retomadas.”

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações da Wafa e do Ha'aretz