Copa 2014: Que entre em campo a pátria de chuteiras
O cinismo brasileiro nunca esteve tão em alta. E a proximidade da Copa 2014 no país realça essa contravirtude: políticos oportunistas, idealistas alienados e gente desinformada, felizmente uma minoria, surfam na onda do 'ou vai ou racha' e do 'tudo pode acontecer, menos a Copa'.
Por Daniel Quoist, na Carta Maior
Publicado 28/01/2014 15:28
O cinismo político faz parte de nossa paisagem institucional: O parlamentar envolvido em falcatruas é o primeiro a apresentar projeto de lei tornando mais rigorosa a punição de corruptos; o colunista de jornal antes influente mostra-se tão indignado com a política auriverde que chega a sugerir como exemplo de honradez burburinhos paraguaios de uma decência nunca antes percebida; apresentador de programa na tevê a cabo é contraditado em suas balelas econômicas por competente empresária e responde com um patético 'poupe-me, Luiza'; o candidato que até uns dias era o mais aguerrido defensor do governo federal se transforma no Antonio Conselheiro da terra arrasada, prevendo que a economia do país vai naufragar em questão de meses e que o país logo poderá ser chamado de Brasilnic – uma mistura cínica de Brasil com o malfadado Titanic.
O cinismo de idealistas alienados vem daqueles que buscam se deslocar de plataformas de direita, reacionárias e manipuladoras tentando um lugar ao sol nas redes sociais: replicam tudo na base rasteira do 'se é do governo com certeza é ruim para o país'; seguem palavras de ordem desfocadas da realidade como o bordão mais cínico badalado no Brasil nos últimos anos – 'imagina na Copa'; constroem castelos de cartas com a ideia desvairada que todos os problemas do país seriam resolvidos a toque de caixa se os R$ 8,1 bilhões usados – em mais de 87% vindos da iniciativa privada! – para erguer modernos estádios de futebol fossem, isto sim, destinados à construção de hospitais, escolas e universidades de qualidade europeia; apoiam o fim do voto secreto e o rigatório usando estilosas máscaras em manifestaç%u04Des em que são facilmente confundidos com os blac blocks.
O cinismo de gente desinformada se mostra no comportamento e nas falas daqueles que apenas acham ser bonito ser contra a Copa, não por ter argumentos razoáveis, mas sim porque isso lhes faz angariar simpatias ao posarem de 'politizados' nos comentários em redes sociais e em blogues ditos de política e humor na blogosfera, e também nas seções de cartas de jornais como O Globo e Folha de S.Paulo.
É a junção desses três cinismo que pode colocar a perder o bom momento que vive o Brasil, com desemprego em baixa, inclusão social jamais vista em qualquer nação com o porte do país, inclusão acadêmica que permite até ao filho do empresário do churrasquinho de gato cursar direito ou jornalismo em faculdades particulares de grife e, mais, momento em que gigantescos investimentos públicos estão sendo alocados na modernização de nossa infraestrutura aeroportuária, rodoviária, ferroviária e fluvial.
Felizmente os ventos parecem mudar de direção: o governo se articula para proteger a população e a imensa massa de turistas que aqui estarão para ver a Copa do Brasil 2014 contra a turba de baderneiros e delinquentes que pretende se imiscuir entre os legítimos manifestantes que levantarão suas pingadas bandeiras contra a Copa, o sorriso do gato de Alice e a criação de novas praias de nudismo em São Paulo.
E o governo age em excelente hora. Resta aos políticos oportunistas insuflar os ânimos de sua minguada militância para faturar em cima de um cada vez mais improvável fracasso desse que será o maior evento esportivo de todos os tempos.
Que entre em campo a pátria de chuteiras.