Mursi e parlamentares da oposição serão julgados no Egito
O ex-presidente do Egito, Mohammed Mursi, destituído pelo Exército em julho de 2013, enfrentará um julgamento por nova acusação, a de “insultar o Judiciário”, assim como outros 25 réus, inclusive políticos secularistas, como o parlamentar Amr Hamzawy. O ex-presidente está detido desde que foi deposto. Já Hamzawy publicou um artigo, nesta segunda-feira (20), em que adverte para o que considera ser a falta de garantias dos direitos civis pela nova Constituição, aprovada em referendo.
Publicado 20/01/2014 15:10
De acordo com fontes do Judiciário egípcio, citados pela agência de notícias Reuters, neste domingo (19), Mursi está sendo julgado por diversas acusações, inclusive a de incitação à violência, ainda no contexto dos protestos contra o ex-ditador, general Hosni Mubarak, que foi deposto em 2011.
Mursi deve ser julgado na próxima semana, na terça-feira (28), em um caso relacionado com as fugas de prisioneiros ligados à Irmandade Muçulmana – organização islamita transnacional à qual está ligado o Partido Liberdade e Justiça, do ex-presidente – ainda em 2011, no contexto das revoltas populares massivas que derrubaram Mubarak, conhecidas como Revolução de Janeiro.
Amr Hamzawy, que também será julgado por “insultar o Judiciário”, é professor de ciências políticas na Universidade do Cairo e parlamentar – o Parlamento foi dissolvido com a deposição de Mursi – pelo Partido Egito da Liberdade, secular e de centro-esquerda, fundado em 2011.
Seu partido integra a Frente de Salvação Nacional, que se opôs à declaração constitucional de Mursi, em novembro 2012 e emergiu como uma coalizão de proteção à revolução.
Para Hamzawy, a nova Constituição, aprovada por 98% dos eleitores que participaram no referendo (cerca de 40% dos capacitados para votar) da semana passada não tem apoio popular suficiente e não reflete um consenso.
Em seu artigo para o jornal egípcio Shorouk, desta segunda-feira, ele ressaltou a sua opinião de que o novo texto constitucional não protege os direitos e as liberdades dos cidadãos do Egito e garante ao Exército um estatuto de “custódia sobre o Estado”.
O receio de que a Revolução de Janeiro seja revertida, com a volta do Exército egípcio ao governo – o regime ditatorial de Mubarak durou três décadas – ainda coloca em questão a legitimidade da nova Constituição.
Seus opositores escolheram a estratégia da abstenção para protestar, o que garantiu uma maioria esmagadora para a sua aprovação, com a realização de um referendo aberto que, apesar dos episódios de violência, foi considerado válido por observadores internacionais.
Desde que Mursi foi deposto, de acordo com um juiz citado pelo portal Middle East Monitor, cerca de sete mil pessoas foram mortas em protestos ou confrontos contra as forças de segurança do Egito, nas manifestações contrárias à deposição e ao governo interino de Adly Mansour.
Partidos como o de Hamzawy, que tomaram parte nos protestos massivos de milhões de pessoas contra o governo de Mursi – acusado de procurar islamizar o país e centralizar o poder a favor da Irmandade Muçulmana – também têm demonstrado preocupação com a defesa da Revolução de Janeiro.
Da redação do Vermelho,
Com informações das agências