Movimento negro organiza "rolê contra o racismo" em Shopping
O Shopping JK Iguatemi, em São Paulo, fechou as portas na tarde deste sábado (18) para evitar a entrada de manifestantes que participaram de ato contra racismo. O shopping bloqueou as entradas para pedestres por volta das 14h, pouco antes da chegada dos 200 manifestantes. No sábado anterior, o mesmo shopping impediu um "rolezinho" com apoio de uma liminar.
Publicado 20/01/2014 13:51
O evento foi batizado de “Rolé Contra o Racismo no JK Iguatemi” no Facebook, mas em São Paulo a expressão "rolê" com acento circunflexo é a mais utilizada. Por volta das 16h30, a maioria dos lojistas já havia sido dispensada do trabalho e centro de compras só deve reabrir neste domingo (19). O protesto terminou por volta das 17h.
Outros "rolezinhos" marcados para este sábado deveriam ocorrer em parques, como o Ibirapuera e o do Carmo. Dois shoppings obtiveram, antecipadamente, liminares contra eventos no Tatuapé, na Zona Leste.
O ato deste sábado no JK, em repúdio ao que ocorreu na semana passada, foi convocado pela União de Negros de Educação Popular para Negros e a Classe Trabalhadora (Uneafro). Desta vez, o centro de compras, voltado ao mercado de luxo e localizado no Itaim Bibi, em São Paulo, não exibiu nenhuma liminar sobre o veto ao ato.
Em nota, o shopping informou que, para "garantir a segurança de seus clientes, lojistas e colaboradores, e de acordo com procedimento padrão utilizado em situações semelhantes, o empreendimento interrompeu temporariamente suas atividades neste sábado".
A nota diz ainda que o shopping "respeita manifestações democráticas e pacíficas, mas o espaço físico e a operação de um shopping não são planejados para receber qualquer tipo de manifestação".
Elizeu Soares Lopes (Foto acima), advogado de movimentos negros, sugeriu fazer fila na frente do shopping, sem bandeiras, para entrar no estabelecimento de "maneira ordeira". Depois, os manifestantes decidiram enviar uma comissão ao 96º Distrito Policial que registrou boletim de ocorrência por "racismo e constrangimento ilegal".
Com o boletim de ocorrência, os manifestantes pretendem entrar com um mandado de segurança contra todas as liminares que impediram a realização de "rolezinhos" e ajuizar uma ação contra o shopping JK Iguatemi.
Diferentemente dos “rolezinhos” que ocorreram nos últimos finais de semanas em shoppings, principalmente, da Zona Leste, o “rolé” em frente ao JK Iguatemi reúne a militância que luta pelo direito dos negros. O ato é um reação à liminar obtida pelo JK Iguatemi contra rolezinho no sábado (11).
Para evitar 'rolé contra o racismo', Shopping JK Iguatemi fecha as portas (Foto: Vagner Campos/G1)
Por volta das 16h30, um jovem passou pelo protesto e provocou os manifestantes. Imagens (veja o vídeo ao lado) mostram os participantes do ato pedindo para o jovem ir embora e o chamando de "fascista". O jovem saiu mostrando o dedo médio.
Segundo o militante da Uneafro, Lucas de Assis, de 19 anos , o objetivo do protesto é chamar a "atenção do mundo para o que está faltando no Brasil" e pelo fim da "opressão contra o pobre e o preto".
“O protesto não é contra a ninguém: é a favor dos pobres, a favor dos funkeiros, e a favor da liberdade”, disse Assis.
De acordo com João de Oliveira, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), a proibição dos jovens de periferia na porta dos shoppings é exemplo do "racismo institucionalizado no Brasil". No sábado anterior, o JK Iguatemi conseguiu liminar para evitar um "rolezinho".
"É o racismo do judiciário que não é novidade para nós. Isso é histórico". Para Oliveira, a realização dos "rolezinhos", principalmente na Zona Leste, já era prevista.
"Cortaram os bailes funks, proibiram os pancadões e empurraram a periferia para a barbárie. Na Zona Leste tem que opção de lazer? Tem só shopping, Parque do Carmo e o Sesc", completou.
Convocação
Na página de convocação do evento no Facebook, onde 4.665 pessoas confirmaram presença, há um texto que fala sobre o racismo em São Paulo e sobre as liminares que impediram a entrada de jovens nos shoppings.
“Esse racismo se traveste cotidianamente a medida da necessidade do opressor. Nesse momento vivemos em São Paulo e em outros grandes centros mais uma das faces do racismo estrutural brasileiro: A reação dos shoppings, da polícia e agora da Justiça em relação a presença de “jovens funkeiros” nestes estabelecimentos”, diz o texto.
Fonte: G1