Pressão por mais sanções ao Irã divide o governo dos EUA

Na tentativa de impedir que o Senado estadunidense aprove novas sanções contra o Irã, a Casa Branca divulgou informações importantes, nesta quinta-feira (16), relativas ao acordo alcançado entre o Grupo 5+1 e a República Islâmica, sobre o seu programa nuclear. A discussão sobre a imposição de um novo pacote de medidas coercivas deste tipo tem sido contínua nos Estados Unidos.

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De acordo com o jornal estadunidense The New York Times, os propulsores da medida que imporia novas sanções contra o Irã a denominam uma “apólice de seguro diplomática” que serviria ao governo de Barack Obama pressionar o governo persa para um “acordo nuclear melhor”.

A Casa Branca, entretanto, reconhece que isso seria a ignição de uma situação extremamente arriscada, dado o empenho do governo persa e de vários atores globais pela diplomacia. Neste sentido, e porque a medida vem ganhando mais apoio no Senado, o governo Obama chegou a divulgar alguns aspectos do acordo alcançado entre o Irã e o G5+1 (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China, membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e Alemanha).

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Detalhes técnicos do acordo concluído no domingo (12) foram explicados aos senadores pela Casa Branca, como o compromisso persa na redução do enriquecimento de urânio (de 20% para 5%, considerado suficiente para a pesquisa médica e a produção energética), o tamanho do estoque deste elemento químico no Irã, a natureza do seu centrifugador e como será o início da eliminação de parte do seu estoque, previsto para esta segunda-feira (20).

Segundo a proposta que senadores dos dois partidos, o Democrata e o Republicano, tentam avançar, um acordo deveria garantir que a “infraestrutura nuclear ilícita do Irã” seria desmantelada e que o país não teria participado, de alguma maneira, ou apoiado, ainda que indiretamente, atos terroristas contra os Estados Unidos, e que não teria testado mísseis balísticos de longo alcance.

Embora o Irã afirme reiteradamente que não tem objetivos militares ou bélicos para o seu programa nuclear, e demonstre também compromisso com a diplomacia, busca ressaltar, de maneira firme, o seu direito a desenvolver pesquisas e produzir energia nuclear, conforme garantido pela Agência Nacional de Energia Atômica, da qual é membro, e pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual é signatário.

Ainda assim, a proposta exige, basicamente, “uma capacidade nulificada de enriquecimento de urânio, com um desmantelamento completo das instalações nucleares do Irã”, diz Daryl G. Kimball, diretor-executivo da Associação para o Controle das Armas, citado pelo New York Times.

Apoiar Israel em caso de ataque ou diplomacia?

A medida, reconhecida como descabida por diversos líderes envolvidos nas negociações e até mesmo pela Casa Branca, continua ignorando questões geopolíticas – como o fato de o Irã estar localizado próximo a Israel, o único país que possui armas nucleares no Oriente Médio, ainda que seu arsenal nunca tenha sido inspecionado, e cujo governo não mede o tom agressivo das suas declarações contra os persas – ou o direito iraniano ao programa nuclear de fins civis, conforme o Irã busca demonstrar.

Além disso, ressalta o jornal, um tópico da proposta que os senadores tentam avançar também é grave e colocaria sobre a mesa o risco de uma guerra: o compromisso dos Estados Unidos em apoiar Israel, militarmente, se necessário, caso o governo sionista decida atacar as instalações nucleares do Irã “em legítima autodefesa”.

Uma “expressão de solidariedade” como esta, de acordo com os defensores da proposta, até já foi aprovada no Senado no ano passado. O risco de uma agressão como esta teria consequências extremas, o que é reconhecido até mesmo pelas tradicionalmente belicosas autoridades da Casa Branca.

O Plano de Ação Conjunta que o Irã assinou em novembro com o G5+1 prevê, após um prazo de seis meses de medidas de comprometimento e “construção da confiança”, um acordo final que permitiria aos persas “um programa de enriquecimento mutuamente definido, com parâmetros mutuamente definidos”, ressalta o jornal.

Entre as medidas estão a redução do enriquecimento de urânio a 20% para 5% e o maior acesso dos inspetores internacionais às instalações nucleares do Irã, em troca do alívio das sanções impostas pelos Estados Unidos (desde 1979) e pela União Europeia (desde 2010), como o descongelamento de seis a sete bilhões de dólares em recursos persas no exterior.

Moara Crivelente, da redação do Vermelho,
Com informações do jornal The New York Times