Inútil ficar triste com a economia
A oposição está se “servindo” e, na falta de coisa melhor para atazanar o governo, insiste em qualificar de “pífio” o crescimento da economia no atual período presidencial. Não adianta ficar triste: três anos de desconfianças e incompreensões do setor privado e do longo aprendizado de parte do governo produziram um resultado pobre.
Por Delfim Netto
Publicado 13/01/2014 13:44
Resultado pobre, mas em relação a quê? Em relação àquilo que era razoável esperar, depois de descontados os efeitos, aí sim, da pífia e medíocre expansão da economia mundial: a) Um crescimento de 3% ao ano, ou seja, 9% no período, ante os 6% realizados (dois terços do esperado); b) Uma taxa de inflação declinante, a partir dos 5,9% de 2010, de 0,5% ao ano, para “entregar” a meta de 4,5%, em 2013–alguma coisa como 16% no período, diante dos 19% verificados (20% acima do esperado); c) Um déficit em conta corrente de 2,7% do PIB, ante 1,8% do triênio anterior, o que o aumentou de 127 bilhões de dólares para 187 bilhões de dólares (47% acima do que havia ocorrido no triênio anterior, quando o PIB cresceu 13%, ante o crescimento atual de 6%!).
O Brasil é um país relativamente fechado do ponto de vista da economia mundial: as exportações representam 13% e as importações 14% do PIB a preços de mercado.
Mesmo assim, a conjuntura mundial tem influência sobre as variações do nosso PIB, por meio da flutuação das exportações e importações físicas e da relação dos seus preços relativos. Temos maior facilidade para crescer um pouco mais com uma conjuntura mundial favorável.
A relação é tênue, mas talvez seja uma componente, juntamente com o pequeno declínio da relação de troca, de parte da explicação da dramática redução do crescimento do PIB nos últimos três anos. O resto é responsabilidade da nossa própria política econômica.
A queda de 80% do crescimento do setor industrial entre 2010 e 2013, somada à redução da expansão da economia mundial, talvez seja responsável por cerca de metade da redução de 2% da taxa de crescimento do PIB. Há seguramente outras causas e podemos sofisticar à vontade a qualidade do diagnóstico.
No curto prazo é muito difícil deixar de aceitar o fato de que foi a brutal queda de demanda da produção de manufaturados produzidos no Brasil, como consequência da combinação mortal da supervalorização cambial acompanhada de paulatina desorganização do sistema de tarifas efetivas e da ausência do “draw-back verde-amarelo” que um dia tivemos.
O importante superávit de 139 bilhões de dólares, produzido pela correção cambial imposta pelo “mercado” em 1999, foi transformado num déficit de 187 bilhões de dólares graças, principalmente, à excessiva valorização cambial.
No período, a política econômica “roubou” bilhões de dólares de demanda externa e interna da indústria de manufaturados nacional. A carga tributária elevada, a maior taxa de juro real do mundo e o câmbio sobrevalorizado – usado como instrumento de controle da inflação – congelaram o “espírito animal” do empresário nacional, aumentando os riscos dos novos investimentos.
Felizmente, o “mercado”, de novo, impôs a correção do câmbio. A taxa de juros real (com suas idas e vindas) é menor. Isso sugere que entre 12 e 18 meses a indústria de manufaturados usará melhor os fatores de que dispõe, ajudando na recuperação do crescimento.
Por outro lado, a clara disposição do governo de manter a busca da “modicidade tarifária” com amigável audiência e respeito aos limites do setor privado, aumentou a probabilidade de sucesso dos leilões de concessão. Os primeiros resultados já são visíveis, mostrando que o diálogo está restabelecendo a confiança. Ela será fundamental para acelerar os investimentos em infraestrutura.
Finalmente, a lenta recuperação da economia mundial, agora com sinais mais fortes na economia americana, talvez possa nos dar um pequeno alento adicional.
A dissipação da possível “tempestade perfeita” que seria o acontecimento simultâneo da queda de 1 ponto no rating soberano e o início (“tapering”) do afrouxo monetário dos EUA que será, como sempre, desajeitado, depende apenas de uma ação firme e crível do governo brasileiro. Isso reforça a esperança de termos um 2014 um pouco melhor do que 2013.