Ex-premiê e general de Israel, Ariel Sharon é enterrado "impune"
O ex-premiê de Israel, Ariel Sharon, que deixou um legado de massacres, agressões militares e de ocupação dos territórios palestinos, com a construção de milhares de casas nas colônias judias, foi enterrado nesta segunda-feira (13), no deserto de Negev, ao sul. Diversos grupos palestinos e libaneses, especialmente vitimados pelas investidas bélicas de Sharon, expressaram seu ressentimento contra o ex-premiê e general.
Publicado 13/01/2014 11:07
Sharon morreu no sábado (11), aos 85 anos de idade, depois de oito anos em coma devido a um derrame cerebral. Seu corpo foi enterrado no rancho da sua família, no sul do deserto de Negev, a poucos quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza palestina.
O seu velório foi realizado no Parlamento israelense, o Knesset, que fica oficialmente em Jerusalém desde 1980, quando foi aprovada uma lei que definia a cidade, “unificada”, como a capital de Israel, em detrimento da reivindicação palestina sobre a sua porção leste. Na cerimônia estiveram presentes diversas autoridades israelenses, diplomatas estrangeiros e o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assim como o ex-premiê do Reino Unido, Tony Blair.
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O atual primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que Sharon era “um grande guerreiro” que será para sempre lembrado, "com carinho", pelos israelenses. O presidente, Shimon Peres, também disse que ele era “um soldado valente e um líder querido, que amava a sua nação, e cuja nação o amava. Ele foi um dos grandes protetores de Israel e um dos seus maiores arquitetos, que não conhecia o medo.”
Autoridades palestinas também reagiram à morte de Sharon, classificando-o de criminoso de guerra que evadiu à justiça durante toda a vida. Ele foi “responsável pelo assassinato do [ex-presidente palestino Yasser] Arafat, e nós esperávamos tê-lo visto diante do Tribunal Penal Internacional, como criminoso de guerra”, disse Jibril Rajud, da liderança do partido Fatah, que está à frente da Autoridade Palestina.
O Hamas, partido islâmico que governa a Faixa de Gaza, disse que a morte de Sharon foi “um momento histórico”, marcando o “desaparecimento de um criminoso cujas mãos estavam cobertas de sangue palestino”.
Sharon é considerado um criminoso de guerra por diversos cientistas políticos e defensores da resistência palestina e da libanesa, principalmente, mas não apenas, pelos massacres nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no Líbano, durante a invasão israelense ao país, em 1982, quando era ministro da Defesa.
Os ataques, perpetrados sobretudo por milícias da extrema-direita libanesa, foi amplamente denunciado como facilitado e até acompanhado pelas tropas israelenses sob o comando de Sharon. Além disso, outros episódios de violência extrema como no campo de refugiados de Jenin, em 2002, por exemplo, somam à lista de atos pelos quais os palestinos esperavam ver Sharon responder criminalmente.
Foto: AFP / Said Khatib
Na cidade de Khan Younis, na Faixa de Gaza, palestinos queimam cartazes de Ariel Sharon, neste fim de
semana, chamando o ex-premiê de Israel de "carniceiro".
Habitantes dos dois campos de refugiados de Sabra e Chatila demonstraram o seu ressentimento pela atuação criminosa do ex-general das Forças Armadas israelenses e ex-premiê. Ativistas internacionais e palestinos lamentaram que Sharon tenha morrido antes de enfrentar o julgamento internacional pelos crimes de guerra de que é acusado.
“Sua morte é outra lembrança horrível de que os anos de impunidade prática pelos abusos de direitos não fizeram qualquer coisa para trazer a paz entre israelenses e palestinos mais próxima [da realidade]. Pelas milhares de vítimas dessas violações, a morte de Sharon, sem enfrentar a justiça, aumenta a sua tragédia,” disse Sarah Leah Whitson, diretora da seção Oriente Médio do Observatório dos Direitos Humanos (“Human Rights Watch”).
Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Com informações das agências palestinas