Destruição de túneis da Faixa de Gaza agrava empobrecimento

A fronteira entre o Egito e a Faixa de Gaza costumava ser movimentada até há alguns meses, enquanto comerciantes traziam uma grande variedade de bens egípcios – desde suprimentos alimentícios até matéria-prima – através de centenas de túneis subterrâneos. Mas essas estruturas entre Rafah, em Gaza, e o Sinai egípcio, foram silenciados.

Túnel de Gaza - AFP

As coisas pioraram muito depois de o Exército do Egito ter assumido o poder, em julho do ano passado. Classificando os túneis de “ameaças securitárias”, o Exército lançou campanhas militares sistemáticas contra eles, destruindo-os, junto com as casas sob as quais eram construídos, do seu lado da fronteira.

Para o 1,7 milhão de pessoas em Gaza, o fechamento dos túneis sufocou uma rota de sobrevivência. Milhares de operadores dos túneis, comerciantes e trabalhadores foram atingidos duramente.

Leia também:
Inundações agravam situação humanitária precária na Faixa de Gaza
Israel lança novo ataque aéreo contra a Faixa de Gaza
5º aniversário dos bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza
Palestina: Balanço do processo infinito e da ocupação permanente
Sem energia em Gaza, palestinos vivem "situação catastrófica"

“Nunca antes nós enfrentamos este tipo de pressão do Exército egípcio e, ao que parece, as coisas vão piorar,” disse Abu Nabil, um residente de gaza que só deu o seu apelido, por questões securitárias.

Ele operava um túnel do lado palestino desde 2007. Nabil disse que mais de 90% das passagens, a maior parte das quais era operada por indivíduos privados, foram destruídos pelas forças armadas egípcias, paralisando completamente o comércio através dos túneis.

Sem emprego

Nabil costumava empregar 20 trabalhadores no seu túnel. Eles transportavam bens, suprimentos alimentícios, equipamentos eletrônicos e materiais de construção do Egito para Gaza. Agora, esses funcionários – entre uma estimativa de 20.000 trabalhadores dos túneis – estão desempregados.

A área do túnel estende-se por mais de oito quilômetros através da fronteira. Ele não é aberto ao público, exceto com a permissão do partido governante em Gaza, o Hamas, cujas forças de segurança fazem o seu monitoramento do lado palestino.

Enquanto o Exército egípcio estabelece uma zona de separação de 500 metros na fronteira e aumentou postos de controle securitário, operadores estão tentando achar uma saída. Nabil está tentando estender o cumprimento do seu túnel para que ele possa atravessar a zona. Mas os problemas estão postos para persistirem enquanto, para as autoridades egípcias, o comércio pelos túneis é ilegal.

O porta-voz do Exército egípcio, coronel Ahmed Mohammed, disse: “os túneis são usados para transportar clandestinamente militantes e grupos radicais que ameaçam a segurança nacional do Egito. Eles devem ser destruídos.” As autoridades egípcias também ressaltam que os bens enviados para Gaza através dos túneis não levam um selo legal e não são taxados.

Sufocando

Mas há uma história diferente em Gaza, onde a administração gerida pelo Hamas reconhece o comércio através dos túneis.

Alaa Alrafati, ministro da Economia do governo Hamas, disse que o fechamento dos túneis causa uma perda de 230 milhões de dólares todos os meses, sufocando cerca de 1.000 fábricas e unidades industriais que eram dependentes de matéria-prima que chegava através das passagens. Alrafati disse que as autoridades do Egito e de Gaza precisam chegar a um entendimento.

“O governo em Gaza está preparado para fechar todos os túneis do lado palestino se uma rota oficial alternativa puder ser disponibilizada pelo Egito, para suprir a necessidade de Gaza por bens comerciais e materiais de construção”, disse ele.

Alrafati afirmou que membros da liderança da administração do Hamas “estão interessados em desenvolver relações com o Egito.” Os túneis surgiram porque eram livres das restrições e representaram uma forma de contornar o bloqueio militar de Israel contra Gaza. Alguns estudos indicam que o comércio nos túneis chegava a um bilhão de dólares por ano.

O professor Sameer Abu-Mdalla, reitor da Faculdade de Economia da Universidade Al-Azhar, em Gaza, disse que o número total de túneis antes de 2006 era 60, mas que após a imposição do bloqueio, por Israel, em 2007, e o fechamento das passagens fronteiriças, o número aumentou para cerca de mil.

Abu-Mdalla ressaltou que os túneis ajudavam a suprir 60% das necessidades de Gaza por matéria-prima e outros bens.

Legitimado

O professor disse que a destruição dos túneis pode impulsionar ainda mais a taxa de desemprego na Faixa de Gaza. Por isso, a administração do Hamas havia legalizado o comércio através dessas passagens e introduzido diretrizes e impostos. Assim, 15% do orçamento do governo provinha dos túneis e outras fontes relacionadas. Entretanto, também há aspectos negativos.

“Por exemplo, os túneis não geravam desenvolvimento em Gaza, e levou ao aparecimento de 800 milionários que usavam o rendimento da operação dos túneis para a lavagem de dinheiro.”

Com o fechamento dos túneis, entretanto, são as pessoas comuns de Gaza que estão pagando o preço. Seja pela pobreza, o desemprego ou o isolamento, a vida deles piorou de todas as formas.

Fonte: The Electronic Intifada
Tradução de Moara Crivelente, da redação do Vermelho