Colômbia: Presidente pede perdão por violação de direitos humanos
"Há alguns anos foram feitas acusações injustas contra a Comunidade de Paz de San José de Apartadó, às quais a Corte Constitucional ordenou que o Estado se retratasse. Hoje, em meio a um cenário dos direitos humanos, quero cumprir essa retratação (…) E o faço com a firme convicção de um democrata (…) Reconheço que a Comunidade de Paz é um meio importante para a reivindicação dos direitos dos colombianos (…) Por isso pedimos perdão. Eu peço perdão”.
Por Mateus Ramos, especial para a Adital
Publicado 27/12/2013 09:18
Esta foi a declaração do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que, finalmente, acatou a ordem da Corte Constitucional do dia 06 de julho de 2012, na qual foi estabelecida a obrigação do Estado de se retratar com a Comunidade de Paz São José do Apartadó, além de solicitar a adoção de medidas para que novas acusações sejam evitadas.
De acordo com um comunicado divulgado pela própria Comunidade de Paz, a retratação é importante, já que cumpre uma parte da ordem da Corte Constitucional, contudo só isso não basta. "Sentimos falta do cumprimento da segunda ordem emitida pela Corte, que consiste na definição de medidas para que novas acusações injustas sejam evitadas”.
"Esperamos que o senhor presidente decida conhecer e avaliar a nossa situação vitimizada, e decida tomar medidas que detenham, de maneira eficaz, o processo de extermínio que os militares e paramilitares nos causam”, afirma o documento.
Segundo a Comunidade de Paz, são várias acusações de violação dos direitos humanos, dentre elas estão: saques; destruição de moradias, cultivos e bens materiais; tortura; abusos sexuais de mulheres, jovens, crianças e até de animais; além do desaparecimento de pessoas. A Comunidade também acusa os militares e paramilitares de envenenamento das fontes de água, como estratégia de terrorismo. Tudo isso para beneficiar empresas aliadas. "Por conta disso perguntamos: será que apenas um pedido verbal de perdão vai deter esse crime sistemático contra nossos direitos?”.
Desaparecimentos
Um dos casos mais emblemáticos de desaparecimento de pessoas é o do jovem Buenaventura Hoyo Hernández. Ele foi levado, à força, no dia 31 de agosto deste ano, por um grupo paramilitar e desde então não foi mais visto.
Alguns organismos intergovernamentais já exigiram a soltura do rapaz, porém, "de forma cínica”, os grupos armados do governo afirmam que o estão procurando nas cadeias e hospitais, sem sucesso. "Esse é apenas mais um dos casos que nos fazem perguntar até que ponto as palavras, incluindo as palavras de perdão, podem servir para encobrir a barbárie cometida pelo Estado, que, inclusive, assinou termos internacionais, como a Convenção Interamericana contra o Desaparecimento Forçado de pessoas? Ele mancham tais acordos com suas ações”, enfatiza a Comunidade de Paz.