Jerônimo De Boni: De Marx a Paulo Freire
A maior contradição entre a nova concepção de Ensino Superior no Brasil e suas fases preparatórias é o planejamento feito para minimizar as interferências subjetivas que possam pôr em risco sua eficiência. Isso vai ao encontro da Pedagogia Tecnicista, inspirada nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade, ao contrário da tentativa de estabelecer, no Brasil, uma pedagogia “libertadora-histórico-crítica”, inspirada na Escola de Vigotski.
Por Jerônimo De Boni*, para o Vermelho
Publicado 24/12/2013 10:55
A intelectualidade burguesa defende sistematicamente sua concepção pedagógica ligada, historicamente ao liberalismo, e neoliberalismo e agora a fase superior do capitalismo, o imperialismo.
Os professores e pedagogos veneram Paulo Freire e sua formação marxista, fariam tudo por ele, menos lê-lo, pois a empregabilidade e o sucesso da vida dependem, cada vez mais, do desempenho técnico, do rigor intelectual, da atualização do pensamento e do conhecimento, deixando de lado o papel fundamental da educação que é possibilitar a apropriação do acervo cultural da humanidade para realizar as ações necessárias à construção de uma nova forma social. Freire busca a independência crítica do homem através da sua libertação. Essa liberdade não é a da individualidade liberal, mas a da pessoa enquanto consciência autônoma em comunhão outras. O diálogo entre professor e aluno, na concepção freiriana, nada tem de subjetividade, e a tomada de consciência se insere em um processo objetivo histórico de emancipação cultural.
Historicamente, o fato de que as pedagogias críticas tenham se difundido entre os educadores ao longo dos anos 80 não constitui condições suficientes para romper com a ideia da educação como o instrumento mais poderoso de crescimento econômico e, por consequência, de regeneração pessoal e de justiça social. A mobilização não chegou, em nenhum momento, a se hegemonizar na prática educativa. Estas concepções pedagógicas críticas agiram como contraponto às ideias sistematizadas na teoria do capital humano. Para compreender a necessidade de ruptura com as apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana é necessário praticar as conclusões de Marx no “método da economia política’”, onde concluiu que o movimento que vai da síncrese (‘a visão caótica do todo’) à síntese (‘uma rica totalidade de determinações e relações numerosas’) pela mediação da análise (‘as abstrações e determinações mais simples’) constitui uma orientação segura tanto para o processo de descoberta de novos conhecimentos (o método científico) como para o processo de transmissão-assimilação de conhecimentos (o método de ensino). Um bom início desta ruptura é quebrar a “obrigação didática” que o professor tem de dar aula em pé frente aos alunos, pois a visualização de “baixo para cima” evoca o sentimento de inferioridade, física e psicológica dos alunos.
*Jerônimo De Boni é professor municipal e dirigente do Partido Comunista do Brasil de Passo Fundo-RS