Jorge Mautner receberá o título de Cidadão Paulistano 

O Projeto de Decreto Legislativo que concede o título foi proposto pelo vereador Orlando Silva e será entregue durante Sessão Solene que será realizada no próximo dia 03 de dezembro, na Câmara Municipal de São Paulo.

Homenagem Jorge Mautner

Para o proponente, a Câmara é enaltecida ao conceder esse título a Jorge Mautner. “Dar esse título é reconhecer a nossa cultura, essa mistura, essa amálgama, como o próprio Mautner fala, que briga todos os dias para que o Brasil dê certo, porque antes de qualquer coisa, Mautner é um homem loucamente apaixonado pelo Brasil”, disse Orlando.

Henrique George Mautner, é conhecido pelo Brasil afora por Jorge Mautner e apenas como músico para uns, como compositor e escritor para outros, e ainda como profundo conhecedor das questões nacionais por mais algumas pessoas.

Quem conhece minimamente a sua história, acha que Mautner estava predestinado a conhecer o Brasil. Sua mãe, a iugoslava Anna Illichi e seu pai Paul Mautner fugiram do holocausto e após um mês da chegada do casal, Jorge nasceu, ou renasceu como o próprio diz: “Maiakóvski viu, outros viram também; que a humanidade vem renascer no Brasil”, em sua canção compartilhada com Gilberto Gil, “Outros viram”.

Desde cedo teve contato com características da formação do povo brasileiro e ainda sob os cuidados de sua babá Lúcia, conheceu o candomblé. Quando tinha 15 anos escreveu o seu livro Deus da Chuva e da Morte (publicado em 1962), seguidos por Kaos (1964) e Narciso em Tarde de Cinza (1966), trilogia conhecida como Mitologia do Kaos.

Em 1962, dois anos antes do começo da ditadura militar, ingressou no Partido Comunista Brasileiro. Em 1964 foi preso e libertado com a condição de “se expressar com mais cuidado”. Em seguida, em 1966, Mautner vai para os Estados Unidos e trabalha com a tradução de livros na Unesco. Ainda fora do Brasil, em 1970, em Londres, conheceu Gilberto Gil e Caetano Veloso, encontro que marcou estruturalmente a produção da música brasileira.

Outra união que enriqueceu o cenário musical do país foi com Nelson Jacobina, quando Jorge escrevia no jornal O Pasquim, veículo que de forma bem humorada fazia frente às ideias conservadoras em plena ditadura militar.

Ainda nos anos de chumbo, participou do show-manifesto dirigido por Jards Macalé para comemorar os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em que outros artistas como Chico Buarque, Edu Lobo, Raul Seixas, Milton Nascimento, entre outros, também participaram.

Amálgama brasileira

Entre as suas obras, a elaboração sobre a amálgama brasileira, ou seja, o processo de fusão, mistura, mescla, a liga da identidade da cultura brasileira é mais ou tão importante quanto suas músicas, pois através dessa concepção sobre o povo brasileiro é que emana toda a sua elaboração artística.

Exímio conhecedor da história e realidade brasileira, para Jorge Mautner “a primeira expressão e afirmação fundamental e política de nossa amálgama foi o episódio da expulsão dos holandeses, e sua segunda grande expressão foi a Conspiração Mineira dos poetas de Minas Gerais com sonetos de amor de Dirceu para Marília”.

Apaixonado pelo Brasil, Mautner denúncia que os cronistas, escritores foram contratados a peso de ouro para em seus artigos, e livros e pregações pela imprensa, para jogarem água gelada em cima dessa mistura brasileira.

“Para caluniarem e debocharem do povo brasileiro. Eu mesmo sou testemunho total deste período, frases como: "de produto nacional basta eu", "complexo de cachorro vira-lata", "samba do crioulo doido", "o Brasil é muito pobrezinho e inferior","nós temos que ser como a Bélgica", "nós temos que imitar a Alemanha" – e coisas mais medonhas ainda”, escreveu Mautner.

Otimista, ele celebra os rumos que o país trilhou e que está em curso. “No entanto, o povo não ligou para isso, não só Getúlio Vargas foi eleito, como determinou todo o futuro de nossa história. Darcy Ribeiro conseguiu, através de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, a construção de Brasília. Surgiu o Tropicalismo, e agora na plenitude da democracia, temos a primeira mulher presidente. E esta amálgama, como vimos, é a única esperança concreta da sobrevivência da espécie, da democracia, dos direitos humanos que vieram do Sermão da Montanha”, sintetizou.

Da redação, Ana Flávia Marx

Serviço:
Entrega do Título de Cidadão Paulistano a Jorge Mautner

Data: 03 de dezembro
Horário: 19 horas
Local: Salão Nobre da Câmara Municipal
Endereço: Viaduto Jacareí, 100 – Bela Vista
Contato: 11 3396-4299