Estudantes da USP presos em reintegração são levados a presídio

Os estudantes da Universidade de São Paulo (USP) Inauê Taiguara e João Vitor Gonzaga, detidos ontem quando estavam nas proximidades da reitoria da instituição, foram transferidos do 91º DP para o Centro de Detenção Provisória de Osasco, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Eles foram presos durante a reintegração de posse do local e são acusados de furto qualificado, dano qualificado ao patrimônio e formação de quadrilha. No entanto, o DCE afirma que não há provas para tal.

"Inauê e João Vitor sequer estavam dentro da reitoria. Não há nenhuma prova ou evidência contra eles. Trata-se de uma perseguição política absurda", afirma o Diretório Central de Estudantes (DCE) Livre da USP.

Ainda de acordo com o Diretório, ontem os estudantes chegaram a ser agredidos física e psicologicamente em interrogatórios da PM, configurando, conforme denunciado pelos advogados do DCE, caso de tortura. "Tal fato não encontra precedentes na história da USP. É um absurdo. Não pode ser admitido", indigna-se o DCE.

A entidade representativa dos estudantes acusam o reitor, João Grandino Rodas, e o governador do Estado de SP, Geraldo Alckmin (PSDB), de serem os responsáveis pela criminalizarão do movimento estudantil e exigem que a reitoria se pronuncie imediatamente sobre o fato.

A presidenta da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP), Carina Vitral, acompanha a situação dos alunos e está junto com o DCE Livre da USP na busca por uma solução para a libertação dos detidos. “Mais uma vez [João Grandino] Rodas segue a via da truculência e executa a reintegração. Com ele não há diálogo. Dois estudantes foram presos e integrantes do DCE estão sendo perseguidos. Não vamos aceitar a criminalização do movimento estudantil em São Paulo”, afirmou.

A decisão autoritária da reitoria da instituição, em acionar e incentivar a força bruta ao invés de promover o diálogo dá a dimensão de qual tem sido a relação da gestão de João Grandino Rodas com a comunidade acadêmica. “É lamentável e inadmissível que a direção de uma instituição respeitada internacionalmente trate a educação como ‘caso de polícia’”, lamentou a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Vic Barros.

“A reintegração de posse foi negada duas vezes pela Justiça, em uma decisão histórica que exigia da reitoria mais diálogo com os estudantes. Como em toda ordem democrática, abriu-se um canal de negociação. No entanto, a direção da USP colocou sobre a mesa, ao invés de propostas, um mandato de segurança”, disse o diretor da UNE e integrante do DCE da USP, Thiago Aguiar.

Muitas manifestações de solidariedade foram enviadas. O Departamento de Filosofia se pronunciou em defesa dos estudantes. Muitas entidades, CAs e DCEs também. Parlamentares como os deputados estaduais Carlos Giannazi (Psol) e Adriano Diogo (PT), presidente da comissão de direitos humanos da Assembleia Legislativa de SP, além do deputado federal Ivan Valente (Psol), vereador Toninho Vespoli, senador Eduardo Suplicy (PT) e outros já estão e continuarão se envolvendo na defesa de nossos colegas.

O DCE convoca a todos a envierem apoios e manifestações. Nesta quarta-feira (13) está marcada uma assembleia geral às 18h na FAU.

Abaixo carta do Senador Eduardo Suplicy ao Secretário de Segurança do Estado sobre a situação dos estudantes da USP.

Caro Secretário de Segurança do Estado de São Paulo, Dr. Fernando Grella Vieira,

Cumprimentando cordialmente V. Exa., recorro aos seus bons ofícios para analisar e tomar as providências cabíveis relativas à prisão dos estudantes da USP – Inauê Taiguara Monteiro de Almeida e João Vitor Gonzaga Campos -, durante operação policial desencadeada no Campus da Universidade de São Paulo para cumprir mandado de reintegração de posse da Reitoria.

As informações que recebo – e que constam das mensagens eletrônicas anexas – dão conta de que as prisões foram efetuadas de modo arbitrário, pois os citados estudantes não participavam da ocupação da Reitoria no ato da reintegração. O local, inclusive, estava vazio, pelos dados que tenho. Os jovens estavam passando no local, vindo de uma festa que ocorrera nas dependências da Faculdade de Filosofia, tendo, inclusive, recebido a solidariedade, na delegacia, do Prof. Milton Meira do Nascimento, que é chefe do Departamento de Filosofia da USP.

Além da atuação da Polícia Militar nessas prisões, que pelos relatos foi arbitrária, há, também, uma postura irredutível da Polícia Civil no sentido de enquadrar os dois jovens em crimes de formação de quadrilha, dano ao patrimônio público e furto qualificado.

Certo de sua atenção para o caso, peço que faça uma análise minuciosa da questão, pois, pelos dados que tenho, os estudantes precisam ser libertados o mais rápido possível.

Cordialmente,

Senador Eduardo Matarazzo Suplicy

Da redação do Vermelho com DCE Livre da USP

(foto: estudantes da USP presos foto Vanessa Fajardo G1)