Publicado 12/11/2013 12:06 | Editado 04/03/2020 16:27
Recentemente fui convidada a coordenar a execução do encontro de encerramento do Projeto Mata Branca, em Fortaleza. Eu, particularmente, tenho paixão por quem inspira boas ideias e boas práticas. Meus inspiradores de hoje são homens e mulheres catingueiros, acostumados a conviver com a natureza, entendendo-a, lutando junto, transformando-a em aliada.
E fiquei pensando que provavelmente eles não têm nenhuma teoria sobre desenvolvimento sustentável. Nunca tiveram acesso a dita globalização, a não ser através da tv! No entanto, dão exemplos fantásticos de convivência com a natureza. Sem alardes ensinam que a sustentabilidade é a relação de respeito e cumplicidade com meio que se vive. Não tem nada de sacro nas ideias e ações que nos colocam lado a lado com a natureza.
A Revolução Industrial cumpriu a função de colocar o homem no centro do universo, retirando de nossas mentes os medos como ferramentas de submissão. Saiu a figura do “Deus” e entrou a do homem supremo modificador da natureza com uso da técnica e da tecnologia, criador de uma natureza artificial. E assim, nos mostrou que podemos ousar, fazer, voar, que não há limites para criação humana. E, nós, como meninos travessos, quisemos ir além do Pai. Submetemos tudo e todos aos ditamos do crescimento a qualquer preço. Destruímos, matamos, escravizamos outros homens e natureza.
No início do século passado, começamos a sentir, com maior radicalidade, o preço a ser cobrado. Mas, como bom negociador, negociamos, nos fizemos de desentendidos, e continuamos a consumir nossa cota de humanidade em relação com meio que vivemos. Da Primavera Silenciosa, edição de 1962, com as primeiras denúncias sobre o uso indiscriminado de pesticidas sintéticos e a proposta alternativa de uso de substâncias naturais, passaram-se mais de 60 anos.
O que de fato mudou? Muitas ideias e ações posteriores nos dão conta que ainda temos grandes e graves lacunas no entendimento do significado universal sobre sustentabilidade e desenvolvimento. Trata-se de um movimento do individual para o coletivo. Quando percebermos que a globalização, que uniformiza culturas e misérias, é crescimento puro para poucos (somente 50 países detém 90% da concentração do comércio mundial!), que nos faz sonhar com o consumismo dos ricos e, como anestésico, nos coloca na inércia, porque ficamos imaginando que podemos ser iguais.
O capital pode mudar de forma e de mãos: o capital pode e deve ser humano! O crescimento que fez toda a trajetória global com a submissão das gentes e da natureza, urge por uma mudança de rota: quer ser desenvolvimento sustentável com qualidade de vida. E precisamos de políticos e gestores que representem o novo. E como disse um catingueiro que nunca leu livros de gestão “o mais importante é dar o primeiro passo”. E ele deu e é feliz na sua “Mata Branca”.
*Rijarda Aristóteles é Diretora do Instituto da Cidade e da AR Eventos Sustentáveis
Fonte: O Povo
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