Cartes aprova lei que amplia políticas neoliberais no Paraguai
A lei de Aliança Público Privada, proposta pelo presidente Horácio Cartes, foi aprovada pelo senado paraguaio na noite de segunda-feira (28). Mais de cem mil pessoas foram às ruas no Paraguai tentar impedir a aprovação da lei que amplia as políticas neoliberais implantadas no país.
Mariana Serafini* de Ciudad Del Este, especial para o Portal Vermelho
Publicado 28/10/2013 22:42
Em menos de cem dias de governo, Horácio Cartes já tomou algumas medidas preocupantes. Se depender dele, o avanço neoliberal segue a passos largos no país. O presidente é o responsável pela criação da Aliança Público Privada que claramente favorece a venda de patrimônios estatais e prejudica os trabalhadores.
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Agora aprovada, a APP permite que o poder executivo tome decisões sem consultar o Legislativo e prevê a privatização de patrimônios estatais – estradas, aeroportos, sistema de educação, saúde e distribuição de energia – através de aliança com setores privados.
Não são poucos os motivos que levaram os cem mil paraguaios às ruas. Em todo o país as palavras de ordem eram unânimes: “APP No!” e “Fuera, Cartes”. Boa parte das manifestações foram articuladas pela Frente Guasu, coalizão dos partidos de esquerda cujo dirigente é o senador Fernando Lugo – presidente deposto com o Golpe Parlamentar em 2012 –. Durante as semanas que antecederam a manifestação, a Frente Guasu fez diversas reuniões com organizações campesinas e urbanas em todo o país para alertar o povo sobre os riscos da APP.
O líder estudantil Willians Kuarahy afirmou “se privatizam a educação e saúde vamos passar o resto de nossas vidas trabalhando para pagar aos grandes empresários. A educação não se mede pela cotação da bolsa de valores!”.
Apesar de toda a indignação popular, o senado paraguaio aprovou a lei, mas os líderes das manifestações afirmaram que o povo seguirá na luta, agora pela revogação do texto. Em Assunção, onde a concentração popular era maior, imediatamente após a aprovação da lei, a polícia começou a agredir os militantes com objetivo de dispersar a manifestação. Ainda não há dados sobre o número de feridos.
#NiLindaNiFacil
Mesmo com o Paraguai nas ruas, Horácio Cartes segue com o discurso entreguista. Recentemente adotou o slogan: “Paraguai Fácil” e apresenta o país, em reuniões com grandes empresários estrangeiros, como uma feira de negócios.
Em uma reunião no Uruguai no final de semana, o presidente fez a infeliz afirmação: “o Paraguai deve ser fácil, assim como uma mulher linda”. Questionado por uma repórter uruguaia sobre o machismo expressado na frase ele respondeu “se achar mulheres lindas é machismo então sou machista”.
A hashtag #NiLindaNiFacil foi utilizada no microblob Twitter por manifestantes que mostravam ao presidente através das mini postagens o valor da mulher paraguaia. E nas ruas não foi diferente, “se na minha casa não tem arroz, nem feijão, e se eu não posso pagar médico e escola para os meus filhos o que me resta fazer? Vou me prostituir? Não! A mulher paraguaia trabalha e luta pelos seus direitos, é isso que eu estou fazendo aqui”, afirmou a militante Beatriz.
O povo paraguaio não aprova tais atitudes presidenciais, as recentes pesquisas realizadas no país mostram Cartes com menos de 50% de aprovação.
Em Ciudad Del Este, fronteira com o Brasil através da Ponte Da Amizade (principal via de ligação entre os dois países) os manifestantes fecharam a conexão durante pouco mais de uma hora. Cerca de três mil pessoas marcharam em direção à fronteira, a ação teve ampla participação tanto nos estados de Alto Paraná (Paraguai) quanto no Paraná (Brasil). Já no município de San Pedro, a forte repressão policial impediu a manifestação. Em Assunção, a concentração contou com mais de 60 mil pessoas.
*é jornalista, blogueira latino-americana e colaboradora do Portal Vermelho