Documentário “Verdade 12.528” mantém viva memória da ditadura

Filme resgata as violações dos direitos humanos investigadas pela Comissão Nacional da Verdade, ainda impunes e até hoje presentes no Brasil.

Quase 50 anos depois do golpe militar que instaurou uma ditadura no País (1964-1985), foi criada, em 2012, a Comissão Nacional da Verdade. A lei que a criou (12.528/2011) dá nome ao documentário “Verdade 12.528”, lançado na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Dirigido por Paula Sachetta e Peu Robles, o filme busca manter viva na memória uma das fases do Brasil que até hoje não é uma página virada.

“Afinal, que crimes daquele período ainda estão sem averiguação e continuam impunes? Quantos foram mortos, como foram mortos, quem os assassinou? Onde estão os corpos de pais, irmãos, irmãs, filhos e filhas de centenas de cidadãos brasileiros? Até onde chegará o trabalho da Comissão da Verdade e o que a população espera dela?”

Regina e Dona Ottília Berbert, irmã e mãe de Ruy Carlos Vieira Berbert, no quadro ao fundo, desaparecido desde 1972. Ruy Carlos era militante do Molipo, foi preso em Natividade à época Goiás, hoje Tocantins e três dias depois apareceu enforcado em sua cela. A versão oficial: suicídio. Como muitos presos da época, foi brutalmente assassinado. Até hoje o corpo não foi entregue à família. (Foto: Peu Robles)

A Comissão Nacional da Verdade foi criada com o objetivo de apurar as violações de direitos humanos praticadas por agentes públicos entre 18 de setembro de 1946 a 5 de outubro de 1988. Formada por sete membros, 14 assessores e ampla equipe de pesquisadores, a comissão deve entregar seu relatório em maio de 2014. Embora vá apurar e investigar as violações do período, a não terá poder para julgar nem punir.

O documentário vem dar a sua contribuição ao resgate dessa verdade, que é um primeiro passo para resolvermos o nosso passado. Afinal ainda hoje é possível ver resquícios daquele período, já que jovens negros e pobres das periferias do País ainda sofrem as práticas repressivas do Estado. Um exemplo recente é o caso do Amarildo, torturado até a morte por policiais militares da UPP da Rocinha, segundo apontou o Ministério Público.

Dona Adalgisa é moradora da região do Araguaia. Em suas mãos a foto de Lucio Petit, o Beto, desapaecido em 1974. Por ter colaborado com o grupo da guerrilha, ela teve sua casa queimada, foi torturada, o marido, preso, e sua família, perseguida pelo Exército. (Foto: Peu Robles)

“Não nos importamos com os mortos e desaparecidos políticos? Hoje somem Amarildos. Não nos importamos com a tortura de presos políticos? Hoje jovens negros, pobres e da periferia são torturados, todos os dias, da mesma forma. O que buscamos mostrar no filme é exatamente isso: que a impunidade do passado dá carta branca à impunidade do presente”, disse Paula Sachetta ao blog do Sakamoto. Sem revanchismo, nem saudosismo, o documentário construir uma memória hoje anestesiada na sociedade brasileira.

O documentário traz depoimentos de pessoas que sofreram com a repressão ou foram afetadas por ela. Foram entrevistadas mais de 40 pessoas em São Paulo, Jales e Araguaia, como Amélia Teles, Clarice Herzog, Franklin Martins, Marcelo Rubens Paiva, entre outros. O filme começou a ser rodado em 2012 e contou com financiamento coletivo, via Catarse, onde foram arrecadados R$ 18.350 em 45 dias.

Serviço
Verdade 12.528
Direção e produção: Paula Sacchetta e Peu Robles
Montagem e finalização: André Dib
Música original: André Balboni
Som direto: André Mascarenhas
Cor: Pedro Moscalcoff
Efeitos: Alison Zago
Mixagem: Gui Jesus Toledo
Produtora de áudio: Estúdio CANOA
Realização: João e Maria.doc
Cor, 55 minutos
 

Fonte: Revista Forum