Luiz Carlos Antero: Luta de contrários e centralidade
Parte 2
Afirmamos, no epílogo do primeiro artigo acerca do atualizado dilema central dos comunistas, que não pode pairar nenhuma dúvida quanto à sua política: a histórica e respeitada força política do Brasil não deve celebrar seu ocaso na sua equívoca negação, num falso dilema posto à sua antítese.
Por Luiz Carlos Antero*
Publicado 15/10/2013 09:42 | Editado 13/12/2019 03:30
E “negacear, ao féretro da dialética, o justo leito de suas múltiplas determinações: a luta, revolucionário impulso vital da vida e da História”. E, aquém das mais elevadas pretensões estratégicas, em sua atual fase tática na democracia burguesa, o berço seguro do voto nos comunistas.
Concluímos, ao deplorar argumentos simplistas sobre nossa inserção institucional, na penumbra de algum festivo mas envergonhado funeral, ou no revelador e abafado contencioso à patética moda do avestruz encapuçado ao solo: “trata-se de um tema acerca do qual não se deve claudicar diante (1) da importância da participação eleitoral dos comunistas e (2) do apoio aos governos iniciados em 2003 — frutos das iniciativas que tem na Frente Brasil Popular, de 1989, seu marco inaugural”.
Uma confluência privilegiada na unidade e luta de ideias “em torno do avesso à ‘doença infantil’, do absenteísmo e isolamento nas batalhas do âmbito da democracia burguesa”, entrelaçada às raízes da conquista de uma inédita mudança num rito de cinco séculos e avanços conquistados nos últimos dez anos em nosso país.
Entretanto, é necessário elucidar ainda mais, ante a renovação da luta de ideias e da necessidade da construção partidária, o rumo do protagonismo de um partido de feição histórica revolucionária e marxista-leninista. Ilustramos de modo concreto, dialético (e, aí sim, “contemporâneo”), ao fenômeno da crescente e cumulativa pressão popular, das multidões nas ruas em junho de 2013 — motivo de equívocas e aflitas, desconexas e vazias leituras diante da ausência de rumos e desvios do fator subjetivo no último decênio.
E reiterado pelas manifestações de outubro no Rio de Janeiro, da pródiga mobilização de professores, estudantes e bancários, o povo firmemente posto ao seu lado.
Programa das multidões
Reafirma-se que, além de compreender o país de hoje, é indispensável, central e urgente o esforço de inserção dos comunistas mediante um afirmativo e unitário programa popular e democrático enquanto fio condutor das lutas de rua — para as quais qualquer ilusão de pauta institucional e toda pausa na movimentação terá sua resposta num sentido provisório e cumulativo, distante do impensável êxito do pensamento ou desejo de uma nova acomodação.
Ao nos debruçarmos ao exame das legítimas manifestações, das exigências postas na ordem do dia, é impossível olvidar que o mundo apenas se transforma pela via do ímpeto das multidões que criticamente clamam, nesta nova onda exemplar, por seus direitos a uma nova política ou contra o abusivo poder dos bancos que recai sobre toda a sociedade.
Este povo tem aguda visão: faz uma má política quem se agacha em todas as instâncias (nos governos, nos partidos políticos, nos diversos meios de controle da vida social). E identifica quem se alinha ao prumo da liberdade, se integra às lutas e apoia a superação dessas práticas do arco da velha, transformando a vida em pequenas ou grandes ações rumo a grandes mudanças de qualidade.
Tudo se realça no país: é notória, por exemplo, a falência do chamado sistema de segurança e o crescimento da violência sobre toda a população. O Estado brasileiro revela absoluta incapacidade ao lidar com problemas sociais acumulados ao longo de décadas e gestões.
Aos comunistas, que tem lado, cabe a inadiável tarefa de pressionar o governo — que, somente tem a ganhar, e muito além do êxito eleitoral —, impulsionar transformações de fundo turbinadas pela energia popular em alta. A falência do Estado deve, de modo implacável e insofismável, ser debitada às elites governantes ao longo de cinco séculos. Aliás, uma obra pendente que avança para guilhotinar essa força renitente, dividida, vacilante e pusilânime — o PT. E, com as esquerdas, as conquistas do povo brasileiro.
Berço factual do voto na urna
Os avanços de um NPND não dependem portanto da mansa e genuflexa convicção institucional de que o Brasil precisa viver uma era de paz, desenvolvimento e prosperidade social: o pleno sucesso de suas metas requer uma efetiva ruptura com esse passado de trevas e a passagem de novas luzes em seu horizonte. Desde o antigo adágio popular, não se faz omelete com os ovos na casca. É necessário quebrar os velhos interesses e privilégio
s para a realização do novo, adiante das metas meramente reformistas.
Algo que o inimigo de classe antecipa, indiferente e ao largo de qualquer proselitismo revolucionário dos comunistas, ao ofender a população e os trabalhadores com suas inarredáveis políticas de opressão, numa permanente pregação da violência. E espera dos comunistas que prossigam na ilusória construção de grandes bancadas parlamentares para um tempo remoto. E que somente não será guilhotinada caso o partido se converta numa agremiação socialdemocrata em eternos devaneios de imaginário poder.
A partir daí, desde uma visão estratégica, a questão central se apresenta a partir do profundo exame, em suas raízes, dos acontecimentos que agitam hoje o país. Urge disseminar, nas ruas e em todas as redes, um conciso programa desde as necessidades mais imediatas e sentidas do nosso povo, focado no aprofundamento da democracia política e voltado ao combate e superação de um factual simulacro da ditadura do capital financeiro.
E que impede ainda hoje os avanços do governo eleito pelo voto popular rumo à realização das demandas sociais e do desenvolvimento nacional soberano, justo, progressista, de combate à concentração da renda e da riqueza.
Este é o norte estratégico que deve orientar as demandas apresentadas nas ruas. E isso ocorre de modo efetivo no mais avançado prumo do interesse popular, dos programas conquistados, do financiamento da Educação, da nossa caótica Saúde, das lutas pelas reivindicações da mobilidade urbana, do passe livre ao transporte público de qualidade, redução das tarifas de energia, do custo de vida, do fomento a uma enérgica campanha popular pela redução dos juros e formidáveis lucros da casta que, ainda sob os auspícios do Estado, amealha fortunas na jogatina financeira (e retoma fôlego nas prosaicas reuniões do Copom).
Um programa avesso ao receituário da irresponsabilidade fiscal, inflacionária e cambial, da instabilidade engessada ao superávit primário — entre as amarras ao centro hegemônico financeiro mundial.
Trata-se do combate à direita e seu polo conservador, aos seus reacionários setores aliados internos e externos nas ameaças à democracia. O atual terreno da luta de classes, no qual se deve disputar cada milímetro da influência sobre as massas em movimento.
O berço factual do voto na urna.
* Luiz Carlos Antero é Militante do PCdoB-CE