José Reinaldo: “O PCdoB nasceu, vive e prosseguirá na luta”
Dando prosseguimento à 21ª Conferência Estadual do PCdoB-CE, à tarde do sábado (12) foi dedicada aos debates em torno das teses propostas para o 13º Congresso do Partido. Representando o Comitê Central, José Reinaldo Carvalho, secretário nacional de comunicação do PCdoB, apresentou as teses e propôs a participação da militância na construção do documento final da Conferência.
Publicado 12/10/2013 20:11 | Editado 04/03/2020 16:27
José Reinaldo (foto) iniciou a intervenção destacando a importância da militância na construção do 13º Congresso do PCdoB. “As teses e as resoluções são fruto de meses de debates, em todas as cidades do país. Foi com a participação da nossa militância, junto à Tribuna de Debates, que construiu o nosso Congresso. Nosso Comitê Central acolhe a contribuição de todos os militantes que expressam democraticamente sua opinião. As teses do 13º Congresso do PCdoB foram construídas coletivamente”, reforçou.
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O dirigente comunista enalteceu a realização do Congresso. “Este é um momento em que se exerce, de maneira plena, a democracia interna do PCdoB, quando militantes se credenciam para se eleger e votar nos órgãos dirigentes do Partido. Isto representa o centralismo democrático que envolve grande mobilização da nossa militância, considerada o aspecto principal da vida partidária”, ratificou. Carvalho aproveitou para reforçar a importância das organizações de bases para o fortalecimento do Partido. “Nosso apelo é no sentido de que colaboremos na estruturação do PCdoB desde as bases, para garantirmos que se exerça efetivamente a democracia partidária e a vida militante”.
Teses
As teses abordadas pelo representante do Comitê Central foram o balanço dos dez anos dos governos progressistas de Lula e Dilma, as perspectivas para o Brasil e o crescimento do PCdoB neste período. Ele também comentou sobre os pontos negativos que devem ser superados pelo atual governo e ainda os desafios que o PCdoB deve enfrentar.
“Nosso tema principal gira em torno dos 10 anos dos governos progressistas no Brasil, com Lula e Dilma, apresentando desafios para o futuro e, diante destes desafios, como deveremos nos organizar de forma a superá-los”.
Segundo José Reinaldo, para avaliar os 10 últimos anos de avanços no país, é preciso situar estes governos na evolução histórica do Brasil. “A eleição de Lula ocorre depois de dois ciclos importantes, ambos com sinal negativo, com papel regressivo na vida nacional. O primeiro, entre 1964 e 1985, período da ditadura militar. O segundo, o neoliberalismo, iniciado por Collor em 1990, interrompido em 1992 com seu impeachment, e com a retomada em 1994 após a eleição de FHC”.
Para o comunista, perceber a evolução do país e a importância dos governos de Lula e Dilma pode ser confirmado ao se comparar “para onde ia o Brasil naquela época e para onde ele está indo agora”. Carvalho citou os nacionalistas Miguel Arraes, Celso Furtado, Leonel Brizola e João Amazonas para exemplificar este pensamento. Em todos eles, a necessidade de não se render ao imperialismo norte americano nem à política entreguista. “Só esta comparação já nos daria muitos subsídios para justificar nosso apoio e a continuidade deste apoio para a reeleição de Dilma”.
10 anos de Lula e Dilma: “saldo positivo”
José Reinaldo elencou uma série de características que ratificam o “saldo é positivo” dos 10 anos dos governos progressistas de esquerda. “Tratam-se de governos profundamente democráticos, baseados no diálogo, que respeitam direito de greve e manifestações”. O dirigente exemplificou a postura da presidenta Dilma após as manifestações de junho, quando a população saiu às ruas em busca de melhorias para o país. “Ela saiu em rede nacional dizendo: ‘Estou aqui para escutar e atender o clamor das ruas’. Não conheço na história recente na vida republicana de centenas de países, diante do caráter de manifestações como aquelas, nenhum líder que teve esta postura”, enalteceu.
Outro ponto citado por Carvalho foi que os governos têm “vocação social”. “São coerentes com a origem de Lula, que travam uma luta titânica para erradicar a miséria. A 6ª maior economia do mundo não pode conviver com índices de miserabilidades. E o governo vem agindo de forma a contribuir na melhoria da vida de milhões e milhões de brasileiros. E mesmo que falem em programas assistencialistas, as ações não ficaram restritas só aos Programas Fome Zero ou ao Bolsa Família. Dilma mudou, por exemplo, a política de crédito, o que ajudou a formar um novo cenário econômico no país”, avaliou.
A terceira questão apontada por José Reinaldo como pontos positivos dos governos de Lula e Dilma referem-se ao “ponto de vista ideológico, político e doutrinário”. São governos desenvolvimentistas, disse ele, voltado para a promoção do desenvolvimento nacional e para a soberania do país, ressaltou.
No último ponto, o dirigente destacou a “vocação internacional progressista” dos governos que se “expressam visando à política de integração do continente latino americano e do Caribe, através de mecanismos de cooperação internacional”. José Reinaldo citou a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e da Comunidade dos Estados Latino americanos e Caribenhos (Celac), além da recusa do Brasil de se incorporar à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como ações positivas no cenário internacional e de integração dos países da América Latina.
Pontos negativos
Apesar de conquistar inúmeros avanços, o PCdoB também reconhece que ainda existem pontos negativos que precisam ser superados. “Nosso partido é dialético. Vemos a realidade como um todo e consideramos que ainda há graves problemas e duros desafios a serem enfrentados”, reconheceu Carvalho.
“Ainda vivemos num país brutalmente desigual. É preciso mais audácia no enfrentamento às injustiças sociais. Além disso, nosso sistema político é falido. Esta legislação eleitoral poderia ser jogada no lixo, pois freia o desenvolvimento da democracia, atua contra o caráter democrático do governo e privilegia os grandes partidos e o poder econômico”, criticou o secretário de comunicação.
A prestação de serviços públicos também foi alvo de criticas de Jose Reinaldo. “Isso se traduz em infraestrutura precária. Nosso povo ainda sofre com questões relacionadas à saúde, educação, moradia, além da eclosão de uma tremenda crise na vida urbana, com cidades inabitáveis do ponto de vista da mobilidade urbana. Os grandes centros viraram depósito de pessoas e isso não pode continuar”, defendeu.
A política macroeconômica, acrescentou José Reinaldo, apesar de várias tentativas, continua sendo um empecilho para o crescimento do país. “Trata-se da resistência do grande capital financeiro e está apoiado no tripé herdado do neoliberalismo: superávit primário, juros altos e câmbio atrelado ao dólar”, enumerou.
Outra questão a ser enfrentada, sugeriu, é a “pressão da classe dominante contra os direitos dos trabalhadores, que alegam custo do trabalho. “Mas e o custo do capital? Quem sangra mais a nação: a folha de pagamento ou a margem de lucros? Este embate se resume na velha luta de classes”, definiu.
Como último ponto negativo, José Reinaldo criticou o adiamento quanto às reformas estruturais democráticas. “São urgentes as reformas política, agrária, dos direitos sociais, do judiciário, a democratização da comunicação, o combate à concentração de renda além das concentrações regionais”, citou.
Desafios do PCdoB
Para José Reinaldo, diante deste cenário, apresentam-se novos desafios para o PCdoB. “Dentre eles, o de continuar lutando pela aplicação da diretriz do Programa do Partido, que consiste em um Novo Plano Nacional de Desenvolvimento, além de incorporar a luta pelas reformas estruturais democráticas do país e garantir a reeleição da Dilma”, ratificou.
Para isso, reforçou, considera importante a mobilização das massas trabalhadoras para legitimar a pressão democrática e verdadeiramente popular. “Precisamos promover, ao nível mais elevado, a unidade das forças democráticas e populares, incorporando o povo nesta aliança entre os partidos. Esta é uma luta que deve integrar todas as esferas”, defendeu.
O secretario de comunicação considera também que este é o momento passar em revista como está se desenvolvendo o Partido e se ele está de fato preparando para esses desafios. “O momento da realização do nosso 13º Congresso é uma ótima oportunidade para que possamos rever nossas ações. Elas exigem luta, pois defendem os interesses do povo brasileiro. O PCdoB é o partido da luta do povo, de combate, que nasceu, vive e prosseguirá na luta”.
Carvalho reforçou os muitos êxitos alcançados pelo Partido nos últimos anos. “Os números são claros, mostram a expansão das nossas fileiras, presença massiva nos movimentos de massas e na luta de ideias e este é o eixo em torno do qual deve gravitar o programa do PCdoB. Temos dado passos importantes e deles devemos nos orgulhar, mas este Congresso deve se debruçar, com crítica e autocrítica, se esta harmonia está sendo assegurada ou se estamos pendendo para um dos lados”.
José Reinaldo reforçou ainda que o PCdoB precisa estar “enraizado na vida e nas lutas do povo” e ponderou que o "Partido deve fazer ainda maiores esforços para manter a sua essência, estar onde está a classe trabalhadora, manter a nossa identidade comunista, a nossa ideologia e a teoria revolucionária do marxismo leninismo".
A estruturação organizativa do PCdoB também foi apontada como um desafio a ser enfrentado. “Aproveitemos este processo de Congresso para fazermos um balanço de como o Partido está se estruturando. Somos diferentes das demais legendas, pois temos a concepção de que devemos nos organizar e estruturar a partir das organizações de bases. As necessidades da luta pedem que o Partido esteja presente: se na luta operária, que estejamos nas fábricas; se no movimento estudantil, que estejamos nas universidades e escolas; se nas lutas populares, que estejamos nos bairros. “Não somos Partido de conjuntura, mas construímos um Partido a serviço da sua missão histórica que é se colocar à frente dos trabalhadores e do povo brasileiro pela emancipação social e pelo socialismo”, concluiu.
À tarde a Conferência continuou com debates e com a participação dos militantes. No domingo (13), segue a programação da Conferência quando será apresentado um balanço do trabalho do atual comitê estadual realizado no último biênio e inicia-se o processo de votação, que elegerá a nova direção do PCdoB-CE. Ainda no domingo, será anunciado o nome do novo presidente do Partido no Estado.
De Fortaleza,
Carolina Campos
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