Série israelense investiga armas nucleares na guerra de 1973

Segundo Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA na administração do presidente Richard Nixon, em entrevista à série israelense “A Guerra Evitável”, o governo norte-americano não recebeu indicações de um possível posicionamento do arsenal nuclear de Israel durante a Guerra do Yom Kippur (Guerra Árabe-Israelense), que completa 40 anos do seu início neste domingo (6). Recentemente, denúncias da intenção israelense de uso de armas de destruição em massa têm sido reveladas.

Golda Meir e Henry Kissingir - AP

Kissinger deu uma entrevista à série israelense junto com outros oficiais da administração Nixon, inclusive o conselheiro adjunto de Segurança Nacional, Brent Scowcroft, e o conselheiro da Casa Branca, Leonard Garment, recentemente falecido.

O ex-secretário de Estado e Scowcrof fizeram a primeira referência pública aos rumores sobre os planos do governo e dos militares israelenses para um ataque nuclear, ou ao menos uma demonstração de força, durante a guerra com os vizinhos árabes, inclusive a Síria e o Egito.

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Nos últimos 40 anos, a tese sobre a movimentação do arsenal nuclear israelense rendeu muitas publicações, algumas das quais baseadas em testemunhos de fontes dos fóruns de tomada de decisão política e militar. Entretanto, Kissinger e Scowcroft, “virtualmente os membros de maior autoridade da equipe de segurança nacional de Nixon”, segundo um artigo do jornal israelense Ha’aretz, contradizem a teoria.

O que quer que tenha acontecido em Israel, disseram, não teve impacto. “O dia 9 de outubro de 1973, três dias após o início da guerra, foi provavelmente o ponto mais alto de desespero para a liderança israelense, como evidenciado pela [então] primeira-ministra Golda Meir em seu pedido para viajar para Washington para um encontro de quatro horas com Nixon”, afirma o artigo do Ha’aretz.

No documentário, o entrevistador pergunta a Kissinger: “Também há afirmações sobre outras medidas desesperadas ou sugestões de alguns líderes israelenses, para botar para fora suas armas mais potentes, ao menos para demonstração. Você ficou ciente dessa sinalização?” O entrevistado, um “mestre de 90 anos da diplomacia do século 20”, segundo o Ha’aretz, foi que não. Afinal, como esperar que Kissinger se responsabilizasse por uma jogada tão arriscada, em plena década de 1970?

O ex-secretário de Estado disse que, se os israelenses tivessem ameaçado usar armas de destruição massiva, “isso nunca me foi dito, e eu nunca recebi, assim como Nixon, e acho que ninguém mais no nosso governo, qualquer indicação de que isso estava sendo contemplado”.

Além disso, o entrevistador também perguntou a Kissinger se tal medida teria sido contrária ao entendimento a que ele e Nixon haviam alcançado com Golda Meir e o embaixador israelense Yitzhak Rabin, em setembro de 1969, sobre evitar a proclamação de um status nuclear para Israel.

Kissinger, entretanto, recusou-se a entrar em detalhes sobre o entendimento, que foi tornado público através da desclassificação de documentos, mas nunca confirmado oficialmente pelos sucessivos governos.

Quando seu colega e melhor amigo, Scowcroft, foi perguntado sobre os relatos de que alguns altos oficiais ligados ao ministro da Defesa, Moshe Dayan, ficaram tão desesperados que consideraram o uso das armas catastróficas de Israel, o general aposentado da Força Aérea estadunidense disse: “Isso não me surpreenderia, seria a linha lógica de pensamento para oficiais da Defesa, mas que eu saiba, nunca fomos informados de que isso foi uma consideração".

Depois de décadas de rumores, entretanto, de acordo com uma pesquisa do Centro Wilson de Washington, EUA, o recurso às armas nucleares foi debatido no governo israelense entre o ministro da Defesa, Moshe Dayan, e a primeira-ministra Meir, mas não entre Israel e os EUA.

Sobre o assunto, Avner Cohen, um pesquisador especialista na história do programa nuclear israelense, tornou pública uma entrevista que conduziu na década passada com Arnon Azaryahu, amigo próximo de Yisrael Galili, ministro de vários governos e um dos conselheiros mais próximos da premiê Meir.

Segundo Cohen, depois de discussões intensas do gabinete de Meir sobre o desenvolvimento da guerra, a conclusão era a de que as tropas sírias avançavam com firmeza pelas Colinas de Golã (tomadas da Síria por Israel na guerra de 1967), e que as forças israelenses viam-se ameaçadas. Na ocasião, Azaryahu disse ao pesquisador que presenciou o momento em que Dayan se dirigiu a Galili: "Já que não temos muito tempo ou muitas opções, eu acho que devemos nos preparar para demonstrar a opção nuclear também".

Em setembro, o jornal israelense Yedioth Ahronoth publicou trechos das memórias do antigo ministro israelense do Comércio e da Indústria, Haïm Bar-Lev, em que ele afirmava que a primeira-ministra da época, Golda Meir, havia recebido a sugestão de Dayan, para o uso de armas químicas.

De acordo com os documentos, Meir convocou Bar-Lev de volta durante momentos complicados para o antigo ministro da Defesa, Moshe Dayan. “Naquela época, medo e terror estavam claros na face de Dayan”, escreveu Bar-Lev em suas memórias. “Dayan pensou em usar armas banidas”, completou.

Com informações do Ha'aretz,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho