José Bento de Oliveira e a Insurreição Comunista de 1935
Por Iaponira Peixoto de Brito*
Publicado 01/10/2013 09:19 | Editado 04/03/2020 17:07
Assim é feita a apresentação da Insurreição Comunista de 1935 pelo médico, professor do Departamento de Medicina da UFRN e membro da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte, Ivis Bezerra, setenta anos depois da deflagração do movimento político e militar.
Consolidando o controle militar, foi instalado um autodenominado Comitê Popular Revolucionário, que durante 80 horas, até a madrugada do dia 27, manteve o controle da capital e de 17 cidades do interior, dissolvendo-se e se pondo em fuga, ante a aproximação de tropas leais ao governo federal, provenientes dos Estados vizinhos.
O episódio ocorreu simultaneamente com dois outros levantes militares frustrados no Recife e no Rio de Janeiro, desencadeando uma violenta repressão que levou à prisão milhares de cidadãos, entre eles o líder comunista Luís Carlos Prestes, e culminou com o golpe militar de 1937, que implantou o regime militar denominado Estado Novo.
Finalmente, apesar do curto período, da ausência de medidas sociais de maior vulto e da desorientação de seus líderes, entrou para a história como a primeira experiência comunista de governo no continente americano.
Este fato da História do Brasil é hoje evocado quando o comitê municipal do PCdoB em São Gonçalo do Amarante busca proporcionar o resgate da história e da memória do ex-prefeito, José Bento de Oliveira, que em nome da Aliança Nacional Libertadora (ANL), exerceu a chefia do poder Executivo Municipal da Prefeitura por apenas 3 dias, tempo suficiente para entrar na galeria dos mártires da repressão e do autoritarismo do governo Vargas.
Biografia de José Bento de Oliveira
JOSÉ BENTO DE OLIVEIRA nasceu em Goianinha-RN, no dia 02 de setembro de 1897 e faleceu na cidade de São Gonçalo do Amarante, vítima de suicídio no dia 18 de setembro de 1946, aos 49 anos de idade. Filho de Maria Guilhermina de Oliveira e de José Bento de Oliveira que tiveram seis filhos: José Bento, Benício, Francisco, Eliza, Porcina e Joana.
Foi casado com D. SEBASTIANA FERNANDES DE OLIVEIRA, com quem teve 07 filhos: Epitácio Fernandes de Oliveira, Osvaldo Fernandes de Oliveira, Erenite de Oliveira Justino, Edivaldo Fernandes de Oliveira (pai do ex- prefeito Jarbas Cavalcanti), Nísia Fernandes Guimarães, Rivaldo Fernandes de Oliveira e José Bento de Oliveira Neto (conhecido como Sr. Novinho), dos quais apenas dois estão vivos: Epitácio e Edivaldo Fernandes de Oliveira.
JOSÉ BENTO FERNANDES DE OLIVEIRA foi militar, exerceu as funções de delegado e promotor na cidade, foi um próspero comerciante do município, era proprietário de terras e exerceu a função de prefeito no município de São Gonçalo do Amarante-RN (por três dias), no período compreendido entre 27 e 30 de novembro de 1935. Era um homem culto que tinha o hábito da leitura, e muito voltado para as questões humanitárias e sociais. Lutou contra a ditadura de Getúlio Vargas nos anos 30 e 40, e defendeu com veemência a Reforma Agrária.
Segundo relatos de alguns dos seus familiares, uma das ações que comprovava o quanto José Bento acreditava nas causas que defendia, foi à doação de uma das suas propriedades para alguns moradores da cidade. Esta propriedade ficava localizada, onde atualmente é o povoado conhecido por “Sombra” nas proximidades da comunidade de Uruaçu. Fica subtendido que a origem da existência deste povoado é uma comprovação da tentativa de José Bento de Oliveira, colocar em prática as ideias de um homem que naquele momento histórico, pensava a frente de seu tempo.
A atuação do Município de São Gonçalo do Amarante-RN na Insurreição Comunista de 1935
Segundo Homero Costa de Oliveira no livro “A Insurreição Comunista de 1935”, consta que no dia 26 de novembro de 1935, há exatos 78 anos às 11:00 horas da manhã, chegou a cidade de São Gonçalo do Amarante um pequeno contingente de homens armados, tendo à frente o cabo do 21º BC o Senhor Joaquim França, acompanhado de José Bento de Oliveira, Antônio Azevedo Mangabeira, João Dias de Araújo, Joaquim Fonseca e Manoel Raimundo da Silva.
O prefeito não estava na cidade, José Bento foi designado prefeito, como também foi lavrada à nomeação de Antônio Azevedo Mangabeira para exercer o cargo de secretário e tesoureiro da prefeitura, enquanto João Dias, soldado da polícia militar, foi nomeado delegado de polícia. Na assinatura do ato de posse, que contava com a presença de alguns populares, José Bento de Oliveira, assumiu a função de prefeito por aclamação da ANL.
Como prefeito, requisitou as chaves da cadeia pública, soltou os presos e mandou que fossem feitas, apreensões de armas e munições nas residências. Consta nos registros da história, que José Bento de Oliveira sofreu rapidamente desgaste político, pois seus aliados desejavam a prisão do prefeito e de todos os adversários da ANL. José Bento reagiu a essas pressões, e evitou o desencadeamento de uma campanha de perseguição.
Há registro também, que José Bento entusiasmado com o cargo não queria fazer inimizade com ninguém, e foi pessoalmente na casa dos moradores da cidade, convidá-los para a sua posse. A história também nos comprova, que naquele período praticamente metade dos 41 municípios do Estado do RN, inclusive Natal, estava ocupada pelos rebeldes.
Consta nos registros do livro de Homero Costa “A Insurreição Comunista de 1935” que “Com a derrota da Revolução, José Bento foi preso por 01 ano, e que no rol dos denunciados ao Tribunal de Segurança Nacional, constava o nome de mais dois são-gonçalenses, entre eles: Arlindo Aniceto Ribeiro e Manoel Raimundo da Silva”.
Após o cumprimento da pena, José Bento retornou a São Gonçalo, abriu um comércio e comprou uma propriedade rural. No entanto, jamais esqueceu as humilhações e o sofrimento do período em que esteve preso. Segundo relatos de familiares de José Bento “ele afirmava que se um dia houvesse uma nova onda de perseguição aos participantes do movimento de 1935, ele preferiria se matar, a ser submetido novamente às torturas e as humilhações pelas quais passou”.
Bastante deprimido suicidou-se no dia 18 de setembro de 1946, diante de uma falsa notícia que haveria uma nova onda de perseguição política. A morte prematura de José Bento aos 49 anos de idade nos remete a afirmação que ele era um idealista, e que a sua morte se deu em defesa de um ideal. Os restos mortais de José Bento de Oliveira encontram-se enterrados, no cemitério da cidade de São Gonçalo do Amarante.
Durante os 78 anos da Insurreição Comunista de 1935, as referências e as homenagens feitas ao ex-prefeito José Bento de Oliveira, constam no livro de minha autoria intitulado “Estudos Sociais do Município de São Gonçalo do Amarante-RN” lançado em 2002, e no livro do Padre Murilo de Paiva, lançado recentemente intitulado “Farofa de Tição”.
A existência da Lei de nº 028/99, do Ex-vereador Teófilo Justino de Oliveira Neto, de 23 de Agosto de 1999, é também mais uma forma de homenagear o ex-prefeito José Bento de Oliveira, colocando seu nome na Rua nº 5, do Loteamento Samburá na sede deste município. Há também um requerimento de nº 081/2013, do Vereador Eraldo Daniel de Paiva de 26 de fevereiro de 2013, que solicita a pavimentação da referida rua e um Projeto de Decreto Legislativo nº 04/2013, do Vereador Edmilson Gomes da Costa que concede a José Bento de Oliveira o Diploma de Homenagem Póstuma, pela Câmara Municipal de São Gonçalo do Amarante. .
Outro projeto que o PC do B pleiteia, será o de postar a fotografia de José Bento de Oliveira, na galeria dos prefeitos na Câmara Municipal de São Gonçalo do Amarante. Será uma justa homenagem que o PC do B fará a José Bento, já que o mesmo era militante do PC do B, e foi naquele momento histórico um dos prefeitos do RN, filiados ao PC do B.
Ao finalizar, referendo neste momento a lembrança que o PCdoB faz a José Bento de Oliveira, fazendo uma justa homenagem colocando seu nome no Auditório da Sede do PCdoB deste município. Uma homenagem merecida, que vem atender, embora, tardiamente justas e pertinentes expectativas dos familiares do homenageado e da população do município, que há muito vivia à espera por este momento de reconhecimento e resgate histórico.
Fica, portanto o exemplo para as gerações do presente e futuro a luta do cidadão, sua significativa participação histórica e política no município, sobretudo em um momento conturbado da história do país, que não deve ser esquecida.
Como forma de homenagear José Bento de Oliveira, seu filho Edivaldo Fernandes de Oliveira, fez este poema em agosto de 2001, intitulado “A meu pai”
“Quando tento viajar no meu passado,
De tristeza, de dor e sofrimento,
Sinto meu peito dilacerado,
A sufocar-me; vejo José Bento.
Lembro a agonia, o pranto, o sopro lento,
No seu olhar opaco, a despedida,
Vejo a ternura em sua face pálida,
Quase sem força, já desfalecida.
Tento esquecer e percebo que é inútil,
A minha história lembra uma vida,
Que almejava pela luta a glória,
Que aspirava pela glória a “vida”
*Iaponira Peixoto de Brito é escritora e pesquisadora
Fonte: Blog de Cristina Rastafari