Daniel Sebastiani: Mensalão; Muito além do Dirceu
Sabe-se como os erros táticos cometidos pelo PT forneceram, às forças da direita deste País, articuladas pela grande imprensa, a possibilidade de destruir o núcleo político mais atuante e estratégico do grande partido de esquerda do Brasil. Este fato teve extraordinárias consequências, entre elas, a dificuldade de articulação estratégica que o Governo Federal ressente, com muita força, até a atualidade.
Por Daniel V. Sebastiani*
Publicado 01/10/2013 11:37 | Editado 13/12/2019 03:30
Não há dúvida que boa parte da desarticulação sentida nas esferas do Governo do Brasil, tem relação com a retirada do jogo de atores políticos muito articulados junto aos setores econômicos e políticos da Nação e de expressão reconhecida.
Mas, cabe constatar, por mais difícil que pareça que este foi um problema de menos impacto em relação a outro.
A ação da grande imprensa não destruiu apenas meia dúzia de quadros políticos da esquerda, por mais importantes que fossem, destruiu, com força, as esperanças mais sadias de toda uma geração. Fato de a calúnia ter sido denunciada pelas forças progressistas, não retirou de cena o fato, o erro, e a utilização do mesmo para significar uma coisa: não há esperança.
Considerando o período de difamação e defensiva dos ideais socialistas no Planeta, o triunfo da nefanda ideologia pós-moderna e sua condenação dos “meta-relatos”, o triunfo do individualismo e hedonismo mais abjetos, pode-se constatar que este assassinato da esperança no Brasil se enquadra em um caldo de cultura mundial coerente.
Finalmente, se afirma neste artigo: a desmoralização da política é, em última instância, a desmoralização da esperança, motor subjetivo essencial para fundamentar os enormes sacrifícios individuais e coletivos que exige a revolução socialista.
Criar as condições de uma correlação de força social e política favorável aos avanços, (já que esta correlação de forcas se faz com pessoas e suas relações), também implica, por parte de grandes massas, e não apenas de militantes, em retomar as esperanças.
Para tanto, é necessário, em primeiro lugar, as Teses o destacam, manter o apoio do povo ao Governo através do aprofundamento das mudanças. Mas aprofundar as mudanças exige uma nova correlação de forças e, esta, exige atores políticos que a viabilizem.
Cita-se, nos artigos anteriores do simplório autor deste, as dificuldades que os deslizes e desconexões da tática, sem desmerecer a justeza da essência da mesma, bem como os riscos do pragmatismo, apresentam ao PCdoB.
Mas o que dizer, em termos de tática de mudanças e de pragmatismo, do PT, PDT e PSB? Sem “baluartismo” e com o maior respeito pelos nossos aliados: o que se constituiu nas nossas deficiências não os atinge, pois é da natureza dos mesmos.
Quais as referências marxistas e revolucionárias anticapitalistas que estes atores políticos possuem? O possibilismo e pragmatismo são a sua essência, exceto talvez para alguns poucos segmentos petistas, em função da capilaridade com a classe trabalhadora que este partido possui.
O esquerdismo, (do PSOL ao PCB), existe com o defeito fundamental da não consequência real da sua ideologia, a não ser, objetivamente, no sentido oposto a sua ideologia: os fatos que realizam desconstroem o que pregam, (por exemplo, tratando o PT, PCdoB e PSDB como sinônimos na política, atacando, sobretudo, os primeiros e confundindo a vanguarda social, o que favorece a direita).
Portanto, onde se pode realizar a esperança de que o socialismo é possível, nas forças do pragmatismo, (por mais avançadas e voltadas aos ideais vagos de justiça social), ou nas forças do esquerdismo, (que, pela sua ação desconexão com o nível de consciência das massas e a decorrente insignificância, passam a ideia de que o socialismo é inviável)?
Sejam quais forem os defeitos (entendidos como possibilidades despontencializadas por eventuais ações políticas errôneas interna e/ou externas) do PCdoB, esta força política, pela sua história, pela sua base ideológica/teórica/programática e por sua ligação com o tecido social em termos de classe trabalhadora, se constitui na que melhores condições tem para desatar os dois nós górdios do nosso futuro imediato: o aprofundamento das mudanças e a retomada da esperança.
Criar as condições para dar credibilidade política real às ideias da política com ideologia, da justiça, do humanismo, do novo ser humano possível de construir, do sacrifício pelo justo, da felicidade enquanto uma forma coletiva de ser, com os outros e não contra eles, e arregimentar “os melhores filhos do povo”, a vanguarda da classe trabalhadora, para a luta pelo socialismo, se esta tarefa é possível, o é pelo PCdoB.
Está demais, então, afirmar que a tarefa de todo socialista convicto, de todo marxista e comunista existente no Brasil é, antes de tudo, cerrar fileiras neste Partido e construir o êxito do PCdoB!
*Título Original: Mensalão: Muito além do Dirceu. As razões de ser PCdoB
*Daniel V. Sebastiani é Secretário Estadual de Formação do PCdoB/RS