Caio Botelho: Desenvolver e dar atenção ao trabalho de juventude
No decurso de mais de nove décadas de história, o PCdoB construiu diversas experiências ligadas à necessidade de organizar a juventude brasileira em torno de ideais revolucionários, marxistas. Em nosso caso, não se trata de mera retórica a afirmação de que somos um partido jovem, ainda que experiente em termos de tempo de vida. Em todas as fases de sua larga trajetória, o PCdoB sempre contou em suas fileiras com forte presença de jovens militantes.
Por Caio Botelho*
Publicado 30/09/2013 15:34 | Editado 13/12/2019 03:30
Nesse texto, pretendemos apresentar algumas breves questões e proposições relacionadas ao trabalho de juventude do PCdoB, já que é impossível discutir a estruturação partidária sem debater também a questão da juventude. Nesse sentido, não podemos deixar de tratar da mais longeva e vitoriosa experiência dos comunistas junto à essa parcela de nosso povo: a União da Juventude Socialista (UJS), entidade fundada nos anos 1980 e que permanece pujante até os dias atuais.
As fases de organização da UJS
Em setembro de 1984, na Assembleia Legislativa de São Paulo, acontecia o ato de fundação da UJS, que foi concebida como um “amplo movimento juvenil, de massas e socialista”. A ideia, desde o início, era que se tratasse de uma organização que dialogasse para além das fileiras dos jovens militantes do PCdoB, estando de portas abertas para o conjunto da juventude e conquistando-a a partir de bandeiras de luta avançadas.
No entanto, a UJS não firmou-se como a organização prioritária para a atuação dos jovens comunistas da noite para o dia. Durante alguns anos, coexistiu ao lado do movimento “Viração”, que cumpriu importante papel na luta contra a ditadura e contava com forte presença nas Universidades. Aos poucos, consolidou-se a ideia de que era necessário unificar o trabalho de juventude do Partido em torno de uma única entidade, de caráter mais permanente. Isso ocorreu no final da década de 1980, após uma série de consultas e discussões internas.
Em seus primeiros dez anos de história, a UJS enfrentou enormes desafios. Sua fundação se deu no apagar das luzes da ditadura militar e no auge do clamor popular por eleições diretas para presidente. Mais adiante, enfrentou a batalha em defesa dos direitos da juventude na Constituinte de 1988, quando lançou uma campanha em defesa do voto aos 16 anos, proposta que acabou sendo aprovada.
Mais adiante, o PCdoB foi o primeiro a defender o impeachment de Collor, e coube à UJS repercutir essa ideia no seio da juventude. A história premiou a visão correta dos comunistas e o Brasil assistiu as suas ruas serem tomadas pelos “Caras Pintadas”, que se tornou um dos mais belos momentos da trajetória de lutas do nosso povo.
Mas depois da eufórica vitória tivemos que nos debruçar diante de novos desafios. A UJS, depois de ter crescido muito durante a campanha pelo impeachment, entrava numa fase de estagnação e mesmo de certo declínio.
Entretanto, a necessidade de fazer ajustes foi bem identificada pela direção do Partido e iniciou-se um processo de discussões que culminou no 8º Congresso da UJS, realizado em 1996. A intensidade das mudanças foi tão grande que se propôs, nesse Congresso, promover um verdadeiro “relançamento da UJS”.
Concluiu-se que a entidade deveria gozar de mais autonomia organizativa. Observou-se de que ainda éramos a “juventude do PCdoB” e estávamos distantes de sermos uma organização de massas. Dentre as medidas aprovadas nesse Congresso, destaca-se a mudança na forma de organização da UJS (que deixou de ter coordenadores e passou a ter presidentes) e uma maior ousadia na filiação em massa de jovens brasileiros dispostos à lutar por causas justas.
Nesse sentido, podemos considerar que essa primeira fase de organização da UJS, que vai de sua fundação em 1984 até seu relançamento em 1996, foi responsável por consolidar a concepção de atuação dos jovens comunistas em uma entidade permanente (não apenas um movimento conjuntural). Uma segunda fase foi inaugurada com o relançamento e permitiu que a UJS se tornasse a entidade de massas que ela é hoje. Desse modo, um conjunto de decisões corretas tomadas ao longo desse tempo permitiu que o PCdoB construísse uma das mais frutíferas experiências de organização da juventude do mundo, tornando-se inclusive referência para PC’s de outras nações.
A necessidade de iniciarmos uma terceira fase
Toda essa contextualização deu-se com a seguinte razão: Defender a tese de que é necessário iniciar, nas fileiras militantes do PCdoB, uma extensa discussão em torno do aprimoramento de nossa atuação no seio da juventude e sobre o papel que deve ser desempenhado pela UJS nesse processo.
Entre o Congresso da UJS em 1996 aos dias atuais passaram-se 17 anos. Nesse período, o mundo e o Brasil mudaram. A juventude, seu comportamento e suas demandas mudaram. Mas a forma de organização da UJS ainda permanece quase a mesma, com poucas modificações desde então.
É verdade que ainda acertamos muito mais do que erramos, e existem iniciativas concretas promovidas pela direção do Partido e da UJS para compreender melhor as exigências desse novo momento – em especial depois das Jornadas de Junho de 2013. Não estamos, portanto, a travar essa discussão diante de um cenário de crise no trabalho de juventude, pelo contrário.
Mas algumas questões devem ser aprofundadas: a forma de funcionamento das direções da UJS, em todos os níveis, precisa ser aperfeiçoada no sentido de se tornarem mais dinâmicas. A nossa agenda deve continuar a compreender a importância dos Congressos estudantis, mas precisa aos poucos ser girada para que a gente também fale com outras parcelas da juventude, ensine e aprenda com elas e participe de outras formas de luta. Nossa entidade não pode confundir-se com uma corrente da UNE e da UBES: isso negaria a nossa razão de existência enquanto um movimento juvenil e socialista. A criatividade e a radicalidade consequente precisam estar ainda mais presentes em nossa atuação cotidiana.
As instâncias de direção partidária, por sua vez, devem assumir a responsabilidade de ter secretarias de juventude operantes, que consigam orientar a atuação de nossos jovens militantes. À exceção do bom trabalho desenvolvido pelo Comitê Central, por alguns Comitês Estaduais e por raros Comitês Municipais, prevalece a subestimação do trabalho de juventude no seio do Partido.
Como se percebe, temos mais perguntas do que respostas, mais desafios do que soluções, o que é natural e salutar. Somente o bom debate de ideias nos fará coletivamente encontrar as saídas, com o fito de tornar o PCdoB, ainda mais, o Partido preferido da juventude brasileira.
*Caio Botelho é militante do PCdoB e da UJS no estado da Bahia.