Presidentes do Irã e dos EUA têm 1º contato após 34 anos

Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e do Irã, Hasan Rowhani, conversaram sobre o programa nuclear de Teerã em um telefonema que já é considerado histórico. Há algumas semanas os países têm feito uma aproximação e este foi o primeiro contato entre chefes de estado dos dois países desde a revolução iraniana de 1979.

"Conversamos sobre os esforços em curso para alcançar um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Reiterei ao presidente Rowhani o que disse em Nova York: seguramente haverá grandes obstáculos a ultrapassar e o êxito não é garantido, mas acredito que podemos chegar a uma solução", disse Barack Obama ao líder iraniano. Os relatos de Obama foram feitos em uma coletiva de imprensa na sexta-feira (26).

"Só o fato de ser o primeiro contato entre um presidente americano e um iraniano desde 1979 mostra a profunda desconfiança que há entre os nossos países, mas indica também a expectativa de seguir adiante", completou.

Tanto Obama, que quando candidato presidencial em 2007 anunciou sua vontade de ter contato direto com adversários dos EUA, quanto Rouhani, tinham vontade de fazer essa aproximação durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorrida nesta semana em Nova Iorque, nos EUA. No entanto, o Irã avaliou que o contato pessoal traria complicações políticas domésticas de alto impacto. Além disso, por conta dos compromissos não haveria tempo suficiente para organizar o encontro.

Então, os iranianos disseram que Rouhani estava interessado em uma conversa por telefone antes de deixar os EUA. Foi então que ambos os governos organizaram tudo para que o telefonema acontecesse por volta das 14h30 (15h30 em Brasília) e que durou cerca de 15 minutos.

Ainda em Nova York, antes de embarcar para Teerã, Rowhani disse que deseja "resultados tangíveis em um curto espaço de tempo" nas negociações nucleares.

O presidente iraniano ainda afirmou que as discussões iniciais com Obama aconteceram em um ambiente "bastante diferente" do passado, e que foi autorizado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, a negociar sobre o programa nuclear do país.

Há anos o Irã insiste no caráter pacífico do seu programa atômico. O país, no entanto, sofre sanções econômicas porque alguns países ocidentais, com apoio de Israel, que acusa o Irã de desenvolver armas nucleares, o que nunca foi provado.

A respeito da "profunda desconfiança" que existe entre os países, Obama ressaltou a promessa do presidente iraniano, que em seu discurso na Assembleia Geral da ONU afirmou que seu país não desenvolverá armas nucleares.

Obama disse também que solicitou ao secretário de Estado americano, John Kerry, que continue as conversas diplomáticas com o governo iraniano para avançar no acordo.

"Pensando no futuro, o presidente Rowhani e eu instruímos nossas equipes para que sigam trabalhando rapidamente na busca de um acordo", detalhou Obama, lembrando que tem em Israel um aliado nas negociações. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deve visitar Washington na próxima segunda-feira.

Estados Unidos e a China dizem esperar que o Irã responda a uma oferta feita pelo grupo conhecido como P5+1, formado por EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França, China e Alemanha, para que o país pare de produzir e estocar o urânio enriquecido a 20% – um passo anterior à capacidade de produzir armas nucleares.

Eles também exigem que o Irã desative a instalação subterrânea de enriquecimento de urânio de Fordo, perto de Qom, no centro-norte do país. Novas discussões entre o Irã e o P5+1 devem acontecer em 15 de outubro, e Rowhani disse que o país apresentará um plano nessa reunião, apesar de não ter dado detalhes.

"Embora seja certo que haverá obstáculos importantes para avançar e o sucesso não esteja nada garantido, acredito que possamos atingir uma solução abrangente", disse Obama na Casa Branca.

Em uma conta do Twitter atribuída a Rouhani, o presidente iraniano contou que se despediu de Obama dizendo "Tenha um bom dia!", e que o norte-americano respondeu com um "Obrigado, khodahafez (até logo, em farsi)." Ele acrescentou que os dois "expressaram seus desejos políticos mútuos para rapidamente resolver a questão nuclear."

Histórico

Os EUA cortaram suas relações diplomáticas com o Irã um ano após a Revolução Islâmica de 1979 que derrubou aliado de Washington, o xá Mohammad Reza Pahlavi.

O preço do petróleo caiu nesta sexta-feira, com o alívio das tensões entre EUA e Irã após o telefone de Obama para Rouhani.

Com agências