Megaesquema envolve obras de R$ 2 mi no DF
Segundo a PF, a Master Tecnologia e Sistemas Ltda., participante do Programa Minha Casa, Minha Vida, recebeu dinheiro para construções sem relação com a especialidade da firma. Sócio é citado no inquérito que apura lavagem de dinheiro
Publicado 24/09/2013 09:41 | Editado 04/03/2020 16:38
Uma empresa investigada nas operações Miquéias e Elementar, da Polícia Federal, recebeu pelo menos R$ 2 milhões do Governo do Distrito Federal nos últimos anos. Apesar de ser especializada em informática, a Master Tecnologia e Sistemas Ltda. assinou contratos referentes à execução de obras de urbanização e de construção ou reformas de quadras esportivas e parquinhos nas administrações regionais do DF. A Master, participante do Programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, aparece nos relatórios de inteligência da corporação como suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro.
A empresa tem como sócio o empresário Mozart Medeiros Filho, citado no inquérito da PF como suspeito de participar do megaesquema que desviou R$ 300 milhões de instituições financeiras e fundos de pensão nos últimos 18 meses — o doleiro Fayed Antoine Traboulsi e o ex-policial civil Marcelo Toledo Watson são considerados pela PF líderes do grupo.
Os contratos com o GDF teriam sido feitos por meio de carta-convite, na qual dispensa licitação em um valor de até R$ 150 mil, no caso das obras de engenharia. Em um dos serviços, o governo pagou R$ 144.275,81 para a construção de uma quadra poliesportiva e de um parque infantil, na QR 827 de Samambaia.
Há ainda vínculos com as administrações do Cruzeiro, do Riacho Fundo 1 e 2, da Octogonal, do Paranoá e do Gama. Só em 2012, foram pagos R$ 547.780 à Master, segundo levantamento do Portal da Transparência do GDF. O governo informou que investigará todos os contratos em vigência entre a empresa e as administrações regionais. Caso sejam constatadas irregularidades, “serão tomadas as providências cabíveis”.
A suspeita contra a Master surgiu após os policiais perceberem movimentações de quantias elevadas, registradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda. Chamou a atenção a rapidez com que os recursos saíam da conta da empresa, com transferências para firmas interligadas: a MC Incorporação Consultoria e a Gold Incorporação e Consultoria.
A primeira aparece em nome de uma cabeleireira. À PF, ela negou participação, mas relatou ter emprestado a identificação para Carlos Eduardo Rocha Marzola, o Pimenta. Em fevereiro de 2012, a Master recebeu R$ 546.950 da MC, em quatro transações. A PF verificou que as contas da Master não demonstravam “serem resultados de atividades ou negócios normais, visto que utilizadas para recebimento ou pagamento de quantias significativas sem indicação de clara finalidade ou relação com o titular da conta ou seu negócio”.
Operação Tucunaré
Os federais ainda constataram a ligação da Master, da Gold e da MC Incorporação com as empresas investigadas na Operação Tucunaré, em 2008. Após o dinheiro girar pelas contas de diversas companhias, os agentes detectaram que ele era sacado e entregue, em espécie, ao doleiro Fayed e a Toledo Watson. A dupla é acusada de ter influência em várias esferas do poder.
MARA PULJIZ, LEANDRO KLEBER, AMANDA ALMEIDA, Colaborou Almiro Marcos, do Correio Braziliense