Publicado 21/09/2013 11:05 | Editado 04/03/2020 17:16
O futebol brasileiro carrega um paradoxo: já ganhou cinco Copas do Mundo e foi vice em duas, tem os maiores jogadores do planeta, mas a versão feminina, mesmo com a melhor atleta da categoria, a alagoana Marta, que recebeu o título por cinco vezes, só conquistou um segundo lugar em seis copas já disputadas, a da Alemanha em 2007. Em contrapartida, sem tradição no futebol, os Estados Unidos já levaram duas copas, um segundo e um terceiro lugares. A razão é simples: a prática massiva da modalidade naquele país, com muita quantidade que gera qualidade. No Brasil, o feminino, além de ser proibido por lei até 1981, foi ofuscado pela exuberância do masculino.
Daí porque o Ministério do Esporte e a CBF, com patrocínio da Caixa, decidiram estimular torneios que revelem novas Martas em número suficiente para formar um selecionado campeão. Um campeonato nacional no calendário esportivo, como já se faz em outros países, é uma alavanca para que o Brasil pleiteie outra conquista: sediar uma Copa do Mundo de Futebol Feminino. A próxima, em 2015, já tem o Canadá como sede, mas podemos receber a de 2019.
Talvez estejamos resgatando a transformação que introduzimos no “violento esporte bretão”. De jogo bruto da cintura dura, o futebol tornou-se mais polido, mas é notório que a força física, a velocidade e a rijeza tática estão descompassando a coreografia lúdica que projetou o jogador brasileiro. Estão rareando, para não falar de Garrincha e Pelé, os dribles pictóricos de Canhoteiro, o balé de Ademir da Guia, o elástico de Rivelino. Quando surge um Neymar, é uma sensação. Pelo gênero, as boleiras reúnem mais atributos corporais para resgatar a graça, a ginga e a brejeirice que tornaram o jogo da bola um espetáculo tão fascinante – embora sem dispensar a vitalidade que a disputa exige.
Estaria o futuro do futebol-arte nos pés e no bailado das mulheres?
*Aldo Rebelo é ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP
Fonte: Diário de S. Paulo.