Síria denuncia atuação ocidental contrária à diplomacia 

Nesta terça-feira (17), uma fonte do Ministério das Relações Exteriores da Síria foi citada pela agência de notícias Sana, ao denunciar a atuação do Ocidente na debilitação de um processo político de solução do conflito no país, com o apoio aos grupos armados que lutam contra o governo. Na segunda (16), EUA, França e Reino Unido trataram do plano negociado com a Rússia para a entrega do arsenal químico da Síria, mas a retórica agressiva mantém-se.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho 

Bashar Al-Assad - Reuters

Os chanceleres ocidentais reunidos representam os líderes mais empenhados na ameaça de agressão contra a Síria, o presidente estadunidense, Barack Obama, o francês, François Hollande, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, que foi impedido por seu próprio Parlamento de declarar participação direta na intervenção militar propagandeada.

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Da reunião resultou outra declaração ameaçadora, embora a Síria, com o apoio da Rússia, venha reiterando o compromisso com as negociações tanto domésticas quanto internacionais sobre a violência interna e sobre a entrega do seu arsenal químico, como demonstração do seu empenho para a solução política do conflito que já dura dois anos e meio.

Os chanceleres “resolveram” que era preciso “advertir” a Síria que, caso não cumpra o compromisso que firmou, para a entrega do seu arsenal químico à supervisão internacional e subsequente destruição, “haverá consequências”. No sábado (14), Rússia e Estados Unidos anuciaram um acordo-quadro sobre os procedimentos e a extensão do compromisso sírio.

O governo da Síria vem denunciando frequentemente o efeito devastador do apoio ocidental e de países vizinhos aos grupos armados, paramilitares, muitos formados por mercenários estrangeiros e islamitas radicais. Este apoio se dá através do fornecimento de armas e do financiamento, mas trata-se principalmente de um apoio político, que legitima ações criminosas (como já reconhecidas pela própria ONU, em relatório recente do Conselho dos Direitos Humanos).

A cifra de “mais de 100.000 mortos” tem sido repetida para demonstrar a catástrofe humanitária pela qual a Síria passa, embora a responsabilidade estivesse sendo atribuída apenas ao governo de Assad durante dois longos anos. É tempo o suficiente para a construção da percepção de que é o governo quem massacra os seus cidadãos, e por isso precisa ser derrubado.

A precariedade da mediação internacional é denunciada pela Síria e pelos países que têm se manifestado contra a ameaça de intervenção militar. Estes, recentemente, têm proliferado, e os promotores da agressão encontram-se cada vez mais isolados. Como resultado, finalmente, tiveram de comprometer-se a dirigir ao Conselho de Segurança da ONU (conforme o direito internacional, surpreendentemente) qualquer decisão sobre o encaminhamento da questão.

A discussão, no âmbito internacional, sobre a “responsabilidade e o dever” de a idealizada “comunidade internacional” agir frente às atrocidades no país ganhou espaço exacerbado, enquanto a discussão primordial, sobre a constitucionalidade (e consequentemente, legitimidade) do governo Assad, era deixada para trás. De acordo com a fonte do Ministério das Relações Exteriores citada pela Sana, entretanto, esta discussão “é o direito exclusivo do povo sírio”, e foi promovida pelo governo.

Autoridades da ONU, entre elas o secretário-geral Ban Ki-moon, e a própria Liga Árabe, que havia se empenhado por forjar a legitimidade da representação da oposição no exterior (ao suspender a Síria da organização e repassar o assento oficial à oposição, em uma das suas conferências de alto nível), saudaram o acordo, proposto pela Rússia, de entrega do arsenal químico.

Ban saudou também o compromisso do governo da Síria com a adesão à Convenção sobre Armas Químicas, que prevê a destruição desse recurso, embora a vizinha Israel ainda não tenha ratificado o mesmo compromisso, e também já tenha sido acusada (com comprovações irrefutáveis coletadas e relatadas pela ONU) de usar armas químicas contra os palestinos.

Neste processo, a retórica pela intervenção militar “humanitária” contra a Síria tem perdido força, e diversos países, inclusive membros da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan), a máquina de guerra do Ocidente, já se declararam contrários ao plano, em favor do desenvolvimento das condições para a negociação, a diplomacia.