Sorrentino: Congresso é para pensar os rumos do partido e do país
O secretário nacional de organização do PCdoB, Walter Sorrentino, fez a afirmação ontem (21), durante debate realizado pelo comitê paulistano sobre as teses do 13º Congresso do partido. Para o secretário, o coletivo partidário deve refletir, principalmente, sobre as linhas mestres e rumos da legenda e também do Brasil.
Publicado 22/08/2013 17:35 | Editado 04/03/2020 17:16
A partir da análise sobre as manifestações que aconteceram em junho e julho, o dirigente apresentou as ideias que devem balizar as discussões no curso da mobilização do fórum máximo dos comunistas.
“O congresso acontece em um momento desafiador, diferente de dez semanas atrás, pois conjuntura política foi marcada por um vigoroso protesto”, introduziu Sorrentino.
A motivação dos protestos, segundo Walter, foi uma certa crise de representação política e os atos tiveram amplo e importante apoio das camadas médias tradicionais da sociedade, que foram acumulando menos atendimento por parte do governo. “Essa classe média paga caro por educação e saúde, paga altos impostos e a vida nos grandes centros é extremamente dura e cruel”, disse.
De acordo com Walter, “os avanços sociais geram a demanda de mais avanços” e mesmo com grande obra de distribuição de renda no Brasil as pessoas foram às ruas exigir mais. “Foi uma manifestação de civismo e isso foi bonito de ver”.
O balanço do último decênio é positivo, além dos dados sobre a implantação de políticas públicas, o secretário de organização destaca o avanço da democracia. “Houve um grande avanço democrático, as pessoas sabiam disso quando foram às ruas, tinham segurança nisso”.
Embora o balanço tenha sido ressaltado, Sorrentino também destacou o caráter conservador do Estado brasileiro, como por exemplo, a justiça, que “ainda é lenta e elitista e que ninguém é eleito, tendo seus cargos vitalícios”. Outra faceta conservadora do Estado é o sistema político partidário, que é conservador e depende do financiamento puramente privado.
Segundo o dirigente, o Estado brasileiro não está voltado para um novo projeto nacional de desenvolvimento, não está preparado para impulsionar essa evolução e procura mais travas das grandes obras. Walter citou o exemplo da reforma do Maracanã, que tiveram 14 órgãos de controle e fiscalização das obras.
Para continuar a trajetória de avanços no governo federal, Sorrentino defende um relançamento das ideias de esquerda. “Dilma precisa relançar as ideias, as balizas de um novo tempo para um novo governo”.
“É preciso mais desenvolvimento, mais democracia e isso exige força e clareza, requer romper os laços com as forças conservadoras”.
Cuidar mais e melhor do Partido
No balanço do último decênio está incluso também o papel que o PCdoB jogou, o seu comportamento e como aproveitou esse tempo com mais democracia.
“Foi muito justa a decisão de apoiar o Lula e a Dilma em seus mandatos. Essa não foi uma questão simples de resolver, porque nós somos um partido comunista, com uma missão histórica, não estamos aqui para ficar administrando os problemas do capital”, defendeu Walter.
Outra questão é que o PCdoB teve uma incidência real na luta política, teve ousadia de tentar fazer chapa própria, abrir o partido para novas lideranças e eleger centenas de vereadores e prefeitos de cidades importantes.
Quanto a estruturação partidária, o responsável pela organização do partido, afirmou que não é fácil construir um partido comunista, mas o extrato também é positivo.
“Nós construímos a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil); mantivemos a direção da UNE (União Nacional dos Estudantes); somos o partido que tem mais mulheres”, argumentou Walter.
O método centralismo democrático precisa ser aprimorado e o coletivo deve perseguir um partido militante e unido. “Nós não estamos aqui para ter tendências, servir um projeto individual, mesmo sabendo que o partido é um projeto feito de pessoas”.
Sobre as frentes de luta que devem ser centrais para atuação dos comunistas, Sorrentino disse que o entendimento de que elas são paralelas é equivocado e devem ser entendidas como uma articulação entre as frentes institucional, social e ideias.
“Não vamos ser ingênuos e cair na cantilena da contraposição dessas frentes. O que queremos é despertar a fome dos movimentos sociais para estes terem mais fome de política e ampliar as suas representações na esfera política – institucional. O Congresso nacional ainda é muito conservador”, sustentou o secretário.
O fato do PCdoB ser o único partido que tem um programa para guiar a sua elaboração e ação não é subestimado. “Ou a gente entende o programa que a gente luta ou a gente vai viver do passado”, expressou Walter Sorrentino.
De São Paulo, Ana Flávia Marx