Palestina: Enviado dos EUA deve ser mais ativo nas negociações

Uma disputa emergiu nas últimas duas semanas entre os negociadores de Israel e da Autoridade Palestina sobre a natureza e nível de envolvimento do enviado dos Estados Unidos para as conversações de paz, Martin Indyk. Uma matéria publicada pelo jornal israelense Ha’aretz, nesta quarta-feira (21), cita fontes dos dois lados, entre as autoridades, que defendem maior ou menor envolvimento de Indyk nas negociações.

Martin Indyk - Haaretz

Uma fonte israelense ressaltou, segundo o Ha’aretz, que os palestinos reivindicam um envolvimento ativo de Indyk nas conversações, inclusive com a sua presença à mesa de negociações.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, que se encontrou com Indyk nesta segunda-feira (19), pediu ao enviado estadunidense maior envolvimento. “O papel dos EUA não deveria ser limitado à supervisão”, Abbas foi citado dizendo a Indyk.

Leia também:
Palestinos debatem internamente sobre negociações com Israel
Palestinos precisam de garantias de Israel em prol de negociações
Israel e Palestina discutem agendas para negociações sem os EUA
EUA definem equipe para mediação entre Israel e Palestina

Os israelenses, por outro lado, expressaram reservas quanto ao envolvimento ativo do norte-americano, e disseram que estas negociações são diretas e bilaterais. De acordo com a posição israelense, exlicada pelo Ha'aretz, a presença de um representante estadunidense só impedirá as conversações e fará com que os palestinos "endureçam sua postura".

O envolvimento de Indyk e o impacto das últimas três rodadas de conversações (desde o anúncio de retomada das negociações mediado pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry, há quase um mês) ainda são insignificantes. Os palestinos, entretanto, advogam por um papel mais contundente dos EUA, e que o seu representante exija de Israel compromissos mais estruturais, como o fim das colônias na Cisjordânia e Jerusalém Leste, entre outros assuntos fundamentais.

Durante a primeira rodada , em Washington, há quase três semanas, Indyk esteve presente em alguns encontros, mas não esteve envolvido nas últimas duas rodadas, realizadas em Jerusalém, na semana passada.

Na terça-feira, Indyk não participou, apesar de ter sido visto em Israel pelos últimos 10 dias. Ele tem realizado encontros separados com israelenses e palestinos.

Durante a coletiva de imprensa do secretário de Estado, Kerry, há três semanas, em Washington, quando anunciou a retomada das negociações, o papel de Indyk foi classificado de “facilitador”, e não de “mediador”. Entretanto, Kerry também disse que o enviado estará envolvido ativamente nas negociações, se sentará às mesas e até submeterá propostas mediadoras, quando necessário.

Quando a sua nomeação como “enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio” foi feita, muitos analistas relembraram certo pessimismo manifestado por Indyk anteriormente, com relação ao processo de paz israelense-palestino.

Há pouco mais de um ano, Indyk afirmou, sobre uma eventual retomada do processo de paz, até então congelado desde 2010: "Não sou particularmente otimista porque acho que o centro da questão é que o máximo de concessões que este governo de Israel estaria preparado para fazer não corresponde aos requerimentos mínimos em que Abu Mazen [Mahmoud Abbas] insistirá”.

No mesmo momento, disse que seria possível que as partes voltassem a negociar, “o que seria algo bom, mas acredito que seja muito difícil” que um acordo seja alcançado.

Entretanto, no contexto da sua nomeação como enviado dos EUA, Indyk elogiou a retomada das negociações: “Hoje, o primeiro-ministro [israelense Benjamin] Netanyahu e o presidente Mahmoud Abbas fizeram decisões difíceis necessárias para voltar à mesa de negociações”.

Nesta segunda-feira (19), ainda assim, Indyk encontrou-se com o presidente Abbas em Ramallah, centro administrativo da Autoridade Palestina na Cisjordânia, quando Abbas reafirmou o comprometimento dos palestinos com o processo de paz, e Indyk reiterou que os EUA “seguirão se esforçando por impulsionar as negociações adiante”. A frase é a mesma há mais ou menos quatro décadas, e já foi mais eficaz.

Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho