Ativistas querem levar Renascimento do Parto à rede de saúde
Muito além de ser um filme sobre um processo natural da vida, o documentário O Renascimento do Parto é resultado de um intenso processo de militância e articulação nas redes, consultórios, maternidades e casas de parto espalhadas em todo país. O objetivo das militantes é fazer com que, depois de sair do circuito comercial, ganhe festivais e que chegue às unidades de saúde.
Por Deborah Moreira, da redação do Vermelho
Publicado 21/08/2013 18:07
Imagem de divulgação do documentário O Renascimento do Parto
O trabalho de militância começa desde a iniciativa da produção, feita com recursos próprios do casal Érica de Paula, doula e educadora perinatal, e de Eduardo Chauvet, cineasta e produtor audiovisual. Eles tiveram a ideia, em 2011, de transformar um programa especial para o Dia das Mães, para a TV, em longa metragem. Orçado primeiramente em R$ 550 mil, foi produzido efetivamente com R$ 45 mil.
A primeira versão do material tinha cerca de duas horas e foi exibida pela primeira vez em março deste ano somente para ativistas de São Paulo. Naquele momento, todos os presentes saíram de lá convictos do papel pedagógico do filme e da importância de mostra-lo a um número maior possível de pessoas. A exibição nos cinemas foi a resposta imediata. Porém, como fazer chegá-lo às telonas das dezenas de capitais?
“Tentamos recursos públicos e privados, mas esbarramos na burocracia estatal ou no medo de empresas de se aliarem a um projeto tão ousado e revelador nas suas graves denúncias de um sistema obstétrico perverso”, contou Eduardo Chauvet.
Foi então que surgiu a ideia de recorrer ao sistema colaborativo crowdfunding, mecanismo bastante utilizado nas redes sociais onde é possível contar com a contribuição de quem está disposto a financiar ideias (a partir de cotas de R$ 30). Para o cineasta, o audiovisual no país vive um bom momento graças à Lei 12.485 de 2011, da TV Paga, promovida pela Agência Nacional do Cinema (Ancine). Porém, a morosidade nos processos ainda é uma barreira para determinados produtos que têm prazo de validade.
divulgação
“Vivemos um grande boom no audiovisual brasileiro graças à Lei 12.485. Há vários editais no mercado de norte a sul. A Ancine tem realizado um belo trabalho. Fato! O problema ainda é a burocracia que emperra muitas vezes. A nossa obra tinha data de validade. Não podíamos esperar 2, 3, 4 anos para a execução. Enquanto aqui estamos [nessa entrevista] quantas mulheres estão passando por uma cesárea desnecessária, sendo enganadas?”, indagou.
A advogada Ana Lúcia Keunecke, uma das ativistas que contribuíram para que o filme acontecesse no circuito nacional de cinema, acredita que há um papel do Estado na adoção de políticas públicas que é evidente, mas “existem movimentos que brotam do povo” e são urgentes. “Como ativista eu acho que sim, que o Estado precisa custear a Cultura, a Saúde. Mas, existem movimentos que brotam do povo. E a questão do sistema obstétrico nos hospitais particulares, principalmente, é urgente que alguém tome uma atitude para fazer parar essa agressão contra a mulher”, exclamou Ana Lúcia. Para não ser vítima da chamada violência obstétrica optou em ter seus dois filhos em casa, com acompanhamento de profissionais capacitados.
“Ter trabalhado para esse filme acontecer na tela do cinema fez com que eu tivesse a certeza do meu ativismo e do meu lugar no mundo, de que estou no caminho certo”, declarou.
Ao serem perguntados de quem foi a ideia de recorrer a esse tipo de financiamento, Ana Lúcia e Eduardo reforçam o espírito colaborativo que mobilizou dezenas de ativistas que atuam na defesa do parto humanizado. “Ao final, a ideia foi de todos nós que queremos humanizar o parto e nascimento no Brasil. Desejo coletivo que transformou um sonho em realidade: o filme nas telonas”, exclamou o cineasta.
Em três dias o filme conseguiu arrecadar a meta inicial (R$ 65 mil), emplacando a exibição em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. O valor total arrecadado chegou aos R$ 140 mil e foi utilizado para cobrir o valor aportado com recurso próprio, distribuição, aquisição de formatos digitais, qualidade no som e em viagens para a promoção do filme. Porém, ainda não paga todos os profissionais envolvidos.
No entanto, os idealizadores sabiam desde o início que o maior retorno não seria o financeiro: “O nosso maior retorno até aqui é poder enxergar nessa obra uma poderosa ferramenta de transformação social. Ninguém sai impune ou imune da sala de cinema. As pessoas se veem em outro mundo após a obra. Estamos muito felizes com o resultado e prova dessa humanização da causa é que acabamos de ser selecionados para três festivais internacionais: o 6th Los Angeles Brazilian Film Festival, o DocBrazil China e o VI Festival de Cine Latino-americano y Caribeño de Margarita na Venezuela. E outros muitos ainda estão por vir”, comemora Eduardo Chauvet.
Por um mundo melhor
Longe de ser apenas um sentimento hippie, inspirador para poetas, filósofos e romancistas, o amor é colocado no filme como ponto alto na busca por um mundo melhor, mais humanizado. Desde as explicações científicas do médico e pesquisador Michel Odent, referência mundial no assunto, que filosofa acerca do desaparecimento do hormônio do amor, a oxitocina liberada durante o trabalho de parto, por conta da redução do número de partos normais, até os depoimentos de vítimas da chamada violência obstétrica cometida contra mulheres e familiares durante o ato de parir, o telespectador é convidado a refletir sobre que tipo de sociedade queremos.
“Assisti ao filme no dia da pré-estreia e posso dizer que esse é, de longe, o maior incentivo que recebemos às nossas ideias sobre humanização do parto e nascimento, ao longo dos últimos anos. Tenho certeza que ele irá trazer para o movimento muitas outras pessoas, que verão ali nas imagens suas próprias histórias", declarou a obstetriz Ana Cristina Duarte, que atribui ao casal o grande feito de conseguir fazer com que o Renascimento chegasse às salas de cinema.
A doula Mariana Lettis, que contribuiu na divulgação do filme e na arrecadação pelo crowdfunding, lembrou que ao ver o material pensou imediatamente em usá-lo como ferramenta de trabalho na “esperança” de ajudar a mudar a forma de nascer. “Quando ainda não sabíamos como fazê-lo chegar ao cinema, logo vimos que seria uma importante ferramenta de conscientização. Para nós doulas é um ótimo material pedagógico para ser exibido inteiro ou em partes em grupos de gestantes ou para quem pensa no assunto”, recordou a doula. Para ela, a mudança de visão depende principalmente das mulheres. “É uma mão dupla. Por um lado, há a necessidade de questionar médicos e a política de Saúde do sistema público, que remunera mal o obstetra. Mas, principalmente, é preciso mudar a cultura das mulheres. São elas que devem levar a demanda aos consultórios”, completou.
De acordo com Ana Lúcia Keunecke, o documentário faz parte de um projeto maior de conscientização sobre a importância de se estimular o parto natural. "Depois dessa primeira fase, a ideia é fazer cópias e, nós ativistas, vamos distribuir em unidades de saúde, consultórios, cineclubes e até a representantes do Judiciário para que eles tenham acesso à denúncia da violência obstétrica nesse contexto", vislumbra a militante pelo parto humanizado.
Programação
De acordo com o Filme B, responsável pela bilheteria, o documentário já foi visto por 6.500 pessoas. O filme, que estreiou na sexta-feira (9), ainda está em cartaz em algumas salas de cinema. Abaixo os horários desta semana:
CINE CANDIDO – RIO DE JANEIRO
18h40
TOPÁZIO CAMPINAS SALA 3 DIGITAL 18h15,
SALA 4 DIGITAL Sexta a Domingo 14h20
CINESPAÇO MAG SHOPPING – JOÃO PESSOA
SALA 1 DIGITAL 18h
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA GLAUBER ROCHA – SALVADOR
SALA 4 DIGITAL 14h50 – 19h30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – PORTO ALEGRE
SALA 8 DIGITAL 18h30
CINESPAÇO BEIRAMAR – FLORIANÓPOLIS
SALA 5 DIGITAL 16h10 – 19h50
Dia 24/08 (sábado) SESSÃO CINEMATERNA às 14h.
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – CURITIBA
SALA 1 DCP 18h10
ESPAÇO FAROL DE CINEMA – TUBARÃO (João Pessoa)
SALA 1 DIGITAL 16h10 – 20h10
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – BRASÍLIA
SALA 1 DCP 16h – 17h50
Dia 27/08 (terça-feira) CINEMATERNA às 14h.
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA (São Paulo)
SALA 4 DIGITAL 14h – 18h40
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – BOTAFOGO (Rio de Janeiro)
SALA 5 DIGITAL 18h30
CINESPAÇO VILLAGIO – SOROCABA
SALA 1 DIGITAL 18h
LUMIÈRE CINEMA – MACEIÓ
SALA 2 DIGITAL 19h – 21h
LUMIÈRE CINEMA – LONDRINA
SALA 4 DIGITAL 19h – 21h
LUMIÈRE CINEMA – PALMAS
SALA 4 DIGITAL 18h50 – 21h
CINEMARK BARRA SHOPPING SUL – PORTO ALEGRE
SALA 2 DCP 16h
CINEMARK CAMPO GRANDE
SALA 8 DCP 19h40 – 21h50
BELAS ARTES – BELO HORIZONTE
SALA 1 DIGITAL 17h10