Após pressão, Jornal Nacional dedica mais de 6 minutos a Amarildo
Há um mês, Amarildo de Souza desapareceu, no Rio de Janeiro, depois de ter sido levado para ‘averiguação’ por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha. Depois de muita pressão popular nas redes sociais e mídia alternativa, o Jornal Nacional, da Rede Globo, dedicou ao ajudante de pedreiro 6 minutos e 44 segundos de sua edição de quarta-feira (14).
Publicado 15/08/2013 17:12
Há duas semanas, a Polícia Civil informou que o GPS do carro que conduziu Amarildo de Souza estava quebrado. Mas, sabe-se que existem pelo menos dois aparelhos ligados ao veículo que possibilitam o rastreamento.
O Jornal Nacional teve acesso ao trajeto do carro que levou Amarildo no dia 14 de julho. Em um vídeo foram captadas imagens de Amarildo de Souza entrando no carro da polícia. Passava das 19h de domingo de 14 de julho, quando ele deixou um dos postos da Unidade da Polícia Pacificadora da Rocinha.
Ainda de acordo com policiais militares, ele foi liberado logo em seguida. Não há imagens da chegada de Amarildo à unidade. As duas câmeras de segurança que monitoram a entrada e saída não estavam funcionando.
No dia primeiro de agosto, a Polícia Civil informou que o aparelho de GPS – que registra o deslocamento do veículo – estava inoperante. No mesmo dia, o secretário de Segurança do Rio disse que os defeitos no equipamento seriam investigados.
Veja o trajeto que teria sido feito na noite do desaparecimento:
Às 19h22, o carro sai do posto da UPP com o ajudante de pedreiro. Em menos de 3 minutos, chega à sede da unidade.
Cinco minutos depois, o carro deixa o local e retorna para o posto, onde fica por um minuto. Até voltar à sede da UPP. A viatura permanece ali por mais cinco minutos e começa a descer o morro às 19h37.
No meio do caminho, o carro faz uma parada de 4 minutos, em uma área movimentada da Rocinha, conhecida como “Curva do ‘S’”.
Em seguida deixa a favela, passa pela Zona Sul e vai em direção à Zona Portuária da cidade. Circula durante 47 minutos. Às 20h37, retorna para a Zona Sul. Na Lagoa, dá meia volta e segue para o centro do Rio.
Uma hora e 12 minutos depois de ter deixado a Rocinha, o carro para pela primeira vez. No Batalhão de Choque da PM, por 7 minutos. Ao sair do batalhão, volta para a Zona Sul pelo Túnel Rebouças, mas pega o retorno e vai agora à Zona Norte. Permanece por dois minutos nas proximidades do Hospital Central da Polícia Militar e do Morro de São Carlos – uma comunidade pacificada.
Depois, retorna para a Zona Sul. Destino: o Batalhao da Polícia Militar no Leblon. A viatura fica parada por 6 minutos e segue para a Rocinha.
Os registros do GPS entregues aos investigadores terminam à 0h do dia 15 de julho, pouco mais de 24 horas após o sumiço de Amarildo. Os dados revelam que neste período o carro não deixou mais a favela.
No depoimento do policial que dirigiu o carro na noite de 14 de julho, o soldado omite informações. Ele confirma que, com outros três policiais, levou um homem à UPP da Rocinha, na parte alta da comunidade. Mas, ao contrário do que mostra o GPS, não lembra de ter voltado minutos depois à sede da unidade.
O PM também afirmou que o carro não foi emprestado a outro policial e que permaneceu até 20h na favela, quando foi abastecer o veículo no Batalhão de Choque, no centro da cidade. Só que o soldado não deu detalhes do trajeto.
Omitiu ter passado pela Zona Portuária do Rio, pelo hospital da Polícia Militar e pelo Batalhão da PM, no bairro do Leblon. Também não disse a que horas voltou para a Rocinha. Outro detalhe que chama a atenção: o GPS informa que o carro ficou 7 minutos no Batalhão de Choque e que depois a viatura levou uma hora e 28 minutos para seguir de lá até a Rocinha.
No depoimento, o policial não explica o porquê. Era um domingo, quando não costuma haver trânsito.
Investigadores vão pedir que peritos analisem as informações coletadas pelo aparelho de GPS. Segundo a Polícia Civil, dos 22 carros da UPP da Rocinha, quatro não têm o equipamento. A Divisão de Homicídios, que investiga o caso há 12 dias, trabalha com duas hipóteses para o crime: Amarildo pode ter sido morto por policiais militares ou por traficantes.
O Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse que não podia gravar entrevista nesta quarta. Em nota, a secretaria confirmou que o GPS instalado no carro que levou Amarildo até a sede da UPP da Rocinha estava quebrado.
Mas, pela primeira vez, a secretaria menciona a existência de outros dois aparelhos capazes de enviar sinais de localização. Um fica no rádio do veículo; o outro, em um rádio portátil utilizado pelos policiais. A nota informa ainda que todos os dados do GPS do rádio do carro foram anexados ao inquérito da Delegacia De Homicídios do Rio.
Com informações do Jornal Nacional