Renato Arthur: Partido de massa ou partido formador das massas?
Pensando ainda na perspectiva do meu artigo anterior, que tratava da centralidade do centralismo e dos riscos a que estamos submetidos, gostaria de ir além nesta discussão.
Por Renato Arthur*
Publicado 13/08/2013 11:30 | Editado 13/12/2019 03:30
Reconhecer que existe uma pressão externa e/ou interna para a adequação do Partido ao momento atual é o primeiro passo. Um dos sintomas desta pressão se dá na elaboração, talvez ainda inconsciente, de uma redefinição do partido. Afinal, que partido queremos? Será que é este o partido de que necessitamos?
Durante o Sétimo congresso tínhamos uma palavra de ordem que me marcou, quando juntos, todos os delegados presentes gritavam: “Em breve, em breve, seremos um milhão pra junto com o povo fazer Revolução”. Os anos se passaram e o partido continua a sua trajetória de crescimento, conforme demonstra o item 113 das Teses. Este deve ser nosso rumo, mas qual a fronteira entre um partido de massas e um partido revolucionário? Há uma linha de corte?
A preocupação que me fez voltar à Tribuna de Debates persiste. Esta pressão, necessária, pela ampliação de nossa força é justa, mas abre precedentes perigosos, como a influencia de uma visão social-democrata trazida pelos novos aderentes. Mas que pode se consolidar na redefinição pragmática de nosso Partido, ao crescermos rápidamente sem uma barreira organizativa.
Como Leninistas, vivemos nos dias atuais no processo constante de Unidade e Luta em um governo de alianças, nem sempre com os melhores aliados. Mas em uma aliança com o PT estamos pondo à prova este princípio da unidade, com o combate permanente pela condução política. Podemos dizer que o PT é um partido de massas. Em parte pela presença e participação popular. Mas isto não implica dizer que não existam revolucionários neste partido, sim existem, mas não existe uma base organizada para que estes se expressem. Seus quadros dirigentes vivem o “democratismo” da Social Democracia, pela sua prática e formação. A experiencia tem demonstrado o acerto em nossas ações no jogo político até aqui.
E é esta base organizada, voltada para a revolução que deve distinguir os partidos de massa daquele que se quer revolucionário. Aí encontramos a nossa linha de corte. Um partido centralizado, que discute e prepara a sua ação política, mas que age e reage como um organismo vivo, enfrentando as dificuldades que se apresentem como um só centro de lutas. Pronto a dar respostas a tudo de maneira única. Esta é a disposição! Mas aqui eu pergunto: a realidade de nossa expansão e crescimento nestes novos tempos nos permite pensar e agir assim? Quanto de nossas ações passaram a serem retardadas ou mesmo impedidas pela presença desta nova base de visão social-democrata, quando o jogo eleitoral passou a ter uma importancia maior? As vezes única opção.
O revisionismo de Kruschov lançou a teoria dos Dois Todos, (Partido de todo o povo e Estado de todo o povo), a que nos opussemos, em conjunto com o partido comunista Chinês. Por ser uma porta para o fim do partido de classe e da ditadura do proletariado. Se hoje trabalharmos com a hipótese da batalha eleitoral, nos marcos da democracia vigente, como a forma de luta prioritária não corremos este mesmo risco?
Aqui quero destacar minha visão. O Partido que precisamos não é de massas, mas um Partido formador das massas. Que seja o condutor das lutas e um exemplo revolucionário. Não podemos perder este rumo. Um partido de massas, dirigido pelas massas, não é revolucionário, é conduzido. Transforma-se em passageiro em um carro desgovernado!
Não bastaria somente investir na Formação, que continua a ser de fundamental importancia, mas a relação crescimento/formação ainda não é suficiente para responder a esta necessidade, tendo em vista a nossa taxa de adesões serem superior a nossa possibilidade de formar quadros, e isto num tempo curtíssimo. O que fazer?
Penso que a resposta pode desagradar a alguns camaradas, pois acho que em muitos casos seria necessário intervir nos organismos intermediários, alterando direção ou decisões políticas que firam o princípio norteador de um Partido pautado pela revolução e não pela eleição como batalha principal. Quando alianças eleitorais pontuais jogam por terra o Centralismo Democrático e a perspectiva da via revolucionária, precisamos parar e pensar em nossa conduta. E este é o momento de refletir internamente, fazendo deste Congresso uma tribuna para as transformações que necessitamos.
Titulo original: Partido de massas ou um partido formador das massas? Ainda sobre os riscos do momento presente.
*Renato Arthur é membro do Comitê Municipal de Santa Inês, Maranhão.