Trabalhadores reafirmam luta contra a terceirização pelo Brasil
‘Terceirização Não!’. Essa foi a palavra de ordem da manifestação contra o Projeto de Lei nº 4330, organizada pelas centrais sindicais (CTB, CUT, Força Sindical, UGT, CSP-Conlutas, NCST, CGTB), nesta terça-feira (6), em frente a sede da Federação das indústrias do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista.
Publicado 06/08/2013 16:59
O ato reuniu cerca de mil trabalhadores de diversas categorias com o objetivo de pressionar os empresários para retirarada da pauta da Câmara dos Deputados do Projeto de Lei, de autoria do deputado e empresário Sandro Mabel (PMDB-GO). A proposta amplia a terceirização da mão de obra para todas as atividades, o que intensificará ainda mais a precarização das relações e as condições de trabalho.
Em entrevista ao Vermelho, Adilson Araújo (foto acima), presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Bahia (CTB/BA) e indicado para a sucessão da presidência nacional da CTB, reafirmou que a entidade é contra o projeto porque abre espaço para a “terceirização escancarada” e acaba com o que eles denominam responsabilidade solidária. O que, afirmou o dirigente, é o principal interesse dos empresários. Segundo ele, “os trabalhadores estão abertos ao diálogo, mas que fique claro que há um limite”.
O dirigente ainda apontou que “se o texto do substitutivo em questão for aprovado, além abrir espaço para a prática da quarteirização, deixará o caminho livre para a pejotização, que nada mais é do que a terceirização indiscriminada que as empresas realizam quando contratam profissionais estabelecendo contrato de natureza jurídica”.
No mesmo tom, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas de Moraes, acrescentou que “o projeto, além de diminuir custos para a empresa, desqualifica a mão de obra. Situação que o movimento sindical não irá tolerar”.
Ele destaca que, “lamentavelmente, o Brasil tem hoje um Congresso Nacional que não representa democraticamente toda a sociedade brasileira. O Parlamento é hegemonizado por representantes de empresários e pelos próprios empresários; e o PL 4330 é uma reivindicação deles, que legaliza esse crime cometido contra os trabalhadores que é a terceirização”, afirma o dirigente.
O Secretário Nacional Sindical do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Nivaldo Santana (foto ao lado), marcou presença no ato e declarou que a luta por um projeto nacional de desenvolvimento tem que ter como um dos pilares fundamentais a valorização do trabalho.
“Essa valorização significa mais salário, mais empregos e mais direitos. Por isso, combatemos esse projeto que aprofunda a precarização, escancara a terceirização e cria uma subcategoria de trabalhadores. Apoiamos a luta do movimento sindical, apoiamos os trabalhadores e trabalhadoras e estaremos firmes na luta para que o Congresso Nacional não aprove esse projeto de lei”, enfatizou Nivaldo Santana.
Ao final do ato, um grupo teatral fez uma encenação mostrando o prejuízo que a prática causa aos trabalhadores em benefício dos empresários.
Terceirizados sem direitos
As centrais apontam que existe um vácuo legal nesse setor, o único instrumento legal que regula a terceirização no país é o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho, mas sem força de lei. Além disso, os trabalhadores terceirizados recebem 27% a menos, mais de 70% tem menos direitos trabalhistas.
Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o trabalhador terceirizado fica 2,6 anos a menos no emprego, cumpre três horas a mais em sua jornada semanal e ganha 27% menos que os demais.
No que se refere à segurança, o Dieese também verificou que a cada dez acidentes de trabalho, oito acontecem entre os terceirizados. Outra questão apontada pela pesquisa é que com a proposta do PL 4330, a “responsabilidade solidária”, que transfere à empresa contratante a obrigação de cumprir com deveres trabalhistas desrespeitados pela contratada, será sufocada. Ou seja, se a empresa terceirizada deixar de pagar aos trabalhadores o FGTS, por exemplo, a tomadora de serviços não terá mais qualquer responsabilidade por isso, e o trabalhador não terá a quem recorrer.
De acordo com o metalúrgico de São Caetano do Sul Marcelo Toledo disse ao Vermelho que a categoria trava uma luta intensa contra a terceirização nesse setor. Ele denunciou que empresas como a General Motors já faz uso dessa prática, o que prejudica a luta pela ampliação de direitos no interior da fábrica.
Para Toledo, que também é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, “essa realidade continuará sendo combatida pelos trabalhadores e trabalhadoras que estão em luta. “Os metalúrgicos entendem que a aprovação da lei criará um efeito cascata. Além de prejudicar diretamente quem está na ativa hoje, abre espaço para se empreender uma demissão em massa, com a substituição da força de trabalho, especialmente daquela força de trabalho que, com muita luta, avançou na conquista de direitos”.
Protestos pelo Brasil
Em diversos estados, trabalhadores e trabalhadoras de várias categorias também realizaram seus atos contra o Projeto de Lei 4330.
Em Belém, o ato ocorreu em frente à sede da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa). Além da luta contra a terceirização, o ato na capital paraense inclui a luta por transporte de qualidade; contra a violência policial; Fim do Fator Previdenciário; mais verbas para Saúde e Educação; redução da jornada de; valorização das aposentadorias; reforma agrária e pelas reformas estruturantes (mídia, tributária, educação, urbana).
Recife também foi palco de manifestação contra a terceirização. As centrais se concentraram em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), na Avenida Cruz Cabugá. Ao final, os trabalhadores foram recebidos pela vice-presidência da Federação das Indústrias, que recebeu documento que solicita uma análise profunda da PL 4330, sobre terceirização.
Em Belo Horizonte, cerca de cerca de duas mil pessoas participaram do ato. De acordo com informações, os trabalhadores seguiram em passeata pelas ruas da região central até a sede da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Na oportunidade, as centrais inauguraram um placar com a relação de todos os deputados federais mineiros, para que a população possa acompanhar a votação de cada um deles ao PL 4.330.
Em Porto Alegre, a concentração dos manifestantes começou às 8 horas da manhã, em frente à Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul, a Fecomércio. Os representantes do Sindicato dos Rodoviários, Sindicomerciários e Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região lotaram dois ônibus e se juntaram aos demais trabalhadores do Estado na capital. Da Fecomércio, todos seguiram em caminhada até a Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul, a Federasul.
Também ocorreram manifestações nas capitais do Ceará, Piauí, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro.
Outras agendas
Ao final do ato na Avenida Paulista, Pascoal Carneiro, secretário-geral da CTB, informou ao Vermelho que as centrais estão agendando reunião para decidir como se dará a ocupação do Congresso Nacional nos dias 13 e 14 de agosto, dia em que será discutido o PL 4.330.
Ainda dentro do calendário construído pelas centrais, está a realização de uma grande Mobilização Nacional com Greves e Paralisações, no dia 30 de agosto.
Na pauta de reivindicações, os pontos unificados pelas centrais incluem o fim do fator previdenciário; 10% do PIB para a Saúde; 10% do PIB para a Educação; redução da Jornada de Trabalho para 40h semanais, sem redução de salários; valorização das Aposentadorias; transporte público e de qualidade; reforma agrária; mudanças nos Leilões de Petróleo e rechaço ao PL 4330, sobre terceirização.
Joanne Mota
De São Paulo