Juventude progressista avança rumo à integração latino-americana
Qual o papel da juventude na construção de um projeto de integração para a América Latina, respeitando a soberania dos povos? Quais os próximos passos rumo à construção do socialismo? Na busca de encontrar respostas para essas questões, juventudes de diversas nacionalidades do continente se reuniram durante o 5º Encontro de Juventudes do Foro de São Paulo, no Novotel Jaraguá, na capital paulista.
Por Deborah Moreira, da redação do Vermelho
Publicado 03/08/2013 03:13
Mesa do painel sobre integração latino-americana / fotos: Deborah Moreira
O painel “A Integração Latino-americana, o Projeto de Desenvolvimento e a Juventude”, que ocorreu no final da tarde de quarta-feira (31), contou com quatro integrantes na mesa, que deram seu olhar sobre o panorama atual e em tom convocatório, evocaram a presença e a unidade nas lutas. São eles: José Angel Maury, secretário de Relações Internacionais da União da Juventude Comunista (UJC) de Cuba; Fernando Pacheco, coordenador de Relações Internacionais da Executiva Nacional da Juventude do PT (JPT); Andrés Rodríguez, da Juventude Comunista Colombiana (Juco); e André Tokarski, presidente da União da Juventude Socialista (UJS).
“Há cerca de 10 anos a América Latina vive um processo importante de vitórias eleitorais e políticas das forças progressistas e anti-imperialistas e, agora, precisamos inaugurar um novo ciclo para aprofundar essas conquistas e de direcionar a luta pelo socialismo nesses países”, disse André Tokarski, que abriu sua fala citando dois importantes pensadores e incentivadores da cultura latino-americana. O venezuelano Simon Bolívar, que lutou contra a colonização do continente, para lembrar as raízes da busca pela integração, e Darcy Ribeiro, antropólogo e intelectual brasileiro para explicar o que une os países da região, que têm na conformação de sua identidade, uma característica comum, o de sermos fruto de um processo de expansão ibérica de Portugal e Espanha, e um antagonismo comum, a luta contra o imperialismo estadunidense e, por isso, diz Darcy Ribeiro, a luta anti-imperialista é imanente a todos nós.
“As nossas lutas não acontecem sem resistência do imperialismo na nossa região. O Foro de são Paulo acontece em um contexto pré-eleitoral no Brasil e na Argentina, dois países importantes na organização desse bloco, e num contexto de crise econômica, que aponta para a falência do modelo neoliberal, em especial nos Estados Unidos e na Europa, onde a América Latina se apresenta como um polo de esperança, de expectativa de novas ideias e caminhos que seja possível romper o cerco neoliberal”, completou Tokarski.
O militante da UJS lembrou, ainda, o contexto político e social que passaram os países e que é fundamental compreender a historicidade para alcançar a integração. “Além do engajamento na luta, na unidade, é preciso ter em mente que sem compreender qual processo histórico vive a América Latina, que tem uma formação colonial, a partir da expansão europeia, da escravidão forçada de negros da África e dos povos originários que aqui já habitavam, não conseguiremos avançar”, comentou, levando em conta ainda o processo de independência, formação de identidades nacionais, o enfrentamento às ditaduras militares e, por fim, a recente luta para consolidar governos democráticos.
Alerta!
O cubano José Angel Maury e o colombiano Andrés Rodríguez também ressaltaram a compreensão do processo histórico latino e das conquistas acumuladas, como a consolidação de importantes mecanismos de unificação como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) e o Mercado Comum do Sul (Mercosul).
Andrés lembrou o período difícil de dominação das oligarquias, juntamente com regimes ditatoriais, que entre 1930 e 1980 “encerraram a possibilidade da participação política do povo nas transformações”, além da reprodução da economia e da cultura norte-americana, que levou a um processo de produção de commodities e da expulsão violenta dos trabalhadores rurais de suas terras. “Foram 50 anos de uma perspectiva burguesa no continente. Esse projeto fracassou economicamente, politicamente e ambientalmente, sem integração entre os povos. Depois disso, a onda neoliberal destruiu o patrimônio estatal, na redução dos direitos sociais, em meio a lutas contra as ditaduras. No entanto, os 20 anos de neoliberalismo, apesar da guerra, da repressão, criou-se um paradigma alternativo ao capitalismo, o Foro de Sã Paulo, que tem iluminado as lutas populares na América latina e por isso é tão importante”, completou.
Em sua avaliação, o jovem da Colômbia elencou três elementos essenciais para o avanço da integração, no contexto do Foro. “Em primeiro, o avanço solidário entre os países, com a complementação de nossas economias para equilibrar o desenvolvimento agropecuário e industrial; em segundo, a construção de projetos estratégicos para nossos países em infraestrutura, ciência e tecnologia, um projeto educativo latino-americano com base na diversidade política e cultural”, explicou Rodríguez.
Seu terceiro ponto foi um alerta sobre os planos de dominação do continente encabeçado pelos Estados Unidos: “Temos muitas ameaças das forças imperialistas, na Colômbia, mas acredito que temos condições agora de construirmos com democracia, paz, justiça social, uma Colômbia que possa se unir às batalhas por uma região autônoma e soberana que esperamos todos”.
Nesse flanco, Andrés Rodríguez frisou que a juventude tem papel fundamental para desarticular as estratégias neoliberais conservadoras que se mantém. “A juventude de hoje tem muito que aprender sobre o passado e podemos construir novos critérios de união para nossos países. A juventude que tem um potencial de desenvolver , do ponto de vista político, econômico, cultural, cientifico, para avançar no bem estar material, espiritual dos povos. E nesse sentido, a juventude latino-americana forma a maioria da população, tem uma oportunidade para que os esforços e a capacidade produtiva e intelectual desenvolva um projeto regional, autônomo, soberano, dialogando com outros processos do mundo, mas mantendo diálogo permanente entre seus vizinhos”.
“O imperialismo não se cansou, não está sentado esperando”
José Maury também alertou sobre a constante presença estadunidense entre nós. “É preciso ter claro que o imperialismo não se cansou, não está sentado esperando. Temos que ver as realidades e traçar uma estratégia contra a dominação do imperialismo ainda presente”, exclamou.
Para ele, há um aspecto subjetivo que é preciso levar em conta: o de que a crise econômica, o aumento do desemprego nas camadas mais pobres, o desgaste da organização política social, o narcotráfico como uma via econômica alternativa são efeitos da crise capitalista e que, de acordo com Maury, está afetando o avanço de políticas mais progressistas na região. “Há uma contraofensiva agressiva de forças imperialista contra o avanço da esquerda e nós temos que ter claro o momento que estamos vivendo. Temos que estar alertas para nos concentrar nos esforços”, destacou.
André Tokarski e José Maury durante painel
O cubano da UJC citou como exemplo da contraofensiva o fenômeno de criação da Aliança Pacífico. “Como já foi citado antes aqui, é Alca [Área de livre comércio das Américas] com outro nome, está sendo regida pelos Estados Unidos, e temos que ter claridade que com outro nome, outra estrutura, outra característica, até piores, porque passa o limite da América, estamos regressando e precisamos impor o ‘No Alca”, disse Maury, que também citou como exemplo as novas formas de golpe empreendidas em Honduras e Paraguai.
O representante da juventude cubana chamou a atenção da plateia: “Estamos vivendo um momento delicado e precisamos lutar para não corrermos riscos”, citando a investida contra o chavismo e contra o processo bolivariano na Venezuela. Para ele, se não houver compreensão deste momento “vamos hipotecar esses 10 anos de mudança de correlação de força, vamos hipotecar o sonho de Bolívar, o sonho de [José] Martí. (…) É preciso resistir, a unidade é a principal arma da sociedade para prevalecer a revolução. Nós como juventude de esquerda temos que entender esse momento e acompanhar nossos partidos que também discutem essa temática e construir propostas concretas. Está nas mãos da juventude, desta geração, de continuar o processo de independência da América Latina e estamos preparados para isso, para defender o sonho de nossa unidade independente”, concluiu.
“Plataformas reais não só de resistência, mas de construção de proposituras”
Apesar das ameaças, Fernando Pacheco, da JPT, falou com otimismo sobre o surgimento de um cenário “mais propício para que promovamos discussões mais profundas e mais reais a respeito da integração latino-americana” para fortalecer o continente geopoliticamente, a partir de novas possibilidades que possibilitam colocar o diálogo em outro patamar, exaltando os espaços de diálogos do bloco – Celac, Unasul, Mercosul, Alba e Foro de São Paulo: “Esses espaços deverão ganhar mais importância, gradativamente. E digo em plataformas reais não só de resistência, mas de construção de proposituras de modelos contra hegemônicos, principalmente neste momento de crise do capital, do enfraquecimento do poder de influência das potencias mais desenvolvidas na nossa região, apesar de algumas ameaças que enxergamos”.
Para o representante da JPT “mais do que resistir ao neoliberalismo e ao imperialismo, é preciso compreender qual é a agenda mínima política que nós exercemos, quais são os direitos sociais mínimos que defendemos e quais mecanismos possíveis para enfrentar as ondas conservadoras que tentam desconstruir nossos avanços”. Ele aposta em uma integração nos blocos mais ampla, que não se limite a união econômica. “Que tenhamos mecanismos de compensação das desigualdades históricas, mecanismos de financiamento de infraestrutura de projetos sociais cooperação e aproximação dos povos. Um exemplo é a Unila, Universidade da América Latina em Foz do Iguaçu, que tem contribuído para um projeto próprio, autônomo e soberano”, exemplificou Pacheco.
“Acredito que aqui [no Foro] devamos propor uma plataforma comum para o continente, que passe pela política, econômica, e também numa perspectiva cultural, de que cada vez mais a gente tenha uma cultura de conviver em respeito aos povos e proximidade, se compreender e se ver como latino-americano”, emendou.