Renato Arthur: A centralidade do Centralismo Democrático
O Centralismo Democrático é um pilar de sustentação para um partido leninista. Sua construção como ideia força reside na própria origem do Partido, como vanguarda de uma classe explorada, que aprendeu no dia a dia das fábricas a importância da disciplina e da unidade.
Por Renato Arthur*
Publicado 31/07/2013 10:11 | Editado 13/12/2019 03:30
Tanto que Marx, ao tratar do fantasma que rondava a Europa, no Manifesto Comunista, aponta a classe operária como a portadora do germe da destruição do capitalismo. E é esta vivência, pela prática, que faz dos operários os responsáveis pelo futuro de uma nova sociedade.
Podem perguntar: mas isto não é a reafirmação de princípios do PCdoB? Seria necessário falar sobre isto, neste momento de manifestações populares? Creio que sim!
No parágrafo 113 das Teses, está em destaque o crescimento de nosso Partido, expresso em números, mas que, podemos dizer, estão ainda distantes da nossa necessidade de expansão. E da sua possibilidade também. Potencialmente podemos mais! Mas… As virtudes e vicissitudes deste crescimento devem ser pesadas. Em uma balança que contemple todas as características necessárias para tal. A importancia da adesão de novas lideranças de massas com certeza é fundamental. Mas um contraponto deve ser pensado. Um partido com experiência de anos em sua formação ideológica pode ceder espaço na condução efetiva de sua direção, em todos os níveis? Em nome do crescimento e da organização interna, creio que não.
Seria um contrassenso, se me colocasse contra a expansão do PCdoB, mas o que argumento aqui é que, em uma sociedade dita “liberal”, onde o democratismo é uma ideia-força, a percepção social-democrata como forma de organização partidária está presente na maioria da militância de esquerda. E estes militantes, ao aderirem ao Partido, trazem consigo estes velhos vícios e, em boa medida, negam a necessidade do centralismo como algo anacrônico, oposto à visão “deles” do que seja democracia. Esta visão social democrata passa a ser assimilada e quando não, implantada em níveis de direção, como reflexo de uma nova base de militância, distante da realidade comunista apesar da boa vontade.
A questão do pragmatismo está colocada no item 117 de maneira apropriada, que rebaixa a importância da discussão política em prol de uma “outra” abordagem. Mas como ainda estamos na balança, do outro lado se toca no dogmatismo, que serviria como freio, em uma atitude defensiva contra as mudanças. Mas questionar estas mudanças, no que elas acarretam de retrocesso na linha de conduta do Partido, é dogmatismo? Será? Visto assim poderia ser chamado de dogmático, mas não me sentiria ofendido.
O PCUS, em seu 20° Congresso, ao fazer uma flexão na sua proposta de alcance partididário, formulou a consigna: Partido de todo o povo. Quem poderia se colocar contra esta visão? Os dogmáticos? Que não iriam aceitar modificações de caráter mais profundo na vida do partido? Mas a resultante não foi o de um alargamento das fronteiras organizativas? Além até do que seria prudente?
No item 119, o Partido aponta os rumos para o enfrentamento destas vicissitudes. Citando aqui um trecho:
“As maiores respostas dadas às vicissitudes foram as de tratar de maneira combinada três formas de luta entrelaçadas para acumular forças em caráter estratégico, portanto revolucionário, sem unilateralismos: a luta social de massas, a luta política-eleitoral e a luta de ideias, todas elas com caráter político. Junto a isso, disputar ativamente as bases sociais fundamentais, a saber, os trabalhadores, a juventude e as mulheres. E seguir aprimorando o centralismo democrático, para um partido com liberdade de opinião e unido na ação concreta em cada caso.”
A formulação apresentada aponta claramente o rumo a seguir, sem sombra de dúvidas. Porém, mais uma vez alerto, uma nova base se faz presente em nosso meio e tem uma visão ainda não elaboradada da militância comunista. Uma visão social-democrata, que se apresenta desde uma forma de organização não leninista, passando pela primazia da luta político-eleitoral, como resultado de sua militancia anterior à filiação ao PCdoB.
Como se contrapor a isto? A resposta vem de pronto: Formação. Na disputa das bases sociais que são fundamentais para a luta e que são o nosso maior patrimônio: trabalhadores, juventude e mulheres. Preparando a fermentação do novo ser humano. E seguir aprimorando o Centralismo Democrático.
Posto assim, temos as ferramentas para encarar esta tarefa, mas precisamos ter a exata compreensão de que os enfrentamentos virão. E que haverá horas em que será necessário enfrentar camaradas, amigos até. Mas que devem se colocar antes como membros de um Partido de orientação marxista-leninista e que tem neste pilar, o centralismo democrático, a sua principal força para enfrentar as verdadeiras vicissitudes.
* Renato Arthur é membro do Comitê Municipal de Santa Inês, Maranhão
** Titulo original: A centralidade do Centralismo Democrático, ou, Dos riscos inerentes ao crescimento partidário em uma sociedade “liberal”